Advogado, filho de juiz suspeito de vender sentenças é investigado por participar do esquema e movimentar quase R$ 2 milhões em seis meses


Magistrado, o filho e outros investigados estão usando tornozeleira eletrônica. Investigados são suspeitos de corrupção, uso de documentos falsos, fraude processual, lavagem de ativos e organização criminosa. Juiz é afastado suspeito de participar de esquema de venda de sentenças
O advogado Pedro Gustavo Gornattes Mariano, filho do juiz Adenito Francisco Mariano Júnior, suspeito de venda de sentenças, movimentou mais de R$ 2 milhões em seis meses, segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O magistrado titular da Comarca de Silvânia foi afastado do cargo e está usando tornozeleira eletrônica.
“As contas bancárias do investigado Pedro Gustavo Gornattes Mariano constituem, ao menos preliminarmente, o epicentro das movimentações financeiras e dos benefícios indevidos recebidos em contraprestação às decisões judiciais favoráveis concedidas pelo Magistrado investigado”, detalhou a decisão judicial do caso.
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O g1 não localizou a defesa dos demais investigados até a última atualização desta reportagem.
A investigação analisou as movimentações bancárias de Pedro Gustavo de 10 de outubro de 2021 a 22 de abril de 2022 e detectou que ele movimentou o crédito de R$ 1.879.500,86 e um total a débito de R$ 1.772.251,26. Segundo a informações da decisão da desembargadora Nelma Branco Ferreira Perilo, o perfil econômico do advogado não justifica as movimentações financeiras.
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Juiz Adenito Francisco Mariano Júnior, titular da Comarca de Silvânia, e os filhos Antônio Fernando Fornattes Mariano Filho e Pedro Gustavo Gornattes Mariano Filho em Goiás
Reprodução/TV Anhanguera
Além de Pedro, Antônio Fernando Gornattes Mariano, também filho do juiz, é suspeito de participação no esquema. “Esse esquema envolve não apenas o investigado Pedro Gustavo Gornattes Mariano, mas também outros indivíduos que, direta ou indiretamente, participam da engrenagem criminosa destinada a corromper o sistema judicial, garantindo decisões favoráveis mediante compensações financeiras ilícitas”, diz a decisão.
Além do magistrado, Pedro Gustavo, um contador e outro investigado na operação estão usando tornozeleira eletrônica. Segundo a investigação, o contador produzia laudos revisionais fraudulentos e o juiz se baseava nesses documentos falsos para fazer as decisões.
Entenda o caso
Juiz Adenito Francisco Mariano Júnior, titular da Comarca de Silvânia, Goiás
Reprodução/Google Street View e Site TJ-GO
A operação foi deflagrada nesta terça-feira (13). A decisão judicial, feita pela Desembargadora Nelma Branco Ferreira Perilo, também determinou que os outros suspeitos usem tornozeleira eletrônica e autorizou a realização de buscas e apreensões no gabinete do juiz, em residências e escritórios, além da decretação de indisponibilidade de bens.
Em nota, a Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) ressaltou que acredita no curso das investigações para apurar os fatos e afirmou que é assegurado ao juiz, como cidadão, a oportunidade de apresentar o contraditório (leia nota completa no fim da reportagem).
Ao g1, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informou que acompanhou a Operação “Dura Lex, Sed Lex” para garantir os direitos, prerrogativas e o respeito ao contraditório e à presunção de inocência dos advogados envolvidos (leia nota completa no fim da reportagem).
O Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRC-GO) informou que não foi comunicado de qualquer prisão ou indiciamento de profissional da contabilidade que possa estar envolvido na operação. Caso algum contador registrado seja indiciado, o Conselho tomará todas as medidas cabíveis e abrirá Processo Ético-disciplinar contra o profissional, segundo o CRC-GO (leia nota completa no fim da reportagem).
A operação
Juiz de Silvânia é afastado e deve usar tornozeleira
A investigação começou a partir de apurações feitas pela Corregedoria-Geral da Justiça, em parceria com o Núcleo de Inteligência do TJ-GO, após a recepção de denúncias sobre a atuação do juiz Adenito Francisco no âmbito de um inquérito judicial instaurado pelo próprio Tribunal de Justiça.
As diligências investigativas foram conduzidas pela Polícia Civil e pela Procuradoria-Geral de Justiça, com autorização do Poder Judiciário. A operação foi acompanhada por magistrados auxiliares da Presidência e da Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal, além de integrantes do Ministério Público, da Polícia Civil e da Comissão de Prerrogativas da OAB-GO (leia nota completa no fim da reportagem).
Como fica a Comarca de Silvânia?
Comarca de Silvânia em Goiás
Reprodução/Google Maps
A presidência do TJ-GO designou o juiz Fábio Borsato, da Comarca de Goiânia, para responder pela Comarca de Silvânia, e Patrícia Bretas, diretora do foro da Comarca da capital, para auxiliar nos serviços da diretoria do foro da Comarca de Silvânia.
