Fala Comunidade: há mais de 2 anos, cultura negra é destaque no quadro do MG1 em Juiz de Fora


Apresentado pela jornalista Letícia Damasceno, quadro da TV Integração nasceu com o intuito de mostrar a potência de moradores das comunidades da cidade. Letícia Damasceno, apresentadora do ‘Fala Comunidade’
Reprodução/TV Integração
Contar histórias, mostrar a realidade e valorizar a cultura negra e periférica. Assim foi criado o Fala Comunidade, em 2022, no MG1 da TV Integração. Apresentado por mim, Letícia Damasceno, o quadro nasceu com o intuito de valorizar aquela parcela da comunidade muitas vezes invisibilizada. Dentro da minha própria vivência enquanto mulher negra e periférica, sentia a necessidade de me ver na tela da TV, através de histórias semelhantes às minhas.
Atualmente, com a sociedade em processo de transformação, em intenso desenvolvimento social, representatividade é a chave para a construção de um futuro mais justo e equitativo.
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Do morador da comunidade até o pequeno empreendedor, de pessoas que deixaram o mundo das drogas até as pessoas que são consideradas anjos, por salvarem tantas outras desse meio, o Fala Comunidade busca com essas histórias, tocar o telespectador a partir da apresentação da realidade dessa parte da população, inclusive sensibilizando aquele que não vive a mesma.
Bastidores de gravação do quadro ‘Fala Comunidade’
Letícia Damasceno/Aquivo pessoal
Nessa concepção, no dia 4 de julho de 2022, foi ao ar a primeira reportagem. À época, mesmo com 7 anos trabalhando na TV Integração, o telespectador precisava me conhecer e com esse intuito, decidimos mostrar a minha comunidade. Então, fui para a Zona Norte de Juiz de Fora apresentar um pouco do que as pessoas podem encontrar por lá, incluindo as ‘vendinhas’ e as vizinhas que conversam na porta de casa no fim de tarde e o meu trajeto até a sede da emissora no Mariano Procópio, todo dia pela manhã.
Essa primeira edição do Fala também trouxe alguns momentos marcantes, como a Tábata Poline, repórter do Fantástico, falando sobre a importância de uma mulher preta, periférica ocupar um espaço como esse. Com esse mesmo objetivo, a presença da Eliane Moreira, atualmente repórter da TV Anhanguera, dividindo esse momento comigo, segurando a minha mão e a mensagem surpresa do apresentador da Globo Minas, Vagner Tolendato, um exemplo do jornalismo preto e das pautas sociais e comunitárias na região.
De forma clara, esse momento representou muito para mim, conectando o sonho com a realidade e contando com o apoio dos meus semelhantes, porque como diz a filosofia Ubuntu, ‘eu sou porque nós somos’.
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Histórias e histórias
Letícia Damasceno ao lado de crianças durante gravação
Letícia Damasceno/Aquivo pessoal
Já contamos mais de 100 histórias no Fala Comunidade. Cada uma dessas pessoas compartilhou comigo parte do seu tempo e da sua vida, me recebeu na casa, no bairro, no trabalho, sempre cercada de carinho, certa vez com uma mesa de café ou com doce de figo, que não nego que gostamos muito.
Uma outra forma de retorno desse carinho é através do WhatsApp da emissora. Recebemos frequentemente a participação do telespectador através da rede social e com retornos significativos, onde conseguimos perceber a representatividade de forma efetiva, como nos cabelos.
O movimento negro trava uma luta por reconhecimento e valorização das características físicas da população preta há anos e dentre elas, o cabelo é uma das mais representativas. Exaltar o próprio cabelo era uma coisa que eu não fazia e não via motivo em fazer, porém, desde quando criei essa conexão com a minha ancestralidade, me reconheci de fato a partir das minhas origens, tenho um compromisso pessoal de levar isso adiante, principalmente com os mais novos.
