Caso Isis: Suspeito de matar e ocultar corpo de adolescente grávida desaparecida no Paraná vira réu na Justiça


Isis Victoria Mizerski não foi mais encontrada desde o dia 6 de junho, após se encontrar com Marcos Vagner de Souza, apontado como pai do bebê. Defesa nega que réu esteja envolvido em qualquer crime. Veja cronologia do caso. Isis Victoria Mizerski
Arquivo da família
O suspeito de matar e ocultar o corpo de Isis Victoria Mizerski, adolescente grávida que está desaparecida desde o dia 6 de junho no Paraná, virou réu na Justiça.
O vigilante Marcos Vagner de Souza vai responder por homicídio triplamente qualificado (por feminicídio, dissimulação e motivo torpe), ocultação de cadáver e aborto provocado sem o consentimento da vítima, tendo os crimes no âmbito da violência doméstica.
O homem está preso preventivamente, é apontado como pai do bebê que a jovem esperava e foi o último a se encontrar com ela antes do sumiço, segundo as investigações. Veja cronologia do caso mais abaixo.
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O inquérito sobre o caso foi concluído na sexta-feira (9), quando o delegado Matheus Campos Duarte concedeu uma entrevista coletiva à imprensa com detalhes sobre a investigação e comparou o caso da paranaense ao de Eliza Samudio. A mulher desapareceu em 2010 e nunca teve o corpo encontrado – mas apesar disso, acusados de envolvimento no crime foram condenados, incluindo o ex-goleiro Bruno.
“Não é porque não tem corpo, que não tem crime”, disse o delegado.
No mesmo dia, o Ministério Público (MP) formalizou a denúncia à Justiça, que recebeu o documento e tornou o suspeito réu no domingo (11).
Claudio Dalledone, advogado que representa a família de Isis, explica que agora a próxima fase é a marcação da audiência de instrução e julgamento para que ele seja remetido ao Tribunal do Júri. O advogado afirma acreditar que Marcos seja declarado culpado.
Desde o início das investigações, o advogado de Marcos, Renato Tauille, nega que o homem tenha envolvimento em algum crime relacionado ao desaparecimento da jovem. O g1 questionou o posicionamento da defesa frente ao aceite da denúncia e aguarda retorno.
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Suspeito está preso
Marcos foi preso temporariamente no dia 17 de junho, 11 dias após o desaparecimento da adolescente. A prisão temporária, que venceria no dia 17 de julho, foi prorrogada por mais 30 dias a pedido da Polícia Civil.
Na quinta-feira (8) a Justiça revogou a prisão do homem, porém cerca de 12 horas depois foi expedido mandado de prisão preventiva contra ele. Marcos está detido na Cadeia Pública de Ponta Grossa e seria liberado do local após receber alvará de soltura, mas o novo mandado de prisão saiu antes da expedição do documento.
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Marcos Vagner de Souza, em depoimento à polícia
Reprodução
Cronologia do caso Isis
CONTEXTO
De acordo com o delegado Matheus Campos Duarte, Isis e Marcos tiveram relações sexuais entre abril e maio de 2024 e a adolescente engravidou do vigilante.
Semanas depois, ela começou a desconfiar da gestação e no dia 3 de junho contou para Marcos das próprias suspeitas, afirma o delegado.
As investigações apontam que ele pediu que ela fizesse um teste e, dois dias depois, ela o fez e confirmou a gravidez.
4 de junho: BUSCA POR REMÉDIOS
Vídeo mostra suspeito de desaparecimento de adolescente grávida no Paraná em farmácia
Três testemunhas afirmaram, em depoimento à polícia, que no dia 4 de junho foram procuradas por Marcos, que estava tentando comprar remédios abortivos.
Em depoimento, o homem afirmou que quem pediu o medicamento foi a Isis. Porém, segundo familiares, a adolescente falou para a irmã e para a prima que, apesar de Marcos querer que ela fizesse um aborto, ela tinha a intenção de ter o bebê e estava escolhendo o nome da criança.
Conforme a família, Isis também disse que, no dia em que sumiu, iria sair para se encontrar com Marcos para falar sobre a gravidez.
Cláudio Dalledone, advogado que representa a família de Isis, afirma que a adolescente nunca cogitou abortar.
“Não há notícia nenhuma entre familiares, amigos, que falem ou indique de que ela tenha consentido com a questão do aborto, não existiu isso. Isso foi por parte dele, comprar medicamento, ir atrás de abortivo”, diz Dalledone.
Um trecho de uma conversa entre Isis e a prima que consta no inquérito mostra a prima aconselhando Isis a não tomar nada que o homem lhe oferecesse. “Óbvio, né”, responde ela. Veja abaixo.
Print da conversa entre Isis (à esq.) e a prima (à dir.)
Reprodução
A defesa de Marcos afirma que ele foi à farmácia somente em busca de “orientação” sobre o medicamento.
“Não existe qualquer prova de que o Marcos tenha ministrado, tenha dado à Ísis esses medicamentos abortivos naquele dia e naquele momento. O Marcos nega que ele tenha feito qualquer coisa nesse sentido”, afirmou o advogado Tainan Laskos.
