O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), teria usado o perfil do Instagram @gabrielar702 para, além de enviar mensagens de texto, fazer ligações de vídeo e trocar áudios.
Segundo reportagem da revista Veja publicada nesta sexta-feira (13), o militar teria enviado mais de 200 mensagens em um intervalo de 40 dias.
De acordo com a publicação, o material mostra que o militar enviava ainda fotos, links de reportagens críticas ao STF, momentos íntimos da família e até imagens próprias dele enquanto estava em casa.
A divulgação das novas mensagens ocorreu no mesmo momento em que o ministro Alexandre de Moraes — do Supremo Tribunal Federal (STF) — determinou que a Meta (dona do Instagram) apresente informações, no prazo de 24 horas, sobre o perfil que supostamente teria sido usado pelo militar.
Numa das mensagens atribuídas a Cid replicadas na nova reportagem, o militar detalha as estratégias dos advogados Cezar Bitencourt e Jair Alves Pereira, que atuam em sua defesa no STF.
Em outros trechos das conversas, o tenente-coronel parece se indignar com o processo de delação conduzido pela Polícia Federal. “Eu queria dar uma entrevista. Estou me coçando…”, diz a mensagem atribuída a Cid, supostamente teorizando sobre quais veículos de imprensa poderia procurar para dar a sua versão dos fatos.
No interrogatório a que foi submetido nesta semana no STF, o ex-ajudante de ordens afirmou que não usou redes sociais no período em que estava sob medidas restritivas.
Cid, ao ser questionado pelo advogado Celso Vilardi, que representa Bolsonaro, se fez uso de um perfil no Instagram que não está no nome dele, respondeu desconcertado que “não”. “Todos os meus celulares foram apreendidos”, completou.
Vilardi então pergunta se Cid “conhece um perfil chamado @gabrielar702?”. Cid responde: “Esse perfil, eu não sei se é da minha esposa”.
Ao fazer as perguntas, ainda segundo a revista, Vilardi sabia que Cid havia desrespeitado ao menos duas determinações impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo no STF — e as provas de que isso de fato aconteceu estão no conjunto de mensagens.
Por ser réu colaborador, o militar se comprometeu a falar a verdade, sob pena de ter a delação anulada e perder benefícios.
Segundo Veja, o ex-ajudante de ordens também usou o referido perfil para tratar da delação premiada, em que é colaborador.
“Não, é assim, dia 11 de março, às 10 horas, compareceu o colaborador Mauro César Barbosa Cid para falar sobre os atos golpistas, investigação de atos golpistas referente à reunião do dia 2 de março. Ponto. Aí ele fala: onde foi a reunião e quem participou? Eu falava, isso, isso, isso. O que foi concluído na reunião? Ele falou assim: eu não tenho conhecimento do que foi concluído na reunião. Você começou e tal, então corta, era assim. Encerra agora essa parte da coisa. Ele cortava. Aí a gente fala, agora o assunto vai ser general Braga Netto”, cita como exemplo.
Outro lado
A defesa do ex-ajudante de ordens já havia reiterado que Cid não usou rede social durante o período em que estava sob medidas restritivas. E alega que tais mensagens são falsas. Hoje, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão na casa de Cid, que também prestou depoimento na sede da PF, em Brasília.
Procurada pela CNN, a defesa de Mauro Cid respondeu que não se manifestará sobre nova reportagem da Veja e aguarda a investigação determinada pelo ministro Alexandre de Moraes sobre a responsabilidade do perfil, pedido pelos próprios advogados o ex-ajudante de ordens.