Em “Vale Tudo”, novela das 9, o personagem Renato (João Vicente) desmaiará em meio a uma crise de estresse profundo em relação ao trabalho. Fora da dramaturgia, o quadro enfrentado pelo personagem afeta trabalhadores em todo o mundo e é denominado como burnout.
Nos próximos capítulos da trama, Renato precisará ser afastado do trabalho.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) reconhece o burnout como um fenômeno ocupacional, caracterizado por exaustão física e emocional causadas por estresse crônico no trabalho. Para Leonardo Loureiro, especialista em gestão emocional e educação empresarial, trata-se de uma “condição marcada pela despersonalização e baixa produtividade, que leva ao esgotamento completo”, diz, à CNN.
A psicóloga Amanda Carvalhal vai além e define o burnout como um colapso da função psíquica: “É como se o sujeito perdesse a capacidade de investir energia psíquica no trabalho, rompendo com seu desejo e propósito”, conta a profissional, em entrevista à CNN.
Segundo pesquisas realizadas pela ISMA-BR (International Stress Management Association no Brasil), 30% dos profissionais brasileiros sofrem de burnout.
O desmaio de Renato ilustra um limite extremo. Para Loureiro, o colapso é um “desarme de disjuntor”, o corpo dizendo “é preciso parar”. Amanda Carvalhal ainda interpreta o episódio como uma “falência simbólica”, quando o corpo fala no momento em que a mente não dá conta.
Antes do desmaio, há sinais ignorados, que podem ser insônia, cansaço constante e irritabilidade.
Burnout só acontece por conta do trabalho?
Embora o burnout tenha origem no ambiente profissional, a vida pessoal exerce influência direta. Como explica Fernanda Paiva, à CNN, especialista em comportamento humano, “ninguém adoece apenas por um fator. Corpo, mente e emoções estão o tempo todo em diálogo com o conjunto da vida”. O caso do personagem Renato, que enfrentava uma traição afetiva pode ilustrar tal sobrecarga.
Leonardo Loureiro reforça que problemas pessoais potencializam o quadro: “O burnout nasce no trabalho, mas é agravado por fatores como crises amorosas ou dificuldades financeiras”.
Cuidado contínuo
“Tratar burnout é um processo que exige cuidado contínuo e compromisso com a mudança”, pontua Fernanda Paiva.
“Estudos da McKinsey apontam que empresas com culturas emocionalmente seguras reduzem em até 76% o risco de burnout. E a Norma Regulamentadora (NR-1)reforça que a prevenção começa antes da crise, direcionando para que as organizações não apenas possuam boas intenções, mas apliquem escuta ativa, planejamento e monitoramento constante dos riscos psicossociais presentes no ambiente de trabalho”, continua a especialista.
Para Amanda Carvalhal, o tratamento passa por um mergulho interno: “O sujeito precisa entender o que está em jogo na sua relação com o trabalho, com a culpa, com a necessidade de aprovação. É preciso escutar, elaborar e transformar.”
“Isso mostra que prevenir o burnout não é apenas sobre ‘reduzir pressão por resultados’, mas sobre criar culturas organizacionais respeitosas e emocionalmente saudáveis, onde existam ações efetivas de incentivo ao bem-estar e a segurança psicológica. Essas medidas fornecem espaço para que os funcionários possam integrar as complexidades da vida pessoal e profissional”, ressalta Fernanda Paiva.
Além disso, cuidados diários com o corpo, estratégias emocionais de enfrentamento e o encerramento do ciclo de estresse são pilares fundamentais. Se Renato voltar ao mesmo ambiente, sob as mesmas pressões, o ciclo irá se repetir.
Por fim, Loureiro defende um retorno com limites bem definidos, apoio psicológico e cuidado com o corpo físico. “Exercício físico, por exemplo, é fundamental para reequilibrar o eixo hormonal”, afirma.
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