SAIBA MAIS: Vídeo mostra suspeito de desaparecimento de adolescente grávida no Paraná em farmácia, e testemunha diz que ele pediu abortivo
6 de junho: DIA DO DESAPARECIMENTO
O tio de Isis, Rodrigo Mizerski, conta que a adolescente foi para a escola de manhã e passou o resto do dia em casa. A família toda iria a um culto religioso de noite e, por volta das 17h50, a mãe da jovem saiu para ir ao mercado.
Nesse meio tempo, Isis disse à prima que iria sair para se encontrar com Marcos. A jovem disse para a irmã e para a prima que planejava contar à mãe que estava grávida na mesma noite em que sumiu e que, apesar de Marcos querer que ela fizesse um aborto, ela tinha a intenção de ter o bebê e estava escolhendo o nome da criança.
A partir de 18h05, algumas câmeras de segurança registraram o carro de Marcos trafegando sentido PR-340.
VEJA DETALHES: Vídeos mostram suspeito na região onde adolescente grávida enviou localização à mãe antes de sumir no Paraná
Vídeos mostram suspeito na região onde Isis enviou localização à mãe antes de sumir
Até às 18h06 a jovem estava conversando com a mãe sobre outros assuntos via aplicativo de mensagens, e às 18h15 mandou a própria localização para a mãe em tempo real. A mulher viu que a menina estava em uma região afastada do centro da cidade, na margem da PR-340, e ficou preocupada após a mensagem ter sido apagada.
“Essa localização nós entendemos como um pedido de socorro”, afirma o tio de Isis.
Após receber a localização, a mãe enviou novas mensagens e ligou para a filha, mas não obteve mais nenhuma resposta. Veja abaixo:
Adolescente grávida desaparecida no Paraná mandou localização para mãe antes de parar de responder mensagens: ‘Entendemos como pedido de socorro’
Reprodução
A RPC teve acesso ao inquérito que apura o caso. Em documentos anexados ao processo, há um relatório que diz que imagens de câmeras de segurança apontam “imprecisões” em trechos do depoimento de Marcos sobre a noite do desaparecimento da adolescente.
SAIBA MAIS: Vídeos apontam ‘imprecisões’ no depoimento de suspeito sobre noite do desaparecimento de adolescente grávida no Paraná, diz polícia
7 e 8 de junho: LOCALIZAÇÃO DOS CELULARES
Segundo o delegado Jonas Avelar, primeiro responsável pelo caso, a quebra de sigilo dos celulares de Isis e Marcos aponta que o vigilante esteve no mesmo lugar que a adolescente nos dois dias seguintes ao desaparecimento dela.
“Diante do deferimento da quebra de sigilo telemático do aparelho celular, foi possível detectar uma localização da adolescente na cidade de Telêmaco Borba, próxima a uma estrada chamada Mandaçaia. […] Chamou a atenção também das investigações o Marcos ter ido nessa localidade nos dias 7 e 8 de junho, no mesmo local em que deu a localização do aparelho celular da vítima”, diz o delegado.
O local apontado pelas localizações é uma área de mata extensa, de difícil acesso, segundo o delegado. Buscas com drones e cães farejadores foram feitas no local, mas nenhum vestígio da adolescente foi encontrado.
Celular de suspeito aponta que ele esteve no mesmo lugar que adolescente após ela desapare
10 de junho: DEPOIMENTO DO SUSPEITO
Marcos prestou depoimento à polícia no dia 10 de junho. Segundo Avelar, ele confirmou que se encontrou com Isis no dia do desaparecimento da jovem e negou ter envolvimento em qualquer crime.
O delegado afirma que o homem alegou que após conversar com a adolescente, a deixou em uma vila da cidade, mas que se contradisse durante a fala.
“Alguns prints demonstram que ele estava muito insatisfeito com a gravidez dessa adolescente. Interrogado, Marcos confirmou o encontro, porém alegou que só foi deixá-la na Vila São José […] e em seguida retornou – mas através da coleta das imagens, foi possível perceber que Marcos demorou em torno de uma hora para retornar”, conta Avelar.
14 de junho: MANDADO DE PRISÃO e INÍCIO DAS BUSCAS EM ÁREAS DE MATA
Marcos Vagner de Souza é considerado foragido pelo desaparecimento de Isis Victoria Mizerski
Polícia Civil do Paraná
Após o depoimento de Marcos, a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão para avaliar celulares e notebooks dele, e no dia 14 de junho um mandado de prisão foi expedido, mas o homem não foi mais encontrado.
O tenente Luis Augusto Negoseki, do Corpo de Bombeiros, afirma que a corporação só foi informada do desaparecimento da jovem no mesmo dia e iniciou as buscas por ela em áreas de mata entre Tibagi e Telêmaco Borba.
Segundo ele, o lapso temporal atrapalha o trabalho de cães farejadores, pois os indícios que poderiam ser encontrados por ele são apagados pela ação do tempo.
17 de junho – SUSPEITO SE ENTREGA À POLÍCIA
Marcos Vagner se entregou à polícia no dia 17 de junho.