Usar uma trança nagô em um telejornal pode não ser uma novidade, mas ainda não é constância e receber uma foto de uma criança copiando um penteado afro, que eu usei, é muito significativo.
Telespectadora mirim se inspirou no cabelo da apresentadora
Letícia Damasceno/Aquivo pessoal
Uma das histórias que mais me marcou nesses mais de dois anos de quadro, foi a da Sheila. Uma mulher de 34 anos, que por 17 anos foi usuária de crack. Chegou a ser presa, mas foi acolhida por um projeto social. Assim, há poucos meses da nossa gravação, ela retornou para Juiz de Fora, já sem consumir drogas e para viver com as filhas, na época com 2 e 4 anos. Ela recebe auxílio social, mas continua a vender seus doces no sinal.
O que mais motivou a Sheila a largar as drogas foram as filhas. Ao longo de sua vida, ela teve ao todo 5 filhos, porém somente as duas estão com ela, devido ao histórico de rua e drogas. Para ela, faltou forças em muitos momentos, mas não a fé.
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Outro momento muito marcante para mim, e para o Fala Comunidade, foi estar em São Paulo para o Negritudes Globo. O evento, que tem como objetivo debater e celebrar a presença de pessoas negras no audiovisual nacional, reuniu mais de 5 mil pessoas no Sesc Pompeia. Tive a oportunidade de conversar com grandes nomes pretos da televisão brasileira, como Thiago Oliveira, além de Conceição Evaristo, uma das maiores personalidades da literatura contemporânea feminina brasileira e Daiane dos Santos, uma referência negra no esporte brasileiro por ser a primeira mulher negra a conquistar um título mundial de ginástica artística. Um evento rico de conteúdo e que potencializa o povo preto.
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Para finalizar esse nosso momento de memórias, convido a todos a assistirem uma reportagem onde falamos sobre o ballet na periferia. Jovens negros que se encantaram pela dança e se desdobram entre a rotina de estudos, trabalho e o sonho de se tornarem bailarinos reconhecidos mundialmente. A arte é uma das pautas que não sai do Fala Comunidade, pois ela está presente na periferia e transforma a vida desses jovens.
A cultura pulsa nas periferias brasileiras, inclusive por meio de artes consideradas mais eruditas, e que no passado já foram consideradas exclusivas da alta sociedade. Embora muitas pessoas sigam ignorando as artes periféricas, seja por preconceito ou falta de informação, expressões artísticas ganham força nas comunidades.
Nessa reportagem, nós contamos a história do Gabriel, de 21 anos, que já trabalhou como servente de pedreiro, lidou com o preconceito e já ganhou prêmios como bailarino revelação, no solo de neoclássico. Também mostramos a história dos irmãos Busmeyer, Vitória e Willhiana, moradores do Bairro Jardim Gaúcho em Juiz de Fora.
Eles iniciaram no ballet dentro da igreja, nada profissional, e depois foram para um projeto social no bairro Granjas Bethânia, que foi uma ponte para que eles conseguissem uma bolsa em uma escola de dança. Lembrando que são três jovens, duas mulheres e um homem, negros, em vulnerabilidade social e que se destacam na dança e se desdobram para realizar o sonho deles. O que mais me tocou nessa reportagem foi o apoio incondicional dos pais.
Demais familiares achavam uma loucura, meio fora da realidade, porém já foram para a Royal Academy Of Dance, uma das mais influentes organizações de educação em dança do mundo, foram premiados lá, além de outros prêmios em Juiz de Fora e região. O contato com eles me marcou muito, porque mesmo diante de toda a dificuldade, eles já conseguiram chegar a lugares que antes eram considerados impossíveis e isso motiva.
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Como participar?
Quero continuar a contar histórias e por isso, conto com a sua participação nesse quadro, afinal, ele também é para você. Envie sugestões de pauta, histórias do seu bairro, sua história para o WhatsApp da TV Integração: (32) 9-9925-0053. Espero você!
Gravação do ‘Fala Comunidade’
Letícia Damasceno/Aquivo pessoal
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