Mulher indígena, mãe, pesquisadora e ativista, Braulina Baniwa é uma das principais vozes na defesa dos direitos dos povos originários na Amazônia, especialmente, das mulheres indígenas.
Doutoranda em Antropologia Social na Universidade de Brasília (UnB), ela atua em diversas frentes, como a sociobioeconomia, a ciência das mulheres indígenas, o enfrentamento à violência política de gênero e o cuidado com o corpo-território como forma de resistência.
Em entrevista à CNN Brasil, Braulina falou sobre os principais desafios para que as mulheres indígenas tenham suas vozes respeitadas nos debates ambientais e econômicos, a importância da COP30 ser realizada na Amazônia, e o papel das novas gerações indígenas na manutenção da cultura e da resistência.
Você traz no seu relato a importância da voz das mulheres indígenas na sociobioeconomia da Amazônia. Quais são os principais desafios para que essa voz seja efetivamente respeitada?
A gente está na construção de que essa proposta de fato valorize as mulheres a partir dos territórios. Ao mesmo tempo, ela mostra para o mundo que os povos indígenas produzem, mas produzem da forma como eles entendem. Porque são materiais que vêm da floresta, não são materiais em produção de campo, mas sim tirados da floresta.
Então, o nosso desafio é fazer com que a economia olhe para a produção dos povos indígenas de forma que também colabore com a renda direta para dentro das casas das mulheres e das famílias.
A economia da floresta depende do conhecimento das mulheres indígenas. Como você vê hoje a participação delas nas decisões ambientais?
Ainda é pouco. Apesar de a gente ter uma mulher indígena na plataforma, que está coordenando diretamente nos espaços internacionais, ainda estamos caminhando para que nossa voz e fala sejam fortalecidas em diferentes lugares.
Então a gente continua nesse processo de formação de liderança de mulheres na Amazônia, e de fortalecê-las em diferentes espaços, seja na academia, na produção ou na representação política.
Na sua opinião, qual é o papel das parcerias com bancos, empresas e organismos internacionais nesse processo de fortalecimento da sociobioeconomia indígena?
Para essas instituições, antes de tudo, nós estamos à disposição para construir políticas e projetos que dialoguem com a nossa realidade.
Porque não tem como pensar um projeto feito em São Paulo para ser aplicado no Amazonas. Não tem como. São diferentes territórios, são diferentes logísticas. Então que essas propostas de financiamento e de projetos sejam construídas com a nossa participação.
A COP30 será em Belém, no coração da Amazônia. Qual é a importância desse evento acontecer no estado do Pará e qual deveria ser o papel dos povos indígenas nesse debate sobre clima e bioeconomia?
No âmbito nacional, os povos indígenas têm se colocado, têm se desafiado como resposta para todos esses processos climáticos. Mas, ao mesmo tempo, acho que é o momento de olhar para a Amazônia como um processo de cuidado.
A Amazônia passa por muitas violações e violências. E não é só falar, por isso que eu digo: não precisa continuar romantizando a Amazônia. Porque hoje, a Amazônia está em um processo de violência. Então vai ser uma oportunidade também de denunciar para o mundo que a Amazônia está sendo violentada.
Que mensagem você deixa para meninas e mulheres indígenas que lutam para ocupar seus espaços e manter viva a cultura?
Que carreguem com elas a nossa ciência, porque ela existe. Essa ciência do cuidado é superimportante para o corpo delas, para o território delas. Para que a gente fortaleça cada vez mais o nosso espaço de voz e de fala.