Importação de produtos chineses bate recorde e governo liga sinal de alerta

A entrada de produtos chineses no Brasil bateu recorde nos cinco primeiros meses deste ano e levou o governo a acender o sinal de alerta e renovar medidas de defesa comercial.

O receio das autoridades brasileiras aumentou diante da possibilidade de redirecionamento das exportações chinesas ao Brasil, em meio aos crescentes atritos comerciais entre Pequim e Washington.

O próprio vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, afirmou que está “olhando com uma lupa” para as importações.

“A indústria precisa estar atenta para que esse movimento não resulte numa enxurrada de produtos seja despejada no Brasil. Estamos com uma lupa nas importações. É defesa comercial total. Não é protecionismo, mas sim proteção legítima”, disse em evento realizado pelo setor industrial no final de maio.

De janeiro a maio, o Brasil importou US$ 29,5 bilhões em produtos chineses, contra US$ 23,3 bilhões no mesmo período de 2024 — um aumento de 26%.

Já no lado das exportações brasileiras para Pequim, houve uma queda de cerca de 10% no mesmo período.

É importante destacar que, em fevereiro, o Brasil importou da China uma plataforma de petróleo avaliada em US$ 2,6 bilhões. Esse tipo de compra pontual impacta diretamente a balança comercial entre os dois países.

Por causa desse peso específico, a balança comercial brasileira chegou a registrar um raro déficit de US$ 300 milhões no mês.

Entre os produtos importados que somaram mais de US$ 500 milhões nos cinco primeiros meses, os maiores aumentos ocorreram em insumos químicos e fertilizantes, cujas compras dobraram, além de compostos organo-inorgânicos e compostos heterocíclicos, substâncias utilizadas na fabricação de medicamentos, defensivos agrícolas e aditivos industriais.

Apesar disso, esses itens não estão entre os que preocupam o governo federal. O foco de monitoramento está voltado, principalmente, para as importações de aço e veículos elétricos chineses — justamente as maiores demandas da indústria nacional em termos de proteção comercial.

Há mais de um ano, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) tenta convencer o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic) a antecipar o aumento da tarifa de importação de veículos elétricos. Atualmente em 18%, a alíquota será de 35% em julho de 2026.

Do outro lado, os chineses têm pressionado por uma redução das tarifas. Até o momento, não houve uma resposta do governo para nenhum dos pelitos.

As importações de aço, uma preocupação antiga da indústria brasileira, tornaram-se ainda mais sensíveis após o governo do presidente Donald Trump impor tarifas de importação sobre o produto.

A medida acentuou temores de que a China busque outros mercados, como o Brasil, para escoar seu excedente de produção. A indústria do aço, no entanto, vem sendo respondida pelo governo.

No início de junho, o Departamento de Defesa Comercial (Decom) do MDIC abriu investigação sobre as exportações de 25 grupos de produtos siderúrgicos (classificados por NCMs, a nomenclatura comum do comércio exterior) da China. Esta é a maior investigação já realizada na história do Decom em número de NCMs envolvidos.

A apuração, que busca identificar prática de dumping, quando um país vende produtos no exterior a preços inferiores aos praticados internamente, foi oficializada no Diário Oficial da União na última segunda-feira (2).

Além disso, no final de maio, a Câmara de Comércio Exterior (Camex), vinculada ao Mdic, decidiu renovar a alíquota de 25% do imposto de importação para 19 tipos de aço e ampliá-la para outros quatro códigos NCM. Com isso, a taxação passa a atingir 23 produtos e terá validade pelos próximos 12 meses.

Como a entrada de aço chinês pode afetar a indústria nacional?

Na prática, a entrada em massa de aço chinês no Brasil, muitas vezes a preços abaixo do praticado no mercado local, torna o produto importado mais barato do que o nacional. Isso é o que a indústria chama de dumping.

Com isso, empresas brasileiras perdem competitividade: têm dificuldade para vender, reduzem produção, cortam empregos e, em casos extremos, fecham fábricas.

Por exemplo, se uma siderúrgica brasileira vende a tonelada do aço por R$ 6.500, mas o produto chinês chega a R$ 5.500 (com qualidade similar), fabricantes de carros, eletrodomésticos e construção civil tendem a escolher o mais barato.

É justamente por isso que o governo impõe as tarifas de importação, como uma medida de proteção à indústria nacional, na tentativa de equilibrar a competição.

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