Conforme a Polícia Civil, ele era considerado foragido há três dias e se apresentou na delegacia de Francisco Beltrão, no sudoeste do estado, onde possui familiares. A cidade fica a mais de 400 quilômetros de distância de Tibagi, onde ele e Isis moram.
25 de junho – SUSPENSÃO DAS BUSCAS
No dia 25 de junho o Corpo de Bombeiros anunciou que suspendeu as buscas por Isis.
Segundo o tenente Luis Augusto Negoseki, o motivo para a suspensão foi a falta de indícios, tanto nas buscas, quanto nas investigações.
De acordo com ele, pelo menos cinco mil hectares foram percorridos até aquele dia – área que equivale a mais de sete mil campos de futebol.
O foco foram localidades em Tibagi próximas a Telêmaco Borba e também a região de Mandaçaia, onde o rastreio dos celulares da jovem e do suspeito apontam que eles estiveram.
26 de junho – RETORNO DAS BUSCAS COM NOVA ESTRATÉGIA e MAIS SUSPEITOS
As buscas por Isis foram retomadas no dia seguinte à suspensão com mudança na estratégia: enquanto antes eram feitas apenas em áreas de mata, foram alteradas para margens de rios que ficam entre Tibagi e Telêmaco Borba.
O motivo foram denúncias anônimas recebidas pela Polícia Civil, segundo o delegado Jonas Avelar. No mesmo dia, o delegado afirmou suspeitar que há mais pessoas envolvidas no desaparecimento.
“A gente está fazendo levantamentos e diligências e não descarta a possibilidade de ter outras pessoas que ajudaram o suspeito no desaparecimento dessa adolescente”, disse Avelar.
Questionado sobre quem eram os novos suspeitos, ele disse que preferia não dar detalhes para não atrapalhar as investigações.
27 de junho – ADVOGADOS DA FAMÍLIA ABREM INVESTIGAÇÃO PARALELA
No dia 27 de junho, os advogados da família de Isis concederam uma entrevista coletiva afirmando que abririam uma investigação paralela para ajudar na apuração sobre o paradeiro da adolescente.
“Num primeiro momento precisamos saber se ela está viva ou morta. A partir disso que se desenvolvem caminhos para o processo. Os familiares acordam com a esperança de encontrar ela viva e adormecem com o sentimento dessa menina estar morta. A família está num turbilhão emocional muito grande”, disse o advogado Claudio Dalledone.
1º de julho – INVESTIGAÇÃO TROCA DE DELEGADO
De acordo com a Polícia Civil, no dia 1º de julho a responsabilidade do caso foi passada do delegado Jonas Avelar, de Tibagi, para o delegado Matheus Campos Duarte, de Telêmaco Borba.
O motivo são as férias de Avelar. O g1 questionou se quando o policial retornar das férias deveria voltar a assumir o caso ou não, e não obteve retorno.
“O delegado Matheus já vinha atuando no caso em conjunto com o delegado Jonas e agora liderará a força-tarefa designada para este inquérito”, disse a corporação, em nota.
15 de julho – PRORROGAÇÃO DA PRISÃO
O prazo da prisão temporária de Marcos, de 30 dias, venceria no dia 17 de julho, mas no dia 15 a Justiça prorrogou a prisão do homem.
Ao mesmo tempo, a defesa de Marcos havia pedido a soltura dele, mas o juiz João Batista Spanier Neto optou pela prorrogação do prazo.
26 de julho – POLÍCIA DIVULGA ACREDITAR QUE ISIS ESTÁ MORTA
No dia 26 de julho, em nota, a Polícia Civil disse acreditar que Isis está morta e que Marcos ocultou o corpo dela.
“Diligências continuam a fim de concluir o inquérito policial. O principal suspeito pela ação deve responder pelos crimes de homicídio e ocultação de cadáver”, diz parte do texto.
8 e 9 de julho – ALTERAÇÃO NA PRISÃO E FIM DO INQUÉRITO
Na noite de 8 de julho a Justiça revogou a prisão temporária de Marcos Vagner de Souza. Na decisão, o juiz cita que o pedido da defesa é baseado no argumento de que a prisão de Marcos não alterou o andamento do inquérito e afirma que não existe fundamento para a continuação da prisão temporária.
Veja detalhes e trechos
Horas depois, na manhã de 9 de julho a Justiça expediu mandado de prisão preventiva contra o homem.
Veja as diferenças entre os dois tipos de prisão
Momentos depois, em coletiva de imprensa realizada em Tibagi, o delegado Matheus Campos Duarte, responsável pelo caso, disse que indiciou Marcos por homicídio triplamente qualificado, por motivo torpe, feminicídio e aborto sem consentimento da gestante, e também por ocultação de cadáver.
Em nota, a defesa de Marcos disse que vai analisar os novos documentos para decidir os próximos passos.
“Hoje pela manhã a defesa foi informada que no plantão judiciário foi apresentado um pedido de decretação de prisão preventiva, que foi aceito pela justiça. A defesa agora irá analisar os novos documentos anexados aos autos de inquérito policial, que foi concluído, para decidir as medidas judiciais que tomará na sequência”, afirma o advogado Renato Tauille.
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