Inteligência artificial é usada na disseminação de informações falsas; FGV analisa impacto da tecnologia em eleições pelo mundo

No Brasil, o TSE determinou que qualquer propaganda eleitoral criada a partir de inteligência artificial precisa ser informada ao eleitor. Fundação Getúlio Vargas analisa impacto da inteligência artificial em seis eleições pelo mundo
A Fundação Getúlio Vargas está analisando o impacto da inteligência artificial em eleições pelo mundo em 2024. Em muitos países, essa tecnologia foi usada na disseminação de informações falsas.
Imagina a maior eleição do mundo: 970 milhões de eleitores. E bem no meio do processo, um fantasma aparece para apoiar um candidato. Aconteceu na Índia. Um homem de traje branco e óculos escuros pedindo voto era um político local importante, morto há seis anos. Imagens manipuladas para enganar o eleitor.
É a partir de uma sala que a equipe de Comunicação, Mídia e Informação da FGV está monitorando o uso da inteligência artificial nas principais eleições do mundo em 2024.
“São as primeiras eleições a serem afetadas de forma mais contundente por essa nova tecnologia. Você tem uma mudança bastante significativa da manipulação da voz, por exemplo, já. E discursos completamente impossíveis de serem identificados como falsos, mas sendo falsos, por exemplo. Isso vai dar um impacto enorme na eleição”, afirma Marco Aurélio Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da FGV no Rio.
Na África do Sul, o laboratório identificou um vídeo: o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçando sanções caso o partido do governo vencesse as eleições. Fake!
A equipe do laboratório usou ferramentas avançadas de busca, além do apoio de profissionais de linguística, para conseguir rastrear o maior número de casos ao redor do planeta.
“Aí eles vão fazer todo um mergulho de entender quais são as palavras que as pessoas utilizam para falar sobre aquilo. Era nosso intento pegar esses casos de circulação local e não apenas casos que viralizaram a tal ponto que a gente aqui no Brasil ficou sabendo”, diz Letícia Sabbatini, pesquisadora da Escola de Comunicação da FGV.
“Eu acho que tem que ter uma aliança das democracias nesse momento no entendimento de como elas vão conduzir, em termos internacionais, globais, como é que elas conduzem a preservação da democracia, do espaço democrático e, em especial, como combater a desinformação em bloco. Isso é fundamental, porque é a forma de você pressionar as plataformas também. Sem as plataformas, essa equação não fecha”, afirma Marco Aurélio Ruediger.
TSE aprova 12 normas para as eleições municipais de outubro; a principal delas é sobre o uso da IA nas campanhas dos candidatos
O laboratório da FGV está monitorando seis eleições pelo mundo. Algumas ainda estão para acontecer, como a eleição municipal no Brasil, marcada para outubro. No país, o TSE determinou que qualquer peça de propaganda eleitoral criada a partir de inteligência artificial precisa ser informada ao eleitor.
Além disso, as deepfakes – vídeos e áudios criados de forma tão realista que a gente não consegue perceber a manipulação – estão proibidas. Quem descumprir pode ter o registro ou o mandato cassados.
Os pesquisadores lembram que cada eleitor pode ajudar, evitando compartilhar informações duvidosas, por exemplo.
“Se você vir alguma coisa que foge muito do que seria razoável esperar de alguém, de algum candidato, ou se tem alguma coisa muito escandalosa, por mais divertido e interessante que seja, não mande isso para frente”, diz Marco Aurélio Ruediger.
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