Exames pré-natais podem identificar doença cardíaca e salvar vidas de bebês

A cardiopatia congênita é uma condição caracterizada por defeitos que ocorrem na estrutura do coração durante a formação do feto. O termo “cardiopatia” diz respeito à doença do coração, enquanto “congênito” se refere a algo que vem desde o nascimento. Segundo o Ministério da Saúde, a condição está presente em um a cada 100 recém-nascidos vivos, e é uma das principais causas de morte na primeira infância.

Por isso, é reconhecido nesta quinta-feira (12) o Dia de Conscientização da Cardiopatia Congênita, com o objetivo de alertar a população para a importância do diagnóstico precoce da condição, que pode ser feito em exames pré-natais.

De acordo com Marina M. Zamith, coordenadora da área de Ecocardiografia Fetal e Neonatal do Hospital e Maternidade Santa Joana, as cardiopatias podem causar atrasos no desenvolvimento físico e ganho de peso do bebê, limitar as atividades físicas da criança e predispor a maior número de infecções pulmonares.

“Cardiopatias mais graves podem comprometer o desenvolvimento neurológico e de outros órgãos, além de colocar em risco a vida da criança”, afirma a especialista à CNN.

Em casos mais complexos, que não são diagnosticados precocemente ou que sofreram atraso no tratamento, a doença pode levar ao óbito. “As obstruções graves de fluxo que se direcionam ao pulmão, como na estenose pulmonar grave ou atresia da valva pulmonar, ou do fluxo para o corpo, como estenose aórtica grave, coarctação da aorta e hipoplasia do coração esquerdo, necessitam de tratamento imediato”, alerta Zamith.

Segundo a especialista, a transposição das grandes artérias (TGA), situação em que as artérias originam dos ventrículos errados, ou seja, houve uma troca na sua posição, é a cardiopatia cianótica mais comum nos bebês e a cirurgia deve ser feita na primeira semana de vida para corrigir totalmente esse grave defeito de formação.

Causas e sintomas de cardiopatia congênita

Existem múltiplos fatores que podem levar à cardiopatia congênita. Segundo Zamith, as malformações cardíacas podem ter origem genética associada a alterações cromossômicas ou dos genes, ser originadas devido a doenças maternas, como diabetes, ou por uso de certas medicações. “Na maioria dos casos diagnosticados de malformações cardíacas, não há uma causa específica”, afirma.

Os sintomas mais comuns de bebês que nascem com cardiopatia incluem a cianose (pele e lábios roxos), decorrente do nível baixo de oxigênio na circulação arterial, palidez por diminuição do volume sanguíneo na circulação ou respiração mais rápida.

Como é feito o diagnóstico?

“A suspeita do diagnóstico de defeito cardíaco pode ocorrer durante a realização do ultrassom obstétrico, porém depende muito da expertise do profissional e do equipamento que ele está utilizando. A posição desfavorável do feto e a obesidade materna são fatores que podem prejudicar a identificação de problemas cardíacos nessa fase”, afirma Zamith.

“O coração é um órgão bem complexo composto por veias, artérias, válvulas, cavidades (átrios e ventrículos) e os septos que dividem essas câmaras cardíacas. Todas essas estruturas devem estar na posição normal e com fluxos e funcionamento adequados. Por isso, necessita de um especialista em exames do coração fetal para uma avaliação precisa”, acrescenta.

Segundo a especialista, o melhor exame para o diagnóstico de cardiopatia congênita no pré-natal é a ecocardiografia fetal, com mais de 90% de chance de diagnóstico. O exame deve ser recomendado na rotina de pré-natal.

O diagnóstico também pode ser feito após o nascimento, por meio do exame físico feito pelo neonatologista. “Em todos os berçários do Brasil, é obrigatório a realização do teste do coraçãozinho, que mede a oximetria nos membros superiores e inferiores e pode detectar a oxigenação mais baixa mesmo em bebês que ainda não manifestaram sinais ou sintomas”, afirma Zamith.

Segundo a especialista, a sensibilidade do exame em detectar cardiopatias cianóticas é de aproximadamente 75%. “Se o bebê tiver sinais clínicos ou teste do coraçãozinho alterado, a ecocardiografia deve ser realizada para avaliar toda a anatomia e fluxos sanguíneos do coração. Se não houve sintomas ou teste do coraçãozinho alterado, ainda assim algumas cardiopatias podem se manifestar na infância e o pediatra deverá encaminhar para o cardiologista pediátrico que irá solicitar os exames necessários”, esclarece.

Como é feito o tratamento?

A maioria dos casos de cardiopatia congênita necessita de cirurgia ou de cateterismo cardíaco para corrigir os defeitos na formação do coração e propiciar o desenvolvimento adequado da criança.

Em aproximadamente 50% das cardiopatias, a correção deve ser feita no primeiro ano de vida. Outras podem ter acompanhamento clínico inicial e aguardar o melhor momento para a cirurgia. As cardiopatias mais complexas podem necessitar de mais de uma correção cirúrgica em etapas diferentes da vida da criança, segundo Zamith.

“São poucas as cardiopatias que têm a opção de correção intrauterina. As obstruções graves da valva aórtica e pulmonar (estenose) podem se beneficiar da intervenção durante a gestação em casos selecionados. Nestes casos, a intenção é prevenir danos mais graves aos ventrículos submetidos ao esforço e pressão durante a vida intrauterina e, assim, ter resultados melhores após o nascimento”, finaliza.

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