Boxeadora argelina não é mulher trans, homem e desistência de adversária não tem relação com gênero

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Boato – A boxeadora da Itália Angela Carini desistiu da luta nas Olimpíadas porque sua adversária, a argelina Imane Khelif, é mulher trans (um homem)

Análise

Uma ocorrência em uma luta nas oitavas de final do boxe feminino nas Olimpíadas gerou muita polêmica na internet. Depois de 46 segundos, a lutadora italiana Angela Carini desistiu da luta contra a argelina Imane Khelif. O que poderia ser um caso de “nocaute relâmpago” virou uma questão de gênero (e política).

Mensagens que circulam na internet apontam que a desistência se deu porque Imane Khelif seria uma atleta trans. Em outras palavras, seria um homem que está disputando a competição entre mulheres. Leia algumas das mensagens que circulam na internet:

Versão 1: Um homem nascido que se diz mulher hoje simplesmente detonou uma mulher nascida no boxe nessa Olimpíadas. Mundo insano que vivemos onde normalizaram isso. Versão 2: Uma lutadora de box desistiu da luta em menos de 10 segundos, porquê? O adversário dela é uma mulher-trans. É impossível defender isso. #Olimpiadas2024

Checagem

Há muitas coisas a se explicar em toda a história. Para realizar a checagem do conteúdo, vamos verificar algumas informações que serão respondidas nas seguintes perguntas: 1) A boxeadora argelina Imane Khelif é uma mulher trans ou um homem? 2) A italiana Angela Carini desistiu da luta porque a atleta adversária é uma mulher trans ou homem? 3) É um absurdo a boxeadora argelina ser aceita nas Olimpíadas?

A boxeadora argelina Imane Khelif é uma mulher trans ou um homem?

Tecnicamente falando, não é. Imane Khelif uma mulher cisgênero, que nasceu como mulher. Para ser uma trans, ela teria que ter nascido como homem (com o órgão sexual masculina) e se reconhecer como mulher. A partir daí, ela teria que fazer um processo de ressignificação sexual (com medicação e até uma cirurgia).

A questão com Imane Khelif é outra: ela é uma pessoa intersexo (antigamente chamada de hermafrodita). Ela é do sexo feminino, mas tem cromossomos (e geração de testosterona) compatíveis com o sexo masculino. O próprio Comitê Olímpico Argelino desmentiu a informação:

Os transgêneros não são reconhecidos na Argélia e são ilegais desde 1966, portanto não há possibilidade de o Comitê Olímpico Argelino ter um atleta transgênero para as Olimpíadas de Paris. Imane Khelif sempre foi uma mulher e há provas suficientes para apoiar isto.

Eduque-se sobre o hiperandrogenismo, uma condição médica defendida no campo jurídico e humano por Caster Semenya (campeão mundial e olímpico sul-africano). E também, gostamos com orgulho das suas lágrimas, dê-nos mais, são deliciosas

|DEBUNK|

Transgender are not recognized in Algeria and illegal since 1966, so there is no possibility that the Algerian Olympic Committee would have a transgender athlete for the Paris Olympics.

Imane Khelif has always been a woman, and there is sufficient evidence to support… https://t.co/8L4SsE5fpS pic.twitter.com/m9qvOBnnOc

— Union Algérienne ︎ (@UnionAlgerienne) August 1, 2024

A italiana Angela Carini desistiu da luta porque a atleta adversária é uma mulher trans ou homem?

Não. Primeiro, porque, como explicamos, a argelina não é uma mulher trans ou um homem. Mesmo se considerarmos a condição real de Imane Khelif, é falso que a desistência tenha se dado por ela ser intersexo. O que houve foi uma desistência por conta dos golpes sofridos. Ou seja: não é algo direto.

É um absurdo a boxeadora argelina ser aceita nas Olimpíadas?

É polêmico. Isso porque Imane Khelif havia sido banida de competir internacionalmente pela Associação Internacional de Boxe (IBA). Ela só pode lutar nas Olimpíadas porque o Comitê Olímpico Internacional (COI) suspendeu o órgão por supostas falhas de integridade e transparência. Com isso, suas decisões não foram mais válidas.

A IBA, em nota, reafirmou que Imane Khelif (e a chinesa Lin Yu-ting) foram suspensas por, supostamente, levar vantagem perante adversárias. Também fez críticas ao COI por permitir a participação delas.

Conclusão

Fake news

De fato, há uma questão de competição que gerou polêmica. Porém, é falso que a lutadora argelina Imane Khelif seja uma mulher trans ou um homem e que Angela Carini, da Itália, desistiu de uma luta por isso.

Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610).

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