Um dos maiores museus a céu aberto da América Latina: conheça artistas da ‘street art’ com exposição no MAUB, em Belém

Reinauguração do museu foi no domingo, 10, com dez horas de programação gratuita e shows de artistas ligados à arte de rua, como Djonga, Pelé do Manifesta, Nic Dias e DJ Morcegão. Seis mil metros quadrados é o tamanho de um dos maiores museus a céu aberto da América Latina, o Museu de Arte Urbana (MAUB) reinaugurado no domingo (10) em Belém.
Foram 19 obras pintadas por 21 artistas, em muros e painéis, dando vida a um dos pontos turísticos da capital paraense, o Complexo Ver-o-Rio, às margens da Baía do Guajará. Na inauguração, foram dez horas de programação gratuita, com shows de artistas como o Djonga, Pelé do Manifesto, Nic Dias e DJ Morcegão.
Desde outubro, os artistas, que saíram de várias regiões do Brasil e do mundo, viveram um intercâmbio criativo em Belém com talentos locais. A ideia é que eles compartilhassem histórias, técnicas, para tornar o complexo uma referência para amantes de street art – a arte das ruas.
Esta é a segunda edição do projeto, que traz a produção de um livro com fotos das obras do primeiro ano, 2023, documentando o crescimento do projeto. Um catálogo on-line também reúne informações sobre as obras e os artistas. O projeto foi aprovado pela Sonique Produções na Lei Federal de Incentivo à Cultura e patrocinado pelo Nubank e pelo Instituto Cultural Vale.
Intercâmbio cultural
Idealizador do MAUB, Gibson Massoud explicou que um edital público seleciona os artistas que participarão da exposição que fica por um ano no Ver-o-Rio, entre eles, dois artistas paraenses que se destacaram no maior paredão, com 2 mil metros quadrados.
“Ano passado, tivemos 64 inscrições, e esse ano mais que o dobro, foram 135 inscrições de artistas do Brasil inteiro, dos mais diversos estilos. Os temas são livres, mas mesmo assim vários artistas acabam pintando o cotidiano da Amazônia, mesmo com essa pouca experiência com eles estão aqui, há poucos dias, eles acabam relatando na parede algo como um artista mineiro que pintou um pé de açaí”.
Gibson Massaud, idealizador do MAUB em Belém
Segundo Massaud, os elementos tradicionais da cultura amazônica representados nas obras “é um retrato claro do que é esse intercâmbio cultural feito com artistas locais, com a produção e com a população, que passa pelo MAUB e se sente representada”. Além dessa troca de experiências, ele afirma que o projeto tem ajudado na economia local.
“A gente acredita muito no poder transformador da arte, seja visualmente quando aquela arte te impacta quanto até economicamente. Se a gente for conversar com os permissionários aqui do complexo do Ver-o-Rio, a arte transformou a vida deles de outra maneira. Eles têm um fluxo muito maior de pessoas, muito maior de turistas, e tudo isso faz eles conseguirem faturar mais e manter seus empregos em seus negócios ativos”.
Conheça, a seguir, alguns artistas que tiveram obras destacadas no MAUB:
Em geral, os artistas abordaram temáticas como medicina dos povos originários, fluxo migratório, águas internas e ciclos da mulher, lendas regionais e rituais para apagar o fogo e trazer a vida de volta à Amazônia.
Drika Chagas
A obra de Drika mostra três pessoas, de cores de pele diversas, dançando em meio a uma fagulha de fogo, no meio da mata. Elas estão com máscaras de três animais, com risco de desaparecer do planeta. No fundo, tem árvores queimadas. Mais à frente, o verde volta a aparecer com mais evidência. Para ela, a obra é um chamado para a consciência ambiental:
Drika Chagas explora o imaginário onírico amazônico para falar de consciência ambiental
“Eu quis fazer uma espécie de convite a todos para entrar em um ritual de uma dança para por fim ao fogo, de um apagamento nesse processo climático que a gente está passando, onde os animais e os seres humanos estão sofrendo com todo esse processo de desmatamento, de queimadas. Para cá eu trago três animais que estão no topo da extinção, o gato maracajá, o gavião-real e o macaco-prego, e esses três personagens estão nesse processo de dança de apagamento do fogo”.
Luis Junior
A obra de Luis Junior, abridor de letras de Igarapé-Miri, interior do Pará, foi feita em parceria com Filipe Grimaldi, que aborda as letras nos pequenos mercadinhos locais paraenses. Luis explora a arte de pintar os barcos que navegam pelos rios da Amazônia, uma tradição ribeirinha. No projeto, ele desenhou a palavra “Bem-Me-Quer”, enquanto Grimaldi traz os elementos dos pequenos mercadinhos.
Luis Junior, abridor de letras, conta como tradição ribeirinha se torna arte na Amazônia
“Faz trinta anos que eu vivo do ofício de abrir letras, graças a Deus, quando essa arte vai para um patamar mais visível do público, e começa a aparecer em encomendas, lembranças, até parar nos museus, como o MAUB. Então fico muito feliz dessa arte ter a dimensão que tem hoje, e chegar a um museu como esse que tem muitos artistas de fora, nomes importantes, então é como uma vitória para nós”.
Fabio Graf
A aposta de Graf é a ancestralidade indígena a partir do contato com povos de etnias como Xikrin e Kayapó, no Pará. Ele apresenta, então, um contexto de reconexão do homem com a natureza a partir das práticas tradicionais. A inspiração vem do contato que ele teve com a medicina indígena, mais especificamente o rapé, mostrando a relação cultural do homem com o meio ambiente.
Fabio Graf fala sobre a arte que celebra a ancestralidade afro-indígena
“Tenho a concepção que a gente está se retornando a ser natureza, porque a gente nasce natureza, cresce natureza e o envolver da nossa sociedade, tudo que a gente consome, o que a gente é educado a consumir, isso vai fazendo com que a gente vá se dispersando desse viver a natureza e ser natureza no nosso interior. Então esse trabalho vem conceber esse conceito de voltar a ter essa conexão, de voltar a ter esse acesso aos nossos ancestrais”.
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