Você tem um filho favorito? Este novo estudo analisa o por quê

Só porque você diz que não tem um filho favorito, não significa que as pessoas ao seu redor não possam dizer de quem você mais gosta.

No episódio de “The Crown” em que o príncipe Philip, duque de Edimburgo, pergunta à rainha Elizabeth II se ela sabe qual filho é seu favorito. Ela insiste que ama a todos igualmente, neste relato ficcional da família real britânica, mas Philip diz a ela que os membros da família sabem quem ela prefere.

Ordem de nascimento, temperamento e gênero podem afetar a maneira como você cria seu filho, bem como se você favorece um em detrimento do outro, de acordo com um estudo publicado na última quinta-feira (16) pela American Psychological Association.

O estudo foi uma meta-análise em que os pesquisadores observaram os dados de 30 estudos e 14 bancos de dados com informações sobre mais de 19.000 pessoas. Além de anotar idade, traços de personalidade e gênero, os pesquisadores também analisaram como os pais relataram o tratamento geral, controle, alocação de recursos e interações positivas e negativas com cada criança.

Você consegue adivinhar quem tende a ser o favorito?

Filhas e crianças que eram mais conscientes e agradáveis tinham mais probabilidade de receber um tratamento melhor de seus pais.

“Da próxima vez que você ficar se perguntando se seu irmão é o filho de ouro, lembre-se de que provavelmente há mais coisas acontecendo nos bastidores do que apenas uma preferência pelo mais velho ou mais novo”, disse o principal autor do estudo, Dr. Alexander Jensen, professor associado da Brigham Young University em Provo, Utah, em um comunicado à imprensa. “Pode ser sobre responsabilidade, temperamento ou quão fácil ou difícil é lidar com você.”

Impacto do favoritismo

O favoritismo pode ser temporário e mudar dependendo das circunstâncias, disse a Dra. Ellen Weber Libby, psicóloga clínica aposentada e autora de “The Favorite Child: How a Favorite Impacts Every Family Member for Life” (“A Criança Favorita: Como um Favorito Impacta Cada Membro da Família por Toda a Vida” em português).

Talvez a criança que você favorece tenha uma qualidade que o lembre de uma avó querida que você perdeu. Ou pode ser que a criança esteja em sintonia com suas emoções e lhe dê uma mãozinha depois de um dia difícil, acrescentou Weber Libby.

Além disso, é possível amar todos os seus filhos, mas isso não significa que você está imune a preferir passar tempo com um em vez do outro ou tratá-los de forma diferente.

As crianças que recebem o tratamento preferencial tendem a ter algumas vantagens em comparação com aquelas que não recebem, de acordo com o estudo.

Filhos favoritos têm melhor saúde mental, notas melhores, mais capacidade de regular suas emoções e relacionamentos mais saudáveis, descobriu o estudo. Mas ser o filho preferido nem sempre é um bom negócio, disse Weber Libby.

Crianças favorecidas podem ser mimadas demais, o que não lhes ensina boas habilidades para lidar com os desafios ao longo da vida. Elas também podem receber a mensagem de que precisam se comportar de certas maneiras para obter atenção e cuidado, o que pode impedi-las de viver livremente, acrescentou ela.

Aqueles que não são os favorecidos podem, às vezes –– mas certamente não sempre ––, encontrar-se com mais dificuldades na vida adulta, destacou Weber Libby.

“Crianças que são tratadas de forma menos favorável correm particularmente o risco de maior uso de substâncias, pior saúde mental, relacionamentos familiares mais precários. Elas também tendem a ter mais problemas na escola e em casa”, acrescentou Jensen.

E como manter o tratamento mais justo e honesto?

A chave é ser aberto e honesto consigo mesmo sobre qualquer tratamento preferencial que possa surgir e agir de acordo, disse Jensen.

“O desafio é que os irmãos são diferentes uns dos outros e precisam ser criados de forma diferente até certo ponto — mas, esperançosamente, de maneiras saudáveis e apropriadas”, comentou ele. “Essas descobertas são importantes porque dão aos pais um ponto de partida para pensar sobre qual dos filhos eles tendem a tratar de forma mais ou menos favorável.”

Se as crianças entenderem por que estão sendo tratadas de forma diferente de seus irmãos, elas serão menos afetadas por tal ação, disse Jensen.

Por exemplo, a filha mais velha de Jensen veio até ele quando tinha cerca de seis anos e reclamou que tinha menos vestidos do que sua irmã mais nova. Ele apontou para ela que sua irmã estava recebendo suas roupas de segunda mão, o que explicava por que ela tinha mais vestidos.

“Ela olhou para mim e disse: ‘Ah, isso faz sentido, ok.’ Então ela pulou e saiu correndo para brincar”, contou ele.

“Espero que os pais usem nosso estudo como um catalisador para considerar como eles podem tratar seus filhos de forma diferente, e então trabalhar para garantir que essas diferenças sejam justas e compreendidas por seus filhos”, apontou Jensen.

Também é importante que você esteja pronto para ouvir quando você pode estar distribuindo privilégios extras ou respostas mais duras com base em suas preferências, disse Weber Libby. Mantenha a mente aberta quando seu parceiro, familiares ou amigos apontarem diferenças em sua criação de filhos e esteja pronto para corrigi-las.

“Não tenha medo de perguntar aos seus filhos como eles estão. Mesmo que eles não digam isso abertamente, seus filhos vão deixar você saber se eles acham que as coisas são injustas entre eles e seus irmãos”, finalizou o professor. “Se for esse o caso, tente não ficar na defensiva, mas tente ter uma discussão sobre isso.”

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Você tem um filho favorito? Este novo estudo analisa o por quê no site CNN Brasil.

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