Nove em cada 10 pessoas negras já sofreram racismo em lojas de luxo, diz pesquisa

Um estudo mostra que 9 em cada 10 pessoas negras, das classes A e B, já sofreram algum tipo de situação racista em lojas de luxo no Brasil.

A pesquisa “Racismo no Varejo de Beleza de Luxo” analisa o tratamento e a percepção de clientes negros em ambientes de beleza de alto padrão. A análise se transformará no “Retrato do Racismo no Mercado de Luxo no Brasil” para mobilizar o varejo a promover mudanças no setor.

O estudo foi desenvolvido pelo Estúdio NINA, uma agência de consultoria focada em combater o racismo na sociedade brasileira. O objetivo é mostrar como a experiência de consumidores negros de classe A e B em ambientes de beleza de luxo demanda maior inclusão e acolhimento.

O levantamento aponta que a rotina dos consumidores negros é marcada por uma série de micro agressões que geram um constante estado de alerta. Visitas a um estabelecimento de luxo evocam lembranças de experiências passadas negativas.


Pesquisa foi realizada pelo Estúdio Nina • Reprodução/CNN

Veja abaixo as principais descobertas da pesquisa:

  • A cada 100 pessoas pelo menos 70 já sentiram um permanente mal-estar nos pontos de venda. A experiência de compra é descrita com palavras como desconfortável, violência, hostilidade, constrangimento e insegurança
  • 18% dos clientes negros das classes A e B já foram seguidos ou tiveram sua bolsa revistada, ou lacrada
  • O estudo identificou 21 tipos de violências racistas sofridas por pessoas negras no interior das lojas e shoppings de luxo. A maioria dos abusos ocorreu com mais de 50% dos clientes

Os 21 dispositivos racistas mapeados na pesquisa foram organizados em quatro eixos: raça, classe social, cerceamento e vigilância e inferiorização. Cada eixo possui sua própria forma de incisão e atuam para limitar a experiência e até impedir a presença negra nesses ambientes.


Pesquisa foi realizada pelo Estúdio Nina • Reprodução/CNN

A co-fundadora do NINA, Ana Carla Carneiro, afirma que as lojas que precisam se adequar ao público negro, não o contrário.

“O público negro é muito mais rico do que imaginam. Eles dominam não um, mas dois códigos diferentes: os códigos brancos, adotados nos ambientes de luxo, e os códigos negros, que permitem que possam circular em dois universos diferentes, aproveitando o que cada um deles tem a oferecer. Eles são bilíngues, mas marcas e lojas não são”, ressalta.

A pesquisa foi dividida em três etapas:

  • Especialistas na questão racial fizeram compras em ambientes de luxo de beleza para identificar os dispositivos racistas presentes
  • Foram realizadas entrevistas qualitativas (grupos de discussão online com consumidores) para entender como eles verbalizam as experiências e quais estratégias defensivas adotam
  • Em uma abordagem quantitativa, foram realizadas entrevistas online com 350 consumidores (pessoas negras, com e sem letramento racial, que já consomem itens de luxo)

A pesquisa trabalhou com uma amostra nacional para garantir a representatividade nos resultados. O estudo foi encomendado pela L’Oréal Luxo, a divisão de luxo do Grupo L’Oréal no Brasil.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Nove em cada 10 pessoas negras já sofreram racismo em lojas de luxo, diz pesquisa no site CNN Brasil.

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