MP denuncia funcionário de clínica à Justiça por tortura e morte de paciente na Grande SP


Matheus Pinto é acusado de torturar e matar Jarmo Santana, no começo de julho. Monitor trabalhava Comunidade Terapêutica Efata, em Cotia. Justiça pode tornar funcionário réu. Funcionário Matheus de Camargo Pinto (à esquerda) é acusado de amarrar e torturar o paciente Jarmo Celestino de Santana (no meio e à direita). Ele morreu após as agressões
Reprodução
O Ministério Público (MP) denunciou nesta semana o funcionário da clínica de terapia para usuários de drogas em Cotia, na Grande São Paulo, acusado de torturar um paciente até a morte no início do mês.
Caso a Justiça aceite a denúncia, Matheus de Camargo Pinto se tornará réu no processo pela tortura e morte de Jarmo Celestino de Santana.
Matheus responde ao crime preso preventivamente. Ele tem 24 anos e era monitor da Comunidade Terapêutica Efata, em Cotia, havia duas semanas.
Jarmo tinha 55 anos e era paciente da clínica. Ele estava internado à força por decisão da família, desde 5 de julho. A morte dele foi confirmada no dia 8 de julho, quando acabou levado ferido, por funcionários da Efata, a um hospital em Vargem Grande Paulista, outro município da região metropolitana.
A vítima apresentava diversas lesões de agressões pelo corpo, não resistiu aos ferimentos e faleceu, segundo os médicos. O Instituto Médico Legal (IML) ainda não conseguiu apontar a causa da morte de Jarmo. O laudo necroscópico inicial foi inconclusivo. Os peritos médicos ainda aguardam resultados de exames toxicológicos para ajudar a saber exatamente o que o matou.
Mesmo assim, a Polícia Civil e o Ministério Público concluíram que Jarmo morreu em razão das agressões que sofreu ao ser torturado por Matheus.
Matheus confessou aos policiais que bateu no paciente para contê-lo porque ele estava “transtornado psicologicamente” e em “surto”. O funcionário foi indiciado pela Polícia Civil por “tortura seguida de morte”.
Funcionário disse que teve ajuda
Paciente é torturado e morto em clínica na Grande SP
Além da confissão, Matheus afirmou no seu interrogatório à polícia que teve a ajuda de outras pessoas para imobilizar Jarmo. Falou que o casal Cleber Fabiano da Silva e Terezinha de Cássia de Souza Lopes da Conceição, que são enfermeiros e donos da Comunidade Efata, o ajudaram a conter o interno. A defesa dos dois nega e alega que eles não viram e nem participaram da tortura.
Matheus também disse à investigação que outras quatro pessoas (sendo quatro agentes de remoção de pacientes de uma empresa terceirizada e dois monitores da clínica) participaram diretamente das agressões contra o paciente. Segundo ele, o grupo ainda deu remédios para o interno ficar calmo.
Apesar disso, o relatório final da polícia e a denúncia do MP só apontaram Matheus como o único autor da tortura que matou Jarmo.
Acusado gravou tortura e reza
Preso por torturar paciente grava oração com outros internos
Matheus gravou o momento em que Jarmo aparece amarrado com as mãos para trás, preso a uma cadeira (assista mais acima). Nas imagens é possível ver outros quatro jovens rindo e zombando do paciente. Matheus ainda enviou uma mensagem de voz para uma pessoa confirmando ter agredido o interno: “Cobri no cacete”.
Em outros vídeos gravados por Matheus, ele aparece rezando no local com mais internos antes do crime (veja acima também). Jarmo não aparece nas imagens.
O g1 não conseguiu localizar a defesa de Matheus para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem.
Conselho de Enfermagem
Comunidade Terapêutica Efata e um dos donos da clínica, o enfermeiro Cleber Fabiano da Silva
Reprodução/TV Globo
O Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP) também investiga se Cleber e Terezinha, que são enfermeiros, cometeram alguma infração ética e profissional em relação à clínica e ao próprio paciente morto.
As penalidades previstas, em caso de confirmação da infração são: advertência, multa, censura, suspensão temporária do exercício profissional ou cassação do exercício profissional pelo Conselho Federal de Enfermagem.
Segundo a Prefeitura de Cotia, a clínica de terapia era clandestina. Uma equipe da Vigilância Sanitária esteve no endereço, interditou o local e atestou que a clínica particular não tem nenhum tipo de autorização para funcionamento. Os donos alegam o contrário: de que estariam regularizados para funcionar.
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