Livro sobre evasão escolar criado por alunos no interior do Ceará integra Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos


O livro ‘A importância de estudar e os fatores que podem levar ao abandono escolar’ foi feito por uma turma de 35 alunos de ensino médio e aborda importância da educação continuada. Alunos de Amontada, interior do CE, criam livro sobre evasão escolar.
Já pensou em viajar do interior do Ceará a Washington, capital dos Estados Unidos da América? Foi esse o percurso feito por um livro feito na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral Professora Lídia Carneiro de Barros, em Amontada (a 175 km de Fortaleza), até chegar na Library of Congress (Biblioteca do Congresso americano).
O livro, intitulado “A importância de estudar e os fatores que podem levar ao abandono escolar”, foi feito por uma turma de 35 alunos de ensino médio, com supervisão do professor de história, Raphael Cloux.
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Após a publicação, a obra foi enviada ao gabinete pessoal de Lula, presidente do Brasil, e também à sede da Biblioteca do Congresso, através da editora responsável pela publicação, Kawo-Kabiyesile. O livro foi publicado por um financiamento articulado pelo próprio professor com a editora, sem receber repasses públicos.
“O projeto foi lindo, todo mundo ajudou. A gente fez pesquisa e pôde ver que, hoje em dia, são vários fatores que realmente levam ao abandono escolar. As pessoas desistem de estudar por conta de vários fatores”, declarou uma das alunas-autoras, Samia Gonçalves.
O livro foi publicado no fim de 2023, feito pela turma de formandos da escola, que começou a produção quando ainda estavam no 1º ano do ensino médio. Em 2024, a obra foi enviada à Biblioteca do Congresso.
O livro foi publicado no fim de 2023, feito pela turma de formandos da escola, em Amontada, no Ceará.
Arquivo pessoal
O professor Raphael Cloux, que coordenou o projeto, disse que a ideia do livro surgiu após perceber a realidade em que a escola e os alunos estavam inseridos. A unidade escolar fica na zona rural de Amontada, onde a maioria dos alunos são filhos de agricultores.
“Eu fui conhecendo bastante a realidade dos alunos e vendo muita dificuldade no processo da escrita. Eu assumi como diretor de turma dessa turma e eu fiquei pensando em algumas estratégias que eu poderia bolar para estimular a escrita desses meninos que futuramente iriam fazer o Enem”, explicou o professor.
“[Os alunos] não tinham muita base de escrita. Então, a partir daí veio a ideia de produzir um livro. Nós não escolhemos qualquer tema. Escolhemos um tema que toca muito diretamente nesses meninos e meninas que é a evasão, o abandono escolar”, destacou o professor.
Raphael disse ainda que os próprios alunos foram identificando quais eram os problemas relacionados à evasão. “Então, foi lento o processo, não foi tão rápido, para despertar neles a compreensão da realidade deles e dos fatores que poderiam fazer com que algum deles fosse exatamente vítima desse processo”, complementou.
Linguagem acessível
O professor disse que, entre os vários estilos de texto possíveis, escolheu a redação, pois ajudaria também na preparação dos alunos para o vestibular. No entanto, outra linguagem também foi abordada no livro: o desenho. E o motivo foi ampliar (e ao mesmo tempo aproximar) o público-alvo da publicação.
“Muitos pais desses meninos não sabem ler. Eles são analfabetos funcionais. A nossa realidade na zona rural é essa. Os pais deles, a grande maioria, pode se dizer que 60%, são analfabetos funcionais. Então, a ideia também foi que o livro ficasse acessível para os familiares deles”, explicou Raphael.
“Para que os familiares também conseguissem entender, a partir de uma outra expressão que não fosse somente o texto, o que está na cabeça deles, o que eles pensam e no que eles estão refletindo.
“Para que os familiares também conseguissem entender, a partir de uma outra expressão que não fosse somente o texto, o que está na cabeça deles, o que eles pensam e no que eles estão refletindo”, complementou o professor.
Fazer as famílias de alunos entenderem o problema da evasão escolar ganha força especialmente quando o país vive um cenário em 8,8 milhões de brasileiros de 18 a 29 anos não terminaram o ensino médio e não frequentam nenhuma instituição de educação básica, segundo informações coletadas pela PNAD Contínua. Considerando todas as faixas etárias, são 68.036.330 cidadãos sem a escolarização básica no país.
E os problemas, que causam a evasão escolar, foram elencados pelos próprios alunos — olhando para as próprias realidades. “O tema tocou muito para eles, porque quando a gente vai ver quais são os motivos que podem levar ao abandono, a gente entra nos problemas da sociedade”, comentou Raphael.
“A gravidez na adolescência, o consumo exacerbado de drogas, o tráfico de drogas, ter de trabalhar para poder sustentar, ajudar a sustentar a família. Tem depressão, automutilação, ansiedade. Então, assim, são temas que tocaram muito eles e alguns, inclusive, vivenciaram, algum desses elementos, ou viram seus familiares abandonarem a escola por conta de um desses motivos”, complementou o professor de história.
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