Mulheres negras transformam desafios em negócios de sucesso

Com o apoio do Sebrae, empreendedoras inspiram e fortalecem o afroempreendedorismo A força do afroempreendedorismo é impulsionada pelas capacitações do Sebrae.
Divulgação
A trajetória de Thaís Nascimento com tesouras e secadores de cabelo começou ainda na infância, em Uberaba (MG). Inspirada por sua mãe e pela mãe adotiva, que foram suas maiores referências, ela deu os primeiros passos como cabeleireira aos 12 anos e viu sua vida mudar radicalmente ao se tornar mãe aos 14.
“Enquanto mulher preta e de periferia, minha trajetória como empreendedora começou por necessidade, como meio de sobrevivência. Eu precisava gerar renda enquanto lidava com os desafios da maternidade, e segui em frente porque tinha em casa exemplos de mulheres que superavam desafios diariamente. Assim, agindo por instinto, de uma forma longe da ideal, eu sabia que daria o meu jeito – e foi o que fiz”, relata a hoje proprietária do Thaís Nascimento Beauty Studio, um salão especializado em cachos e cabelos crespos, referência em sua região.
Assim como Thaís, grande parte dos 15,9 milhões de pessoas empreendedoras negras enfrenta desafios adicionais, como racismo estrutural, menor faturamento em relação aos brancos, informalidade, pouco acesso a crédito e baixa contribuição previdenciária. “Apenas 26% dos empreendedores negros têm acesso a crédito porque lhes faltam garantias, como imóvel e automóvel. Existe também uma carência de conhecimento sobre gestão e de uma rede de relações que facilite esses negócios”, aponta Fau Ferreira, especialista em Empreendedorismo Negro do Sebrae. Ela destaca a missão do Sebrae nesse contexto: “A gente tanto capacita para que as pessoas saibam como se portar e como construir essas relações, quanto ajuda a construir essas conexões por meio dos nossos cursos e eventos”, completa.
Desempenho recorde, mas um longo caminho a percorrer
Segundo a pesquisa “O novo retrato do negro empreendedor brasileiro sob a Ótica da PNAD Contínua”, realizada pelo Sebrae Nacional, o afroempreendedorismo brasileiro evoluiu entre 2012 e 2023. Mais de 15 milhões de pessoas negras são donas de negócios (DN), ou seja, trabalham por conta própria ou são empregadores.
O percentual de crescimento é recorde: 28%, com taxa de formalização em 24,2% e contribuição à Previdência Social (quase metade do observado entre brancos DN) de 28,7%. Destes, a região Norte destaca-se com o maior percentual de empresários e empresárias negras no país, atingindo 18,6%. A maior parte está no setor de Serviços (41,4%) e Comércio (21,7%).
Ainda assim, há um longo caminho a trilhar. André Spínola, gerente da Unidade de Estratégia e Transformação do Sebrae, destaca a defasagem e os desafios da população negra no empreendedorismo e, em especial, das mulheres. “Embora tenham mais escolaridade do que os homens negros (41,6% com ensino médio completo versus 32,9%, respectivamente), essas mulheres têm renda média habitual 28% menor que a renda dos homens negros. Em relação aos homens brancos, o percentual é 61% menor, mesmo com valor recorde na renda, de R$ 1.769, verificado no 4.º trimestre de 2023. O nosso desafio de inclusão, portanto, se relaciona a gênero e raça, e o Sebrae atua para diminuir sistematicamente essa defasagem”, garante o gerente.
Thaís Nascimento usa seu salão para resgatar a autoestima de mulheres e homens negros.
Acervo pessoal
No caso da empresária Thais Nascimento, o apoio do Sebrae, por meio do acesso à profissionalização, foi um divisor de águas. Ela realizou cursos de Marketing, Finanças e Gestão de Negócios. Mais recentemente, vem participando do Sebrae Delas, um programa que incentiva, valoriza e acelera a jornada de mulheres que empreendem ou querem empreender. “Para mim, educação é um pilar muito importante, e como o crescimento do meu salão veio muito rápido, realizei diversas capacitações em gestão de negócios. No Sebrae Delas, estou desenvolvendo a área de marketing, mídias sociais, inteligência artificial e aspectos mais estratégicos do meu negócio. Isso tudo me traz mais clareza e apoio para um crescimento estruturado. Por isso, a parceria com o Sebrae é tão essencial na minha trajetória”, explica Thaís.
