Migrantes venezuelanos são retirados de ocupação por ordem judicial em Boa Vista


No local, que chegou a abrigar 300 famílias de migrantes venezuelanos, será construído um batalhão da Polícia Militar. Não houve resistência por parte dos moradores. Justiça desocupa moradia improvisada que chegou a abrigar 300 famílias migrantes venezuelanas, no bairro Pricumã
João Gabriel Leitão/g1 RR
Policiais militares retiraram, na manhã desta segunda-feira (29), migrantes venezuelanos que estavam vivendo de forma improvisada em um terreno no bairro Pricumã, zona Oeste de Boa Vista. Cerca de 50 pessoas viviam no local, onde um batalhão da PM será construído.
Os militares cumpriram uma ordem judicial para reintegração da posse do terreno, expedida em 19 de julho de 2024. A desocupação foi pacífica.
Segundo o oficial de Justiça Ailton Araújo, a sentença foi cumprida depois de um planejamento para retirada pacífica e humanizada das famílias que estavam no local, onde cerca de 300 famílias migrantes já viveram.
📲 Acesse o canal do g1 Roraima no WhatsApp
Trator derruba moradias improvisadas em terreno ocupado por famílias migrantes venezuelanas, no Pricumã
João Gabriel Leitão/g1 RR
De acordo com Ailton, a desocupação não poderia mais ser adiada devido ao início das obras das futuras instalações da Polícia Militar de Roraima, que devem começar na próxima quarta-feira (31).
Aos migrantes que permaneceram no local, a Justiça recomendou a retirada dos pertences, como colchões, cadeiras e outros itens pessoais. Os objetos foram levados do local para outras áreas por equipes da Secretaria do Trabalho e Bem-Estar Social (Setrabes), que também atuaram na ação.
Segundo o major da PM, Fabrício Barrozo, não houve resistência por parte dos moradores ou uso da força por parte do estado. Ele explicou que os migrantes tinham ciência do cumprimento da decisão judicial e não houve contestações.
“Eles já estavam cientes. Grande parte já tinha saído e hoje, os que ficaram tiveram todo o apoio dos órgãos competentes pra fazer essa realocação. Não teve nenhuma reação, nenhum confronto, nada, foi tudo bem tranquilo”, disse.
No dia da reintegração da posse do terreno, restavam apenas 50 migrantes a serem retirados
João Gabriel Leitão/g1 RR
LEIA TAMBÉM:
Busca por emprego, educação e saúde: o raio X dos 9 anos da migração venezuelana para o Brasil
‘Foi um recomeço’, ‘não penso em voltar’, ‘a gente faz nosso lar’: os venezuelanos que cruzam país em busca de nova vida no Brasil
Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela diz que Nicolás Maduro venceu a eleição; oposição contesta
Abrigo temporário
Antes de funcionar como moradia improvisada, o terreno era sede da Casa do Migrante, mas foi abandonado. Com cabos de energia ligados de forma irregular e muito lixo espalhado pelo chão, a justiça entendeu que a área oferecia perigo aos migrantes, e que o ideal é que eles fossem realocados para locais mais seguros, como os abrigos da Operação Acolhida na capital.
As famílias que não foram realocados devem ser levados para alojamento temporário do Posto de Recepção e Apoio (PRA), localizado no bairro Treze de Setembro, e posteriormente, para os chamados semipermanentes.
Vivendo no Brasil há cerca de três anos e morando na ocupação do Pricumã há dois anos, a migrante Ana Francisca Louzada, de 60 anos, é uma das pessoas que deve ir para o alojamento.
“Já tem dias que falavam que aconteceria a desocupação. Disseram que era para desocuparmos na quarta-feira. Mas, por conta das eleições [na Venezuela], disseram que era para ser hoje”, contou.
Sem ter para onde ir, famílias migrantes aguardam apoio de órgãos públicos para retirada de seus pertences
João Gabriel Leitão/g1 RR
Ela já havia sido notificada sobre a saída, mas não queria voltar a morar nos abrigos. “Com a comida ruim, os problemas que tem no abrigo com os banheiros, com os nossos banhos e tudo mais, nós saímos de lá e chegamos aqui”, esclareceu.
Outra moradora da ocupação, Maria Ângela, de 65 anos, sonha com a possibilidade de alugar um imóvel para morar. Sem condições, ela também deve ser levada para um abrigo, onde já viveu.
“Convivi num refúgio desse, nas ‘carpitas’, até que nos tiraram também, como fizeram aqui. Estou vivendo na rua há uns meses. Cheguei aqui [no Brasil] com uma amizade venezuelana que eu tinha há quatros anos”, explicou.
Ela deve deixar os pertences com uma amiga até encontrar um trabalho e poder buscar um local para morar de aluguel. Segundo ela, a Justiça não ofereceu moradia para ela ou para as crianças que viviam na ocupação.
A Procuradoria Geral do Estado (PGE), o Ministério Público de Roraima (MPRR) e a Operação Acolhida também acompanharam a ação.
Leia outras notícias do estado no g1 Roraima.
*Estagiário sob supervisão e edição de Yara Ramalho
Adicionar aos favoritos o Link permanente.