
Estudiosos da Unicamp iniciaram análise para identificar causas da malformação. Sapos são encontrados com falta de dedos das mãos e dos pés, ausência de pernas, além de problemas de visão. Sapo com pé com deformidade
Felipe Toledo/Acevo pessoal
Os sapos de Fernando de Noronha têm a maior taxa de deformidade no mundo. A constatação foi feita pelos pesquisadores da Universidade de Campinas (Unicamp), que realizam estudo dos anfíbios da ilha há 15 anos. A nova fase da pesquisa quer descobrir os motivos da malformação.
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Os estudiosos cruzaram dados dos sapos cururus, que têm nome científico Rhinella diptycha, e concluíram que em outras localidades a malformação chega a 20%, enquanto em Noronha esse índice atinge 50% da espécie.
“Essa é uma espécie introduzida, é o maior percentual de deformidade do mundo. Em outros locais, como o Caribe, esse percentual varia entre 10% e 20%, o que já é alto. No continente, o índice de malformação é de cerca de 5%, uma percentagem natural até para o ser humano”, declarou o biólogo Felipe Toledo, que é professor da Unicamp.
Os animais são encontrados com falta de dedos nas mãos e pés, ausência de pernas, além de problemas de visão.
Sapo com problema no olho
Felipe Toledo/Acevo pessoal
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Motivos
A nova fase da pesquisa quer identificar os motivos dessas deformações. “Vamos analisar a água onde esses animais se reproduzem, no solo analisaremos contaminantes químicos e dados dos animais. Vamos estudar músculos, fígados e outras áreas do sapo”, informou Felipe Toledo.
Uma das possibilidades é a contaminação da água onde vivem esses animais. “O sapo pode ser um bioindicador que existe algum problema na água de Noronha, pode ser que a gente precise remediar esse problema, caso a gente identifique. Vamos monitorar locais específicos onde os sapos se reproduzem”, falou Toledo.
Plástico
As análises iniciais também identificaram que os sapos da ilha têm se alimentado, entre outros itens, de plástico.
“Nós encontramos plástico no estômago dos sapos que analisamos nessa visita à Noronha. A quantidade de plástico encontrada nos animais é sem precedentes. Essa é a primeira vez que identificamos isso. Se tem no sapo, tem em outros animais que se alimentam na região do mangue, como as aves marinhas. Isso é preocupante”, declarou o pesquisador.
Plástico foram encontrados no estômago dos sapos
Felipe Toledo/Acevo pessoal
A pesquisadora da Unicamp, Mariana Carvalho, também participa do estudo. Ela vai analisar o material recolhido nos animais de Fernando de Noronha.
“Vou fazer análises químicas da água e do solo para tentar identificar poluentes metálicos e orgânicos por diversos motivos, inclusive pelos microplásticos. Vou analisar os órgãos dos animais, para saber se eles passam por algum estresse ou se estão expostos a algum contaminante”, falou Mariana Carvalho.
A estudiosa também acredita que os problemas podem ser causados por mais de uma questão.
“A minha teoria é que a malformação envolve o problema de endemismo. Por conta da região insular, esses sapos têm pouca possibilidade de cruzarem com algum organismo diferente, isso pode ampliar a chance de deformidade. Aliado a isso, deve acontecer algum problema ambiental”, indicou a pesquisadora.
Educação ambiental
Os trabalhos realizados em Fernando de Noronha serão divulgados na palestra que será realizada nesta segunda (9), no Centro de Visitantes do Projeto Tamar, a partir das 19h, com entrada gratuita.
Os pesquisadores vão apresentar os dados e, ainda, um desenho animado, com uma paródia da música De repente Califórnia, que conta de forma bem-humorada os resultados da pesquisa (veja vídeo abaixo).
“Nós produzimos o vídeo para contar sobre nosso estudo. As crianças gostam e cantam a música com a história da pesquisa. É uma divulgação científica e funciona também como educação ambiental”, contou Felipe Toledo.
Clipe com desenho animado relata pesquisa com sapos em Fernando de Noronha
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