Além disso, a presidência determinou a dispensa imediata dos ocupantes de cargos comissionados de assessores do juiz da comarca, permitindo a indicação de novos assessores pelo juiz que assumirá interinamente. Segundo o TJ-GO, a Corregedoria-Geral da Justiça enviará uma força-tarefa para realizar uma “inspeção extraordinária” na comarca.
Juiz Adenito Francisco Mariano Júnior, titular da Comarca de Silvânia, Goiás
Reprodução/TJ-GO
Nota do TJ-GO
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, observando o princípio da transparência e para evitar eventuais equívocos na divulgação de informação, esclarece sobre a operação ocorrida na manhã desta terça-feira(13/8).
Trata-se de uma investigação iniciada com base em apurações realizadas pela Corregedoria-Geral da Justiça, contando com a parceria do Núcleo de Inteligência do TJGO, que resultou em uma operação de busca e apreensão e outras medidas cautelares, que decorre de denúncias recebidas acerca da atuação do juiz de direito Adenito Francisco Mariano Júnior, titular da Comarca de Silvânia, no âmbito de um inquérito judicial instaurado pelo próprio Tribunal de Justiça.
Após extensas diligências investigativas conduzidas pela Polícia Civil e pela Procuradoria Geral de Justiça, autorizadas pelo Poder Judiciário no inquérito judicial, surgiram evidências de possíveis práticas pelo nominado magistrado, assessores, bem como por advogados e contador, de supostas condutas tipificadas no Código Penal como crimes.
Por meio de decisão judicial proferida pela Desembargadora Nelma Branco Ferreira Perilo, que atua como relatora do procedimento no Órgão Especial, foi determinado o afastamento do magistrado do exercício do cargo, bem como de dois de seus assessores na Comarca de Silvânia. Além disso, foi determinado o uso de tornozeleira eletrônica e foram realizadas buscas e apreensões no gabinete do juiz, em residências e escritórios, além da decretação de indisponibilidade de bens. A operação foi realizada observando o devido procedimento legal, assegurando a correta apuração dos fatos, sendo acompanhada por magistrados auxiliares da Presidência e da Corregedoria Geral da Justiça deste Tribunal, por integrantes do Ministério Público, da Polícia Civil e da Comissão de Prerrogativas da OAB-GO.
Após operação, a relatora levantou o segredo de justiça do procedimento, tornando pública a decisão proferida nos autos do inquérito judicial.
Para evitar prejuízo ao normal funcionamento dos serviços judiciários na comarca de Silvânia, a presidência do TJGO designou o juiz de Direito Fábio Borsato, da comarca de Goiânia, para responder pela referida comarca, além de designar a diretora do foro da comarca da capital, Patrícia Bretas, para auxiliar nos serviços da diretoria do foro da comarca de Silvânia e dispensar imediatamente os ocupantes de cargos comissionados de assessores do juiz daquela comarca, possibilitando a indicação de novos assessores pelo juiz respondente. A corregedoria-geral da justiça enviará força tarefa para realizar imediata inspeção extraordinária na comarca de Silvânia.
Nota Asmego
A Associação dos Magistrados do Estado de Goiás (Asmego) ressalta acreditar no curso das investigações para apuração dos fatos, conforme determina o Princípio Constitucional do Devido Processo Legal. Observa, ainda, que é assegurado ao juiz, como cidadão, a oportunidade de apresentar o contraditório.
A Asmego está à disposição para contribuir com o que for necessário, dentro da legitimidade do processo.
Nota OAB-GO
A Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) informa que foi comunicada e acompanhou, na manhã de hoje, 13 de agosto de 2024, a Operação “Dura Lex, Sed Lex,” conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Estado de Goiás e pela Polícia Civil. O acompanhamento da Ordem se dá para garantir os direitos, prerrogativas e o respeito ao contraditório e à presunção de inocência dos advogados envolvidos.
Em situações como essa, é praxe que a OAB-GO acompanhe toda a investigação para, em seguida, tomar as providências necessárias na esfera ética, caso se comprove eventual infringência dos deveres funcionais dos inscritos.
Nota CRC-GO
Diante da Operação “Dura Lex, Sed Lex”, realizada na Comarca de Silvânia deflagrada nesta terça-feira (13/08) pelo Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJ-GO), o Conselho Regional de Contabilidade de Goiás (CRCGO) informa que:
O CRCGO tem como principal finalidade registrar, fiscalizar o exercício da profissão contábil para mais de 15 mil profissionais da contabilidade no Estado, e segue atuando de forma efetiva quanto ao uso indevido da contabilidade;
Seguimos, conforme o regulamentado pelo Decreto Lei 9.295/1946 (alterado pela Lei 12.249/2010);
O CRCGO, por meio do seu departamento de Fiscalização, não foi comunicado de qualquer prisão ou indiciamento de profissional da contabilidade que possa estar envolvido na referida Operação;
A entidade reforça que está tomando conhecimento e buscando os responsáveis pela operação;
Caso algum contador registrado seja indiciado, o Conselho tomará todas as medidas cabíveis e abrirá Processo Ético-disciplinar contra o profissional.
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