O que é a igreja Bola de Neve, fundada por apóstolo Rina, que morreu após acidente de moto


Congregação evangélica tem unidades em mais de 30 países e ganhou destaque por abordagem que foge do tradicional. Pastor Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, de 52 anos, estava afastado da Bola de Neve desde junho
Reprodução/Instagram
O fundador da igreja evangélica Bola de Neve, conhecido como Apóstolo Rina, faleceu em um acidente de moto no domingo (18/11).
O pastor Rinaldo Luiz de Seixas Pereira, de 52 anos, estaria voltando de um culto quando se acidentou em uma rodovia em Campinas, no interior de São Paulo.
Segundo a concessionária responsável pela administração da via, Rina chegou a ser resgatado, com uma fratura na clavícula, e encaminhado ao hospital, mas não resistiu.
A igreja Bola de Neve afirmou, em nota: “Neste momento de grande tristeza, nos colocamos em oração por sua família, amigos e toda a igreja que foi tão abençoada por seu ministério, deixando um legado que jamais será esquecido”.
A congregação evangélica, fundada em meados da década de 1990, tem unidades em mais de 30 países. Ganhou destaque por sua abordagem que foge do tradicional, com linguagem considerada descontraída, uma postura liberal quanto à vestimenta, piercings e tatuagens, com foco no público mais jovem.
Os cultos também são conhecidos por serem acompanhados por músicas, geralmente de rock, com dançarinos e luzes coloridas. A igreja conta com uma bateria de Carnaval, a Batucada Abençoada.
Apesar disso, a doutrina da Bola de Neve segue os princípios típicos do Neopentecostalismo, como a crença no batismo com o Espírito Santo, dons espirituais e a batalha espiritual.
Há relatos de que a igreja também tenha uma visão crítica ao uso de drogas e álcool – assim como muitas igrejas evangélicas -, conduzindo programas e ações sociais de reabilitação de fiéis.
“Nossa missão é plantar o maior número de Igrejas no menor tempo possível, gerando homens e mulheres conforme a imagem e semelhança de Cristo”, diz a própria igreja em seu site.
Fundação e relação com surfe
Segundo a própria igreja, a história da Bola de Neve se confunde com a de Rina.
Nascido em família evangélica, ele teria começado a organizar reuniões após passar por problemas de saúde e “ter uma experiência pessoal com Deus”.
Em 1999, a congregação passou a se reunir no auditório de uma loja de surfe, emprestado por um empresário, no centro de São Paulo.
Sem púlpito ou mesa disponível para apoiar a Bíblia, a opção foi utilizar uma prancha de surfe, que acabou se tornando marca registrada das igrejas Bola de Neve.
A congregação cresceu nas décadas seguintes, expandindo suas filiais por todo o Brasil e até no exterior, com sedes na América do Sul, na Europa e em algumas cidades na África.
A igreja tem presença forte nas redes sociais e chegou a atrair celebridades convertidas como o surfista Gabriel Medina, a modelo Sasha Meneghel e seu marido, o cantor gospel João Figueiredo.
Durante as eleições presidenciais de 2022 no Brasil, Rina foi um dos pastores que fez campanha pela reeleição de Jair Bolsonaro (PL).
Em 2021, em entrevista à Folha de S.Paulo, o religioso defendeu que templos religiosos continuassem abertos em meio à pandemia da covid-19, apesar do isolamento recomendado para frear o avanço do vírus.
Na ocasião, ele criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de autorizar Estados e municípios a proibirem a realização de missas e cultos presenciais por meio de decreto. “Numa democracia, tem que haver garantias de liberdade religiosa”, disse.
Acusações de violência e abuso
Rinaldo Pereira estava afastado de suas funções na Bola de Neve desde junho, após denúncias de agressão contra a esposa, a pastora e cantora gospel Denise Seixas.
Segundo o portal G1, Denise disse em depoimento à Polícia Civil que sofreu diversos tipos de agressão durante todo o relacionamento com o pastor, de xingamentos a violência física.
Após as denúncias, a Justiça concedeu uma medida protetiva à pastora contra o marido.
Na época, o apóstolo Rinaldo Seixas negou, por meio de sua assessoria, “qualquer prática de violência e confia na apuração isenta e técnica de todos os fatos pela Polícia Civil e Ministério Público”.
Após o caso, pelas redes sociais, a igreja afirmou que seu Conselho Deliberativo e Rina decidiram pelo afastamento para que ele se dedicasse “integralmente a esclarecer os apontamentos apresentados e restabelecer sua saúde e a de sua família”.
A Bola de Neve também anunciou a criação de um canal de ouvidoria para apuração de “possíveis falhas e má conduta”.
“Estendemos nossa verdade e retratação à família Bola de Neve, a qual tanto amamos, e a todos que, de alguma forma, decepcionaram-se com a condução da liderança e, também, para aqueles que um dia saíram feridos por quaisquer falhas cometidas no Ministério. Investimos nossas vidas pela cura, restauração e salvação de famílias, nunca para a destruição”, disse a igreja pelo Instagram na época.
Em um caso separado, Rodolfo Abrantes, ex-integrante da banda Raimundos, afirmou ter sofrido abusos psicológicos de pastores da igreja na sede em Balneário Camboriú, Santa Catarina.
“Eu e minha esposa fomos taxados de irresponsáveis, minha esposa foi chamada de Jezabel, eu fui chamado até de caloteiro”, disse o cantor pelas redes sociais.
A declaração ocorreu 13 anos após Abrantes se afastar da Bola de Neve, após ex-fiéis da igreja denunciarem, também nas redes sociais, supostos desvios de verbas por parte de pastores da mesma sede.
Uma nota divulgada na época pela Bola de Neve na cidade negava estas acusações, afirmando que os pastores não retiraram recursos de instituto criado à parte da igreja.
Morre o apóstolo Rina, fundador da Igreja Bola de Neve
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