Israel ataca Irã e explode acordo nuclear do aliado EUA

O ataque era previsto há semanas, mas nos últimos dias, o assunto se tornou tão sério que os EUA convocaram o pessoal diplomático não essencial a deixar a região. No momento em que os militares israelenses finalmente atacaram o Irã, na noite de quinta-feira — madrugada de sexta-feira em Teerã — os EUA e o Irã estavam a apenas três dias de uma sexta rodada de negociação nuclear, marcada para acontecer em Muscat, Omã.

As bombas foram lançadas, e muitas perguntas ficaram no ar. Qual vai ser a agressividade da resposta que o Irã prometeu? O objetivo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, era atrapalhar as negociações nucleares? O presidente dos EUA, Donald Trump, vinha perseguindo uma diplomacia obstinada com o Irã, mas sequer tentou deter Israel?

No que chamou de “ataque preventivo”, as forças militares israelenses atacaram instalações nucleares iranianas, como a de Natanz, o programa de mísseis balísticos, cientistas nucleares, e oficiais militares importantes. Entre eles estavam o major-general Hosseim Salami, chefe do Corpo de Guardas da Revolução Islâmica; o major-general Mohammad Bagheri, chefe do Estado-Maior; e Ali Shamkhani, assessor do líder supremo aiatolá Ali Khamenei.

Considerando que o Irã não havia demonstrado nenhum preparativo para atacar Israel, nem feito ameaças militares, o “ataque preventivo” certamente foi ilegal pelo direito internacional — não que Netanyahu tenha demonstrado especial preocupação com essas sutilezas.

‘Segundo Netanyahu, a operação vai continuar. Presume-se que isso significa guerra.’

Independentemente dos danos sofridos pelo Irã na madrugada de ataques, Netanyahu declarou em um pronunciamento que a operação contra o programa nuclear do Irã vai continuar até que ele esteja convencido que a ameaça que ele representa foi eliminada. Presume-se que isso significa guerra — e que será cada vez mais difícil para os EUA ficarem de fora, especialmente para defender Israel diante da retaliação iraniana.

Ainda não se sabem os números exatos de vítimas dos ataques, mas as imagens de Teerã mostram vários edifícios residenciais danificados, e explosões em toda a capital.

Além das autoridades militares, várias figuras importantes de círculos nucleares e acadêmicos foram mortas, como o presidente da Universidade Azad, Mohammad, Teheranchi, físico teórico; Fereydoon Abbasi, político e ex-presidente da Organização de Energia Atômica; e o general Gholamali Rashid, comandante do Quartel-General Central Khatam-al Anbiya, o comando militar unificado do Irã.

Antes do ataque, Israel já havia telegrafado seus planos com vazamentos para a imprensa — e Trump enfrentou perguntas de um repórter sobre o assunto, na quinta-feira. O presidente dos EUA insinuou que um ataque poderia acontecer a qualquer momento, embora tenha insistido que preferia a diplomacia. Parece claro pela resposta de Trump até agora que, embora os EUA possam não ter dado sinal verde a Netanyahu para o ataque, não o impediram de prosseguir.

Sua resposta ao repórter foi reveladora: Trump disse que um ataque de Israel poderia “explodir” as negociações planejadas entre o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, e o ministro iraniano das Relações Exteriores, Abbas Araghchi, mas acrescentou que o ataque também poderia ser útil.

Trump pode ter pensado que um ataque daria aos EUA maior vantagem sobre um Irã enfraquecido e castigado. É impossível saber se o próprio Trump teve essa ideia, ou se ela surgiu na reunião que teve sobre a questão nuclear iraniana com sua equipe de política externa em Camp David, no domingo.

Independentemente disso, se a ideia for séria, ela demonstra um problema fundamental de compreensão sobre o Irã, que tem ainda menos chances de comprometer seu programa nuclear agora do que teria antes do ataque.

Netanyahu provavelmente entende melhor os iranianos que o governo Trump. Parece provável que o governante israelense tenha decidido atacar o Irã, não para dar maior vantagem a Trump e Witkoff, mas para encerrar as negociações de uma vez por todas.

Surpreendido pelo anúncio de Trump no início deste ano, de que os EUA iniciariam negociações diretas com o Irã, Netanyahu parece determinado desde então a sabotar a possibilidade de um novo acordo nuclear.

Apoiado pelos mais tenazes apoiadores de Israel no Congresso dos EUA, Netanyahu exigiu que o resultado das negociações fosse um desmonte completo do programa nuclear iraniano — o que ele sabe bem que é inaceitável para o Irã — e ameaçou ação militar se esse objetivo não fosse atingido.

O ataque israelense, no final das contas, pode ter consequências muito mais extensas, e dinamitar não apenas as negociações, mas qualquer possibilidade de um entendimento entre os EUA e o Irã.

Nesse sentido, Netanyahu já atingiu seu objetivo. Ainda que haja mais negociações, a ideia de “sucesso” que Trump havia apresentado para o Irã — em paz e integrado à economia mundial — agora certamente explodiu.

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