Antiviral para mpox não reduziu sintomas da variante mais perigosa, diz análise

Uma análise inicial de um estudo clínico mostrou que o antiviral tecovirimat, utilizado para o tratamento da mpox, não reduziu a duração das lesões causadas pela doença em crianças e adultos infectados com o clado 1, variante mais letal e responsável pelo atual surto na República Democrática do Congo (RDC). Os resultados preliminares foram divulgados em comunicado à imprensa feito pelos National Institutes of Health (NIH) — conglomerado de institutos de saúde dos Estados Unidos — na quinta-feira (15).

Por outro lado, a análise observou uma mortalidade menor (1,7%) entre os participantes do estudo, independentemente de terem recebido ou não o medicamento, em comparação com a mortalidade por mpox entre todos os casos relatados na RDC (3,6%). Isso significa que melhores desfechos de saúde podem ser alcançados quando pessoas com mpox são hospitalizadas e recebem cuidados de suporte de alta qualidade.

“Essas descobertas são decepcionantes, mas nos dão informações essenciais e reforçam a necessidade de identificar outros candidatos terapêuticos para mpox enquanto continuamos a pesquisa sobre o uso de tecovirimat em outras populações com mpox”, afirma a diretora do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), Jeanne Marrazzo, em comunicado divulgado pelo NIH.

“Continuamos comprometidos em desenvolver intervenções seguras e eficazes, incluindo tratamentos e vacinas, que podem aliviar a devastadora carga de mpox na África Central e abordar a forma mais branda do vírus que está circulando globalmente”, acrescenta.

Como o estudo foi feito e quais são os próximos passos

As análises iniciais divulgadas recentemente fazem parte do estudo PALM007, lançado em outubro de 2022 pelo NIAID e pelo Institut National de Recherche Biomédicale (INRB), da RDC. O objetivo era examinar a eficácia e segurança do tecovirimat para o tratamento de mpox em adultos e crianças. O estudo inscreveu 597 pessoas com mpox confirmado em laboratório em dois locais na RDC.

Os participantes do estudo foram designados, de forma aleatória, a receber tecovirimat ou placebo e foram internados em um hospital por, pelo menos, 14 dias. No local, foram monitorados de perto quanto à segurança e resolução das lesões de mpox. Segundo o estudo, todos os participantes receberam cuidados de suporte, incluindo nutrição, hidratação e tratamento para infecções secundárias.

Apesar de a análise preliminar não ter observado a melhora na duração das lesões causadas pela doença em participantes com o clado 1 do vírus, o tecovirimat foi bem tolerado, sem eventos adversos sérios relacionados ao medicamento.

Análises adicionais estão planejadas para entender melhor os resultados observados no estudo, incluindo se houve alguma diferença significativa nos resultados clínicos por dias de sintomas antes da inscrição, gravidade da doença clínica, características dos participantes ou a variante genética do mpox sendo tratada.

“Este estudo forneceu evidências urgentemente necessárias para orientar a resposta à mpox na África Central”, diz co-pesquisador principal Jean-Jacques Muyembe-Tamfum, diretor-geral do INRB e professor de microbiologia na Escola Médica da Universidade de Kinshasa em Kinshasa, na RDC.

“Embora não seja o que esperávamos, os resultados mostram que os clínicos do estudo forneceram cuidados de suporte excepcionais a todos os participantes, o que é uma prova do conhecimento e da habilidade que os clínicos congoleses adquiriram no gerenciamento de doenças relacionadas à mpox”, acrescenta.

O que é tecovirimat?

O antiviral tecovirimat foi desenvolvido para o tratamento da varíola comum, mas foi licenciado em 2022 pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para tratar mpox, com base em dados de estudos em animais e humanos. No mesmo ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) dispensou, em caráter excepcional e temporário, a dispensa do registro do medicamento importado pelo Ministério da Saúde, em virtude do surto que acontecia na época e que atingiu o Brasil.

Em estudos com animais, o tecovirimat demonstrou diminuir a chance de morte por infecções por ortopoxvírus, como o vírus da mpox, quando administrado no início da doença. Em pessoas, uma série de casos de indivíduos infectados com o vírus, que incluiu um paciente tratado com tecovirimat, sugere que o medicamento pode encurtar a duração da doença e a disseminação viral. Os resultados foram publicados na revista científica Lancet em 2022.

De acordo com os Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, o tecovirimat pode ser considerado para tratamento em pessoas infectadas com o vírus da mpox com doença grave, como casos hemorrágicos, lesões grandes que se encontram, sepse, inflamação do cérebro (encefalite) e outras condições que requerem hospitalização.

O uso do antiviral também pode ser indicado a indivíduos com uma ou mais complicações, como infecção bacteriana secundária, gastroenterite com náuseas e vômitos graves, diarreia ou desidratação ou outras comorbidades. A OMS recomenda que o uso do tecovirimat seja monitorado em um contexto de pesquisa clínica com coleta de dados prospectivos.

Mpox: entenda o surto com variante mais letal

Este conteúdo foi originalmente publicado em Antiviral para mpox não reduziu sintomas da variante mais perigosa, diz análise no site CNN Brasil.

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