Governo interino da Síria aumentará salários do setor público em 400%

O ministro das finanças da Síria disse neste domingo (5) que o governo aumentará os salários de muitos funcionários do setor público em 400% no mês que vem, após concluir uma reestruturação administrativa dos ministérios para aumentar a eficiência e responsabilização.

O aumento, estimado em 1,65 trilhão de libras sírias, ou cerca de US$ 127 milhões nas taxas atuais, será financiado por recursos estatais existentes, além de uma combinação de ajuda regional, novos investimentos e esforços para descongelar ativos sírios mantidos no exterior.

“[Este é) o primeiro passo em direção a uma solução emergencial para a realidade econômica do país”, pontuou Mohammed Abazeed, ministro das finanças do governo interino da Síria, à Reuters, acrescentando que os salários deste mês para funcionários do setor público seriam pagos nesta semana.

Essas medidas são parte de uma estratégia mais ampla do novo governo interino da Síria para estabilizar a economia do país após 13 anos de conflito e sanções.

Os salários dos funcionários do setor público sob o regime de Bashar al-Assad eram de cerca de US$ 25 por mês, colocando-os abaixo da linha da pobreza, junto com a maioria da população do país, segundo Abazeed.

O aumento seguiria uma avaliação abrangente de até 1,3 milhão de funcionários registrados do setor público para remover funcionários fictícios da folha de pagamento e afetaria aqueles com experiência suficiente, qualificações acadêmicas e as habilidades necessárias para a reconstrução.

O tesouro do Estado da Síria está enfrentando desafios de liquidez decorrentes da guerra civil. A maior parte do dinheiro disponível no banco central é moeda síria, que perdeu muito de seu valor. No entanto, o novo governo recebeu a promessa de assistência de países regionais e árabes, ressaltou o ministro.

“O lançamento de investimentos no país em um futuro próximo também beneficiará o tesouro do Estado e nos permitirá financiar esse aumento salarial”, comentou, acrescentando que o banco central atualmente tem fundos suficientes para financiar os próximos meses.

O governo espera recuperar até US$ 400 milhões em ativos sírios congelados no exterior, o que poderia cofinanciar as despesas iniciais.

A administração interina da Síria também está discutindo isentar os contribuintes, tanto quanto possível, de multas e juros e trabalhando na revisão do sistema tributário nos próximos três meses para alcançar justiça tributária para todos os contribuintes, com um primeiro rascunho esperado dentro de quatro meses.

“Até o final deste ano, esperamos ter um sistema tributário bem projetado que leve em consideração os interesses de todos os contribuintes”, concluiu.

Entenda o conflito na Síria

O regime da família Assad foi derrubado na Síria no dia 8 de dezembro, após 50 anos no poder, quando grupos rebeldes tomaram a capital Damasco.

O presidente Bashar al-Assad fugiu do país e está em Moscou após ter conseguido asilo, segundo uma fonte na Rússia.

A guerra civil da Síria começou durante a Primavera Árabe, em 2011, quando o regime de Bashar al-Assad reprimiu uma revolta pró-democracia.

O país mergulhou em um conflito em grande escala quando uma força rebelde foi formada, conhecida como Exército Sírio Livre, para combater as tropas do governo.

Além disso, o Estado Islâmico, um grupo terrorista, também conseguiu se firmar no país e chegou a controlar 70% do território sírio.

Os combates aumentaram à medida que outros atores regionais e potências mundiais — da Arábia Saudita, Irã, Estados Unidos à Rússia — se juntaram, intensificando a guerra no país para o que alguns observadores descreveram como uma “guerra por procuração”.

A Rússia se aliou ao governo de Bashar al-Assad para combater o Estado Islâmico e os rebeldes, enquanto os Estados Unidos lideraram uma coalizão internacional para repelir o grupo terrorista.

Após um acordo de cessar-fogo em 2020, o conflito permaneceu em grande parte “adormecido”, com confrontos pequenos entre os rebeldes e o regime de Assad.

Mais de 300 mil civis foram mortos em mais de uma década de guerra, de acordo com a ONU, e milhões de pessoas foram deslocadas pela região.

Quem é a família de Bashar al-Assad, que governou a Síria por mais de meio século

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