Polícia indicia três pessoas por causa de acidente com micro-ônibus que matou cinco e deixou 29 feridos em procissão de Páscoa


Motorista do veículo, dono do coletivo e pai do permissionário da linha foram indiciados por homicídio e lesão corporal com dolo eventual, quando se assume o risco mesmo sem intenção de matar. Ninguém foi preso. Polícia Civil divulgou conclusão do inquérito do atropelamento de fiéis por micro-ônibus em Jaboatão em coletiva no Recife
Artur Ferraz/g1
A Polícia Civil indiciou três pessoas por causa do acidente com o micro-ônibus que atropelou 34 vítimas durante uma procissão para o domingo de Páscoa em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Do total de atropelados, cinco morreram e 29 ficaram feridos. Foram indiciados o motorista do veículo, o dono do coletivo e o pai do permissionário, que gerenciava a linha junto com o filho. Ninguém foi preso.
O indiciamento dos três foi por homicídio e lesão corporal com dolo eventual, quando se assume o risco mesmo sem a intenção de matar. As informações sobre a conclusão do inquérito que investigou o acidente foram divulgadas pela Polícia Civil em entrevista coletiva nesta quinta-feira (21), quase oito meses depois do atropelamento, ocorrido no dia 31 de março (relembre o caso mais abaixo).
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O acidente aconteceu na Avenida Barreto de Menezes, no trecho conhecido como “ladeira da Adelaide”. O veículo de transporte complementar, que fazia a linha 118 – Marcos Freire/Barra de Jangada e estava sem passageiros, desceu a pista desgovernado quando os participantes da procissão passavam no local.
Após bater no muro de uma escola, o coletivo só parou com o atrito dos corpos das vítimas no chão. No dia do acidente, quem dirigia o micro-ônibus era um idoso de 74 anos. Ele é pai de um motorista que pagava uma diária ao permissionário para trabalhar na linha transportando passageiros. A prática de alugar veículos para terceiros não é permitida pela prefeitura.
De acordo com o delegado Gilberto Loyo, antes do acidente, o ônibus apresentou problemas no sistema de freios e o motorista ligou para o permissionário e o pai dele, que o ajudaram a levar o coletivo para a garagem.
“Em vez de chamar um reboque, eles manipularam o sistema de freios, destravando as rodas traseiras para fazer esse veículo pegar no empurrão”, contou o delegado.
Ainda segundo Gilberto Loyo, depois que conseguiram ligar o motor, o veículo seguiu viagem até o local por onde passava a procissão. Devido à quantidade de gente na via, fazendo o motorista parar o carro várias vezes, o freio deixou de funcionar, o que fez o micro-ônibus derrapar na ladeira.
“O veículo não tinha mais freio. A decisão do motorista foi jogar o veículo na calçada. Uma decisão que potencializou a capacidade de causar danos, já que havia pessoas caminhando na calçada”, afirmou o delegado.
Loyo também disse que o motorista poderia ter evitado o atropelamento se tivesse colidido com algum dos veículos que estavam na via.
“O fator determinante foi realmente a falta de freio. Mas o fator contribuinte foi a conduta do motorista”, declarou o policial rodoviário especialista em perícia Marco Aurélio Santana, que participou das investigações.
Ele informou que o micro-ônibus estava numa velocidade muito baixa e que o acidente era evitável. “Ele poderia, sim, ter deixado o carro colidir na traseira dos demais. Havia seis carros entre o ônibus e as pessoas. Então, esses seis carros tinham freios suficientes para sustentar um micro-ônibus vazio”, detalhou o policial.
Conforme informado pelo delegado, quando o micro-ônibus apresentava algum problema, o motorista acionava o pai do permissionário.
“Ele pagava um valor para rodar com esse ônibus. Ao final, ele pagava e ficava com o resto da arrecadação. Quem resolvia as demandas de conserto, dos reparos, da manutenção desse veículo era, principalmente, o pai do permissionário”, explicou Gilberto Loyo.
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O acidente ocorreu na tarde do domingo de Páscoa, dia 31 de março, na Avenida Barreto de Menezes, no bairro de Marcos Freire, num trecho conhecido como “ladeira da Adelaide”, pois fica perto da Escola de Referência em Ensino Médio Adelaide Pessoa Câmara;
Imagens enviadas à TV Globo registraram o momento em que o micro-ônibus desceu a ladeira desgovernado e atropelou os fiéis que participavam da procissão, organizada pela Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (veja vídeo acima);
O micro-ônibus, que operava a linha 118 – Marcos Freire/Barra de Jangada e tem autorização do município para circular como transporte complementar, não levava passageiros no momento do acidente;
O veículo saiu da praça do terminal de ônibus de Marcos Freire e seguia para a Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro quando derrapou na pista e atingiu 34 fiéis;
Do total de vítimas atropeladas, cinco morreram após o acidente e 29 ficaram feridas — ao menos uma delas ficou com sequelas graves;
O motorista fugiu após o atropelamento, mas foi identificado pela prefeitura de Jaboatão dos Guararapes, que não divulgou o nome dele;
Ao g1, por telefone, a secretária de Serviço Social de Jaboatão dos Guararapes, Maria Jacinta da Silva, confirmou que faltou freio ao micro-ônibus durante o percurso;
No dia seguinte ao acidente, o motorista prestou depoimento na Delegacia de Prazeres.
Em entrevista à TV Globo, a advogada Dayse Martins, que representa o proprietário do micro-ônibus, disse que o veículo tinha sido alugado para outro motorista e informou que era o pai desse motorista quem dirigia o coletivo no momento do acidente.
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Micro-ônibus que atropelou fiéis em procissão em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife
Reprodução/TV Globo
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