Mpox: entenda o surto com variante mais letal

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, nesta quarta-feira (14), que o atual surto de mpox na África é uma emergência global de saúde. A declaração ocorre após a entidade convocar o comitê de emergência em meio a preocupações de que uma cepa mais letal do vírus se espalhe para regiões não endêmicas da doença. 

Quinze países africanos estão relatando surto de mpox, com um total de 2.030 casos confirmados e 13 mortes neste ano, segundo a OMS. A preocupação atual é que a versão do vírus que está se disseminando na África não é a mesma do surto mundial de 2022, que era mais branda. A atual cepa circulante na região é mais letal e, potencialmente, mais transmissível. 

 

“Historicamente, havia um grupo de vírus que circulava na África Ocidental, que é chamado de clado 2, e outro grande grupo de vírus que circulava na República Democrática do Congo e países adjacentes, que se chamava clado 1”, explica Giliane Trindade, professora de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB – UFMG), à CNN. 

“Esse clado 1 é o que está em franca transmissão no Congo e ele tem uma maior virulência do que o clado 2, então ele causa um quadro clínico mais grave”, completa. 

Em setembro de 2023, uma subvariante do clado 1 – batizada de clado 1B – surgiu no Congo e também é considerada mais letal que a clado 2.  Casos de mpox causados pela nova cepa foram registrados também na Ruanda, Uganda e no Quênia. Atualmente, análises estão em andamento no Burundi para determinar se os casos recentes estão relacionados à nova variante. 

O que é mpox?

A mpox é uma doença causada pelo mpox vírus, do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. A transmissão do vírus para humanos acontece por meio do contato com pessoas infectadas ou materiais contaminados com o vírus. A doença pode se espalhar por contato próximo, como toque, beijo ou sexo, bem como por materiais contaminados como lençóis, roupas e agulhas, segundo a OMS.

Os principais sintomas da doença são as lesões na pele, que podem vir acompanhadas de febre, dor no corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza. De acordo com o Ministério da Saúde, o intervalo de tempo entre o primeiro contato com o vírus até o início dos sinais e sintomas da mpox varia de 3 a 16 dias, mas pode chegar a 21 dias.

As lesões na pele podem ser planas ou levemente elevadas, e são preenchidas por um líquido claro ou amarelado. Conforme a doença evolui, podem formar crostas, que secam e caem. As lesões podem se concentrar no rosto, na palma das mãos e na planta dos pés, mas também podem surgir em outras partes do corpo, incluindo boca, olhos, órgãos genitais e no ânus.

O que é um clado?

O vírus mpox é dividido por dois clados genéticos: 1 e 2. Clados são grupos de vírus que, apesar de terem semelhanças genéticas, não são idênticos. “Esses dois grandes grupos abrigam isolados virais que têm diferenças, por exemplo, em relação aos genes que interagem com o sistema imune do hospedeiro, que é o que chamamos de imunomodulação”, explica Trindade.

Segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), o clado 1 leva a uma doença mais grave e é mais letal em comparação ao clado 2. O clado 1 é endêmico na República Democrática do Congo e é responsável pelo surto atual. Já o clado 2 foi responsável pelo surto global que começou em 2022, de acordo com o CDC. No Brasil, os casos atuais estão relacionados à circulação do clado 2.

Em setembro de 2023, foi identificada uma nova variante da doença, batizada de clado 1B. Segundo a OMS, a disseminação da nova variante na República Democrática do Congo está ligada à transmissão por contato sexual e alta movimentação populacional.

Por que a nova variante é mais letal?

De acordo com o CDC, o surto atual de mpox na República Democrática do Congo está mais disseminado do que qualquer outro surto anterior na região e a letalidade é maior. Só neste ano, a República Democrática do Congo registrou 14 mil casos de mpox e 511 mortos. O número já é maior do que o surto de 2022, provocado pelo clado 2: apesar dos 85 mil casos registrados, houve apenas 120 mortes.

“O clado 1 já era conhecido desde a década de 1970, mas o que temos agora é a emergência de uma nova linhagem dentro desse clado, que é o 1B. Essa linhagem guarda algumas mutações que refletem em uma alta transmissibilidade em humanos”, explica Trindade. “Os sintomas são muito semelhantes, mas a letalidade é maior”, completa.

Como é feito o tratamento da mpox?

Ainda não existe um medicamento específico para tratar a mpox. Por isso, o tratamento tem o objetivo de aliviar os sintomas, prevenir e tratar complicações e sequelas e, portanto, é baseado em medidas de suporte clínico. A maioria dos pacientes tratados se recupera em um mês, mas a doença pode ser fatal quando não tratada.

A vacinação funciona para prevenir a nova cepa?

Uma das principais formas de prevenir a mpox é através da vacinação. Na visão de Trindade, a vacina que já protege contra o clado 2 pode proteger contra o clado 1. “Do ponto de vista genético, esses vírus são muito conservados, o que é bom no caso das vacinas”, afirma.

Segundo o Ministério da Saúde, a estratégia de vacinação prioriza a proteção das pessoas com maior risco de evolução para as formas mais graves da doença. A vacinação pré-exposição é recomendada para pessoas vivendo com HIV e profissionais de laboratório que trabalham diretamente com o vírus em laboratórios com nível de biossegurança 2 (NB-2), de 18 a 49 anos de idade.

Já a vacina pós-exposição é direcionada para pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para mpox, cuja exposição seja classificada como de alto ou médio risco, conforme recomendações da OMS.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Mpox: entenda o surto com variante mais letal no site CNN Brasil.

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