Lula diz pela primeira vez que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela


Os presidentes do Brasil e da Colômbia, Gustavo Petro, sugerem novas eleições. O regime de Maduro rejeita a proposta, e a líder da oposição afirma que não reconhecer a vitória do opositor Edmundo Gonzalez é uma falta de respeito com os venezuelanos. Lula diz pela primeira vez que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro na Venezuela
Reprodução/TV Globo
Nesta quinta-feira (15), o presidente Lula declarou pela primeira vez, 18 dias após as eleições na Venezuela, que não reconhece a vitória de Nicolás Maduro.
Em uma entrevista, Lula sugeriu saídas para a crise, citou a possibilidade de um governo de coalizão ou a realização de novas eleições. O governo Maduro rejeitou a proposta, e a líder da oposição afirmou que não reconhecer o resultado das urnas é uma falta de respeito com os venezuelanos.
O presidente falou sobre a eleição na Venezuela em uma entrevista à Rádio “T”, em Curitiba. Lula disse que, nos últimos meses, a relação com o governo Maduro se deteriorou.
“Eu mantenho relações com a Venezuela desde que tomei posse, em 2002. Tive muitas relações com Hugo Chávez. Venezuela tinha um superávit com o Brasil de US$ 4 bilhões por ano. E essa relação ficou deteriorada porque a situação política está ficando deteriorada na Venezuela”.
O presidente afirmou que não reconhece a vitória de Maduro.
“Ainda não, ainda não. Ele sabe que está devendo uma explicação para a sociedade brasileira e para o mundo. Ele sabe disso. Ele sabe disso. Ontem, tive uma reunião com presidente da Colômbia, ontem tive reunião com Colômbia e Mexico, para que encontre uma saída, só tem uma coisa: tem que apresentar os dados, agora os dados têm que ser apresentado por algo que seja confiável. O Conselho Nacional Eleitoral, que tem gente da oposição, poderia ser, mas não mandou para o conselho mandou para a Justiça, para Suprema Corte. Eu não posso julgar a Suprema Corte de outro país”.
Nicolás Maduro foi proclamado vencedor pelo Conselho Nacional Eleitoral, controlado por ele. A oposição contestou o resultado, apontou fraudes e apresentou atas eleitorais que mostrariam que Edmundo González ganhou por ampla vantagem.
Maduro iniciou um processo de repressão, com forças de segurança prenderam 2,4 mil pessoas, entre elas, líderes da oposição. 24 pessoas morreram durante os protestos.
O Instituto Carter e a ONU, que acompanharam a votação, denunciaram irregularidades.
Brasil, México e Colômbia viam negociando com Maduro para convencê-lo a apresentar os documentos originais por mesa de votação. No início da semana, o México se afastou do grupo.
Nesta quinta-feira (15), Lula sugeriu um governo de coalizão na Venezuela ou a realização de novas eleições.
“O Brasil, junto com a Colômbia, nós estamos tentando trabalhar a possibilidade de encontrar uma saída. Você tem várias saídas, você fazer um governo de coalizão, convoca a oposição. Não quero me comportar de forma apaixonada e precipitada. Eu sou favorável a fulano ou sou contra. Não, eu quero o resultado. Se a gente tiver resultado e esse resultado for factível, nós vamos tratar de fazer o seguinte o Maduro, tem seis meses de mandato ainda. Então, ele é o Presidente da República independentemente das eleições. Então, se ele tiver bom senso, ele poderia tentar fazer uma conclamação ao povo da Venezuela, quem sabe convocar novas eleições, estabelecer um critério de participação de todos os candidatos, criar um comitê eleitoral suprapartidário e deixar entrar olheiros do mundo todo para ver as eleições”.
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Logo após a entrevista de Lula, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também defendeu novas eleições na Venezuela que, segundo ele, viriam como parte de um acordo que incluiria a suspensão das sanções econômicas contra o país, uma anistia geral e internacional e uma transição de governo negociada.
A hipótese de novas eleições na Venezuela também foi discutida em uma audiência na Comissão de Relações Exteriores do Senado, com o assessor especial da presidência, Celso Amorim. Ele afirmou que o Brasil não fez uma proposta oficial para um novo pleito, mas que, se isso ocorresse, a eleição teria que ser acompanhada por organismos internacionais. Amorim voltou a dizer que vê no diálogo a única saída para evitar uma crise maior na Venezuela.
Celso Almorim afirmou que o governo brasileiro não pode negociar dando um ultimato a Maduro.
“Eu acho que não adianta nada eu fazer um prazo hoje e depois de amanhã descobrir que as coisas estão evoluindo, mas que vão tomar mais tempo. Eu acho que nós estamos chegando a um ponto em que é preciso sentir uma evolução real. Mas é claro que não é uma coisa para sempre”.
A principal líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, rechaçou a possibilidade de novas eleições.
“Vamos para uma segunda eleição e, se não gostarem do resultado, iremos para uma terceira? Quarta? Quinta? Até que o presidente Nicolás Maduro goste dos resultados? Vocês aceitariam isso em seus países, que, se o resultado não for satisfatório, repitam a eleição?”, perguntou Maria Corina.
E concluiu:
“Pessoas foram mortas ou estão hoje presas, escondidas ou tiveram que fugir do país. Não reconhecer o que aconteceu em 28 de julho é uma falta de respeito com os venezuelanos”.
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