Juíza que analisa caso de imigrante deportado dos EUA por engano manda indireta a Trump e diz que não vai tolerar ‘bravatas’

A juíza americana responsável pelo caso de um homem deportado por engano dos Estados Unidos para El Salvador disse, durante uma audiência nesta terça-feira, que não vai tolerar “bravatas” e “jogos políticos”. Paula Xanis mandou um recado para o governo do presidente Donald Trump.
“Precisamos garantir o devido processo para ambos os lados. Mas vamos avançar. Não haverá tolerância para jogos políticos ou bravatas”, disse a juíza.
Xinis convocou a sessão para discutir os próximos passos diante do que chamou de falha do governo Trump em atualizá-la sobre os esforços para trazer de volta Kilmar Abrego Garcia.
O imigrante salvadorenho foi deportado no dia 15 de março, apesar de haver uma ordem que o protegia da remoção. Garcia também tinha autorização para trabalhar nos EUA. O governo admitiu que houve um erro no procedimento.
O caso é um dos vários que despertaram preocupação entre democratas e alguns analistas jurídicos, que veem disposição do governo do presidente republicano Donald Trump em desrespeitar o Judiciário, um poder independente e igual ao Executivo.
Em documento apresentado pouco antes da audiência, o advogado do Departamento de Segurança Interna, Joseph Mazzara, disse que Abrego Garcia não é mais elegível para proteção contra deportação — e, se retornasse aos EUA, seria deportado novamente.
Mazzara citou a suposta filiação de Abrego Garcia à gangue MS-13, que o governo Trump classifica como organização terrorista. Os advogados de Abrego Garcia negam a acusação, afirmando que os EUA não apresentaram nenhuma prova confiável sobre isso.
Questionada sobre o caso nesta terça-feira, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que o governo está cumprindo todas as ordens judiciais.
“Estamos muito confiantes de que todas as ações deste governo estão dentro dos limites da lei”, afirmou.
Antes da audiência, manifestantes do lado de fora do tribunal gritavam “Tragam Kilmar de volta”, enquanto ouviam sua esposa, Jennifer Vasquez Sura, pedir aos governos dos EUA e de El Salvador que o devolvessem.
“Me vejo implorando à administração Trump e ao governo Bukele que parem de fazer jogos políticos com a vida de Kilmar”, disse Vasquez Sura. Durante uma reunião com Bukele na segunda-feira, o secretário de Estado Marco Rubio declarou: “A política externa dos Estados Unidos é conduzida pelo presidente dos Estados Unidos, não por um tribunal”.
Durante o encontro, Trump chamou de “gente doente” os jornalistas que perguntaram se o governo buscaria o retorno de Abrego Garcia.
Bukele afirmou a repórteres na Casa Branca que não tem poder para devolver Abrego Garcia aos EUA.
“Essa pergunta é absurda. Como eu poderia contrabandear um terrorista para os Estados Unidos?”, disse Bukele.
O senador democrata Chris Van Hollen, de Maryland, afirmou em nota na segunda-feira que, se Abrego Garcia não estiver em casa até o “meio da semana”, viajará a El Salvador para discutir sua libertação.
‘Facilitar e Efetivar’
No dia 4 de abril, a juíza Xinis ordenou ao governo que “facilitasse e efetivasse” o retorno de Abrego Garcia, que está preso em um mega-presídio de segurança máxima conhecido como Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), em El Salvador. A Suprema Corte dos EUA manteve a decisão da juíza na semana passada, após contestação do governo Trump, mas indicou que o termo “efetivar” era vago e poderia extrapolar a autoridade do tribunal. Xinis então exigiu que o governo apresentasse um cronograma para trazê-lo de volta.
Ao considerar que o governo não cumpriu a ordem, a juíza determinou que fossem enviados relatórios diários sobre o que estava sendo feito para repatriar Abrego Garcia. No domingo, o governo respondeu dizendo que “facilitar” significava apenas remover obstáculos domésticos à volta de Abrego Garcia, sem envolver-se nas relações com um país estrangeiro.
Trump afirmou que seu governo traria o homem de volta apenas se a Suprema Corte determinasse isso.
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