Hoje, seu negócio une o empreendedorismo ao empoderamento de mulheres negras, gerando resultados que vão além do financeiro. “Nosso salão é muito mais do que um espaço de beleza; é um lugar de acolhimento e de resgate da nossa identidade. Por tanto tempo, nos disseram que nossa beleza não era válida, que precisávamos nos encaixar a padrões eurocêntricos inalcançáveis. Aqui, cada mulher pode se ver e se sentir linda exatamente como é. É um processo de cura e de reconstrução, um momento de reafirmação da nossa beleza e do nosso valor. Celebramos o poder de ser quem somos, sem renunciar à nossa história”, comemora Thaís.
Juliana Bonifácio criou um ponto de encontro para celebrar a cultura negra.
Acervo pessoal
Se Thaís usa a força da beleza negra para empoderar mulheres e homens, Juliana Bonifácio, designer de interiores e fundadora do Ateliê Bonifácio, construiu seu empreendimento como uma verdadeira homenagem à ancestralidade e um espaço de resistência. Sua paixão pela cultura afro-brasileira e o desejo de ver representada a riqueza de sua herança foram os motivos que a levaram a abrir o negócio. O espaço nasceu em 2017 como um refúgio para pessoas empreendedoras negras, onde arte, moda e decoração são expressões de identidade e autoestima. “Eu queria criar algo que falasse diretamente ao nosso coração, que nos desse orgulho e refletisse nossa cultura de forma autêntica”, conta Juliana.
O Ateliê Bonifácio se transformou em ponto de encontro, onde a diversidade é celebrada e a representatividade tem voz. “Aqui, cada peça, cada produto carrega nossa história, nosso orgulho. E cada venda significa fortalecer um empreendedor que, assim como eu, encontrou no próprio trabalho uma forma de empoderamento”, diz ela.
Para Juliana, o caminho do empreendedorismo social não foi fácil. Barreiras institucionais e a falta de acesso a recursos e capacitação tornaram o desafio ainda maior. Eraldo Ricardo dos Santos, gerente adjunto da Unidade de Diversidade e Inclusão do Sebrae, ressalta a importância da instituição nesse contexto: “Sabemos dos desafios enfrentados pelos afroempreendedores e estamos aqui para garantir que tenham acesso a capacitações e recursos que lhes permitam competir de igual para igual no mercado. Nosso papel é apoiar e promover negócios sustentáveis e duradouros, contribuindo para uma economia mais justa e inclusiva”, explica.
Juliana encontrou no Sebrae o apoio de que precisava para estruturar seu ateliê e transformá-lo em um ambiente colaborativo e culturalmente significativo. Com a ajuda de capacitações focadas em gestão, marketing e planejamento estratégico, ela desenvolveu habilidades essenciais para profissionalizar sua administração e otimizar seu trabalho em rede com outros afroempreendedores. “O Sebrae foi um divisor de águas. Com o conhecimento que adquiri, pude organizar melhor meu negócio, melhorar o atendimento e até estruturar eventos que fazem do ateliê um verdadeiro espaço cultural,” destaca Juliana.
Juliana encontrou no Sebrae o apoio de que precisava para estruturar seu negócio.
A importância do planejamento para o sucesso do seu negócio
Para garantir a sustentabilidade de qualquer negócio, é essencial ter um planejamento estratégico bem definido. Uma das soluções oferecidas pelo Sebrae para ajudar nesse processo é o PNBOX, uma plataforma digital completa para criar e atualizar planos de negócios de forma prática e acessível. Com 14 ferramentas exclusivas, o PNBOX permite que o empreendedor escolha as funcionalidades que mais precisa no momento, como a matriz de segmentação, o gerador de personas e o funil de vendas. Além disso, a plataforma inclui tutoriais, videoaulas e conteúdos especializados para auxiliar no uso, e permite que o usuário acesse e edite seu plano em qualquer dispositivo.
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