Cuidadores de crianças com deficiência denunciam falta de pagamento na rede estadual de Campinas


Com profissionais paralisados, pais têm dificuldade para enviar filhos à escola. Empresa responsável pelos pagamentos diz ‘não ter conhecimento’ de colaboradores ativos sem salário. Escolas Estaduais de Campinas enfrentam falta de cuidadores por falhas no pagamento
Cuidadores que trabalham na rede estadual de Campinas (SP) pararam de ir às escolas após denúncias de falha no pagamento de salários e benefícios. Os profissionais reclamam de atrasos na remuneração e que não estão mais recebendo o vale-transporte e o vale-alimentação.
Nesta quarta-feira (14), os profissionais fizeram um ato de protesto em frente à Diretoria de Ensino Estadual. Enquanto isso, os pais e responsáveis enfrentam dificuldades para enviar os filhos às escolas.
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▶️ A função dos cuidadores nas escolas é acompanhar alunos com deficiência física, intelectual ou algum transtorno neurológico. Esta presença é garantida por um decreto estadual, mas desde o fim de julho alguns pais começaram a receber mensagens sobre a paralisação da assistência.
“Trabalhei o mês de junho inteiro, eles pagaram, mas não pagaram o VT [vale-transporte], pagaram o salário tudo errado. […] eles chegaram a depositar R$ 49 de VT para a gente. O que a gente faz com R$ 49?”, conta a cuidadora Daniela Moraes.
Em nota, o Instituto de Apoio à Pessoa com Deficiência e Inclusão Social (Iape), responsável pelas contratações com acompanhamento da Secretaria Estadual de Educação, diz não ter conhecimento de colaboradores ativos sem salário [leia mais abaixo].
Cuidadores param de ir trabalhar em escolas da rede estadual de Campinas por falhas em pagamento e benefícios
Reprodução/EPTV
Falta de pagamento
Segundo os cuidadores, os problemas vêm ocorrendo desde junho, quando foram percebidos pagamentos atrasados ou com valores diferentes dos assinados em contrato. “O contrato que assinamos é um valor, e quando a gente foi ver na nossa carteira de trabalho eles colocaram outro valor”, diz Daniela.
“Infelizmente as crianças não vão ter o suporte de cuidadora nas escolas e os pais deveriam lutar pelos seus direitos. Por que o direito deles é ter cuidadora nas escolas. A gente que tá lá cuidando deles direto, a gente sabe como que é, então eles precisam da gente lá, dando suporte, para cuidar deles”, finaliza.
A cuidadora Joice Aparecida da Silva ressalta relata uma situação semelhante. “Falta de pagamento, falta de vale-alimentação, a empresa não dá nenhum posicionamento. A gente pergunta para a supervisora, ela passa para gente apenas o que eles falam. ‘Ah, eu já fiz’. Mas não cai”, conta.
Cuidadora Daniela Moraes aponta atrasos e não recebimento de benefícios desde junho
Reprodução/EPTV
Alunos sem acompanhamento
Vilson Novais conta que a filha tem síndrome de Down e precisa do acompanhamento na escola, que ocorre há dois anos, mas no dia 31 de julho soube que a menina não teria mais esse apoio.
“Não estamos nem trazendo ela para escola, porque ela precisa de uma cuidadora. Tanto que na nossa casa nós nos revezamos […] é uma criança que se acostuma com a rotina, e ela já não consegue mais essa rotina”, fala.
Eunice Souza também recebeu uma mensagem da escola dizendo que o acompanhamento seria descontinuado porque a cuidadora não estava recebendo mais pagamento.
“Primeiro semestre foi tranquilo, meu filho frequentou todos os dias, certinho. E no retorno das férias eu recebi o primeiro recado avisando que a cuidadora não estaria mais frequentando a escola”, conta.
Cuidadores sofrem com atrasos no salário e e não recebimento de vale-transporte e vale-alimentação
Reprodução/EPTV
O que diz a empresa responsável?
Em nota, o Iape, responsável pelos pagamentos, diz que presta serviços profissionais de apoio escolar em Campinas desde maio de 2024 e constatou alguns problemas operacionais no momento da implantação, o que resultou na dificuldade do cadastro dos profissionais no sistema financeiro para efetuar o pagamento.
A empresa afirma que os problemas foram resolvidos e que não tem conhecimento de nenhum colaborador ativo que esteja sem receber salário. Ainda informa que chegou identificar alguns funcionários que não receberam o vale-alimentação, mas o pagamento foi programado para ocorrer até esta sexta-feira (16).
Ainda conforme a empresa, em torno de 20% dos cuidadores não receberam o benefício do vale-refeição. Informou que são 121 profissionais atendendo 160 alunos em Campinas, e foi registrada a falta de 16 cuidadores.
E a Secretaria Estadual de Educação?
Já a Secretaria Estadual de Educação diz que continua pagando a empresa, mas notificou o Iape nesta segunda-feira (12) para garantir que sejam cumpridas as obrigações de contrato, regularizando tanto os pagamentos dos funcionários, como o retorno das atividades o mais rápido possível.
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