Entenda o que é a Arte Santeira em Madeira do Piauí, tornada patrimônio cultural do Brasil


As primeiras obras do mestre Dezinho, patrono da arte santeira no Piauí, estão na Igreja de Lourdes, em Teresina. Por isso, o templo também foi reconhecido como patrimônio e tombado pelo Iphan. Arte santeira em madeira do Piauí é reconhecida como patrimônio cultural do Brasil
Lívia Ferreira/g1
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reconheceu nesta segunda-feira (11) a arte santeira em madeira do Piauí como Patrimônio Cultural do Brasil. Assim como o tombamento da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, em Teresina, por conter as primeiras obras de mestre Dezinho, patrono da arte santeira no estado.
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O relator Dr. José Reginaldo Santos, conselheiro patrimonial do Iphan e professor de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deu seu parecer favorável para o registro da arte e tombamento do templo. Depois, os 15 conselheiros do instituto votaram.
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O processo teve início em 2008 quando mestre Expedido entregou ao Iphan o pedido de registro – abaixo-assinado com 20 assinaturas, solicitando reconhecimento do Ofício e Modos de Fazer Arte Santeira do Piauí como Patrimônio Cultural do Brasil.
Arte santeira em madeira
Arte santeira em madeira do Piauí é reconhecida como patrimônio cultural do Brasil
Lívia Ferreira/g1
Conforme o Iphan, a Arte Santeira em Madeira do Piauí é uma manifestação plástica que utiliza a madeira como matéria-prima. As obras carregam características artísticas e culturais nos entalhes em madeira. Geralmente, as peças são esculturas tridimensionais como santos, caboclos, oratórios, painéis e peças de mobiliário.
Cada santeiro, como são denominados os artistas, define um estilo próprio. Eles são inspirados pelo cotidiano e seus modos de vida. No Piauí, há registros de santeiros em Teresina, José de Freitas, Campo Maior, Pedro II, Parnaíba e Inhuma.
Mestre Dezinho, patrono da arte santeira no estado, assim como outros artistas, começou trabalhando na madeira com a confecção de ex-votos (pinturas, estatuetas e variados objetos doados às divindades como forma de agradecimento por um pedido atendido) de partes do corpo humano feitos de madeira.
A cultura dos ex-votos, segundo o Iphan, permeia toda a arte santeira, tendo como elo a madeira em comum utilizada nas obras. São utilizadas madeiras da região, como imburana de espinho, imburana de cheiro, louro e cedro.
Apesar de a maioria das esculturas representarem personagens sagrados, elas carregam referências visuais ligadas ao agreste piauiense, tendo carnaúbas, bacuraus (pássaro), mandacarus e outros elementos da fauna e flora como motivos decorativos. Além disso, há também esculturas de personagens mundanos.
Características
Arte santeira em madeira do Piauí é reconhecida como patrimônio cultural do Brasil
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As peças de arte santeira do Piauí têm a simplicidade como fator comum. Nos anjos, santos, painéis e oratórios são constantemente representados de frente, e com um arranjo bastante simétrico. Algumas das peças dos santeiros é o acabamento monocromático (apenas uma cor, geralmente a cor da madeira).
Confira características das obras de santeiros do Piauí, segundo o Iphan:
As expressões dos rostos dos personagens trazem curvas nas sobrancelhas, sugerindo atitude contemplativa, repreensiva ou compassiva;
Os olhos são definidos como grandes órbitas sem íris ou, se existem, são proeminentes em vidro (bolinhas de gude), ou coloridas com cera;
As dimensões variam das peças de 25 centímetros às de tamanho natural, medidas que correspondem à função de decoração doméstica ou de igreja, exposição em feira de arte popular ou em loja de souvenir;
Nos santos e figuras sagradas, conforme o Iphan, as mãos ficam em oração, juntas ao peito. Os detalhes decorativos das túnicas lembram a paisagem e a religiosidade do Piauí.
Nos anjos, as asas são talhadas em separado, como um par simétrico decorado com relevos sobrepostos de meias elipses que representam as penas. As asas são fixadas com parafusos que encaixam cada asa em uma curva para o interior na parte posterior da escultura. Os detalhes das asas também são frontais, e sua fixação pode deixar as pontas para cima ou para baixo, criando um segundo plano que exalta o plano principal da figura.
Diversidade
Arte santeira em madeira do Piauí é reconhecida como patrimônio cultural do Brasil
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A diversidade entre as peças na Arte Santeira do Piauí é expressa na pluralidade de dimensões, acabamentos, expressões fisionômicas, temas e detalhes. Segundo o Iphan, essas diferenças comunicam a cultura dos santeiros que as produzem.
Há, por exemplo, alguns escultores de Parnaíba, no Norte do Piauí, que são considerados santeiros apesar de não esculpirem personagens sagrados. Por ser uma cidade turística e ligada às praias, os artistas da região viram crescer a demanda por peças mundanas, e passam a retratar cenas cotidianas e trabalhadores.
Por meio desses detalhes é possível perceber se, por exemplo, se o artista é devoto ou se deixou de ser praticante da religião; se é autodidata ou se aprendeu na oficina de um mestre; se começou como fabricante de ex-votos; se trabalhou anteriormente como marceneiro; se confecciona as próprias ferramentas, entre outras.
Contudo, a semelhança entre as peças são a inspiração depositada pelos artistas na madeira. Dessa forma eles lidam com a religiosidade vivida em sua família e comunidade, por meio das experiências coletivas. Cada peça é única e carrega nela seu próprio sentido e particularidades.
De acordo com o Iphan, o registro da arte contribui com a caracterização das peças de arte santeira do Piauí como uma manifestação plástica da cultura popular.
Processo de registro
Arte santeira em madeira do Piauí é reconhecida como patrimônio cultural do Brasil
Lívia Ferreira/g1
Em 2008, o Conselho de Jovens Artesãos de Teresina e Memorial Mestre Dezinho, encaminhou ao Ministério da Cultura, presidido na época pelo cantor Gilberto Gil, o pedido de registro da “Arte Santeira em Madeira no Piauí” como Patrimônio Cultural do Brasil.
O documento continha um abaixo-assinado composto por 20 membros do Conselho de Jovens Artesãos e uma lista com 140 nomes de artesãos das cidades de Teresina, Pedro II, José de Freitas, Parnaíba, Campo Maior e Inhuma.
Assim, deu-se inicio ao processo de registro da arte santeira como patrimônio do Brasil. Mas foi na década de 1970 que essa movimento ganhou repercussão nacional e mundial com o trabalho de confecção do cristo, santos, ornamentos e mobílias da Igreja Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Vermelha, Zona Sul de Teresina, por mestre Dezinho.
Confira mais fotos da arte santeira em madeira do Piauí:
Arte santeira em madeira do Piauí é reconhecida como patrimônio cultural do Brasil
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