Minissatélites construídos por estudantes de Sorocaba captam radiação emitida na origem do universo: ‘Investigação do cosmos’


Caio Nogueira e Luiz Fernando Alves Santos, que começaram os trabalhos no ensino médio, agora estão no 1º ano do curso de automação industrial na ETEC Armando Pannunzio. Minissatélites construídos em Sorocaba captam radiação da origem do universo
Os estudantes Caio Nogueira e Luiz Fernando Alves Santos anteciparam nesta semana os resultados obtidos por dois minissatélites, construídos por eles, lançados em 1º junho, no Parque das Águas, em Sorocaba (SP), para a órbita terrestre.
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Os equipamentos lançados chegaram a 19 mil metros de altitude, na chamada órbita média da Terra. Após as captações, eles iniciam o processo de pouso, que ocorreu a 150 quilômetros de Sorocaba, na cidade de Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo.
Os dois minissatélites tinham funções específicas. Um era para captar dados sobre radiação e o segundo para obter dados meteorológicos, incluindo temperatura, altitude e pressão.
Imagem de parte da Terra captada por minissatélites construídos por estudantes de Sorocaba (SP)
Reprodução/TV TEM
Os estudantes começaram os trabalhos ainda no ensino médio, em 2023, e agora estão no 1º ano do curso de automação industrial na Etec Armando Pannunzio. Eles são coordenados pela professora Yolanda Bezerra de Andrade.
“A partir do momento que a gente conseguiu recuperar os cubesats [satélite em miniatura] é que a gente pôde começar a fazer extração dos dados que estavam no cartão de memória em cada satélite. Então, pegamos esses cartões de memória, baixamos os dados para fazer a análise”, conta a professora Yolanda Bezerra de Andrade.
Os estudantes, que têm 16 anos e são apaixonados por programação e astronomia, falam sobre o que foi captado.
“No ponto máximo atingido pela altitude alcançada pelo satélite, os dados coletados de radiação são de aproximadamente 0,8 millisieverts [unidade usada para dar resultado em radiação ionizante]. Enquanto isso, os dados de temperatura alcançados pelo satélite são de aproximadamente 40 graus abaixo de zero e é importante ressaltar que os dados de radiação ionizante coletados são relativamente comuns naquela altitude, sendo quase a mesma dose de radiação que está presente em um voo comercial”, explica Luiz.
Nesse caso, conforme o estudante, o objetivo principal da missão é coletar radiação cósmica de fundo. “Ela é remanescente do Big Bang, e que hoje em dia conseguimos detectar na faixa de micro-ondas do espectro eletromagnético. Com ela, podemos entender melhor a composição, forma e evolução do universo”, lembra.
Estudantes de Sorocaba (SP) participam de projeto com lançamentos de satélites
Divulgação
Um dos minissatélites que foi enviado pelos estudantes tinha um contador geiger para identificar as partículas alfa, que compõe o núcleo átomo.
“A radiação cósmica de fundo é um ‘ruído’ e pode ser explicada como um vestígio, um fóssil da origem, do início do universo”, explica Yolanda. “Ela permite a investigação do cosmos desde seus primeiros instantes: de sua formação, e até os dias atuais.”
Pressão
Projeto começou com alunos do ensono médio começou no ano passado, em Sorocaba (SP)
Divulgação
“Esse ruído que é o tipo de radiação que a gente estava tentando captar com um dos CubeSats. Aí a gente aproveitou a missão também para fazer a captura de dados atmosféricos”, lembra a professora, que atua como orientadora pedagógica de projetos da rede municipal da cidade.
“Analisamos a pressão atmosférica em HPA, hectopascais [nível médio do mar], e fica claro que, conforme vai subindo, menor fica a pressão. No apogeu [maior altitude alcançada pelos minissatélites], a pressão medida foi de aproximadamente 50 hectopascais, dados esse que já esperávamos com nossas previsões”, diz Caio, sobre a outra parte do projeto.
Ele lembrou que, com a altitude no nível do mar, a pressão chega a 1013 hectopascais.
“Só foi possível termos confiança nessa missão devido aos testes que fizemos com o satélite no ano passado na UFSCar, campus São Carlos, por ocasião da terceira fase da Segunda Obsat [Olimpíada Brasileira de Satélites]. Lá, realizamos testes de estabilidade, interferência eletromagnética e funcionamento em temperatura criogênica.”
A missão durou 2h30, do lançamento até a queda. O dispositivo levava informações sobre a origem do projeto, além de contatos. O resgate foi feito pela Guarda Municipal de Mogi das Cruzes.
Busca de ajuda
Empolgados com os resultados, o projeto foi inscrito na Mostra Nacional de Robótica (MNR). O grupo está classificado para a final, em 15 de novembro, em Goiás. Entretanto, eles não têm recursos para a viagem.
“A gente também está atrás de aporte financeiro para poder levar os meninos para lá e apresentarem o projeto de CubeSat deles. Inclusive, eles estão concorrendo a bolsas de estudos pelo CNPQ”, diz a professora. O custo da viagem é de cerca de R$ 2 mil.
Os professores de física César Hipólito, doutorando pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e Sérgio Shimura, professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba, também participam do projeto.
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