Política fiscal definirá cenário de desemprego, dizem especialistas

O futuro da taxa de desocupação vai depender de como o governo irá direcionar as contas públicas e a política monetária do Banco Central, avaliam especialistas ouvidos pela CNN Brasil.

A taxa de desocupação marcou 7% no trimestre de janeiro a março de 2025, alta de 0,8 ponto percentual na comparação com o trimestre anterior. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo IBGE nesta quarta-feira (30).

Se a gestão federal entregar uma condução equilibrada entre crescimento econômico e inflação próxima ao centro da meta, uma Selic decrescente será positiva para a geração de empregos, afirma o chefe de renda variável da Manchester Investimentos, Marco Noernberg.

“Mas, se isso não acontecer, poderemos ver um aumento do desemprego lá na frente. Então, é um pouco desse cenário que se observa. No curto prazo, percebe-se um mercado mais aquecido, vindo de um PIB muito forte, especialmente no ano passado. Mas o futuro vai depender dessas políticas, especialmente do governo, para verificar se esse nível de desemprego, próximo de 7%, vai se manter ou se vai cair”, diz.

A professora da Fundação Getulio Vargas (FGV), Carla Beni, acrescenta que o emprego é acompanhado pelo Banco Central para decidir a taxa básica de juros. A reunião de maio do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os próximos dias 6 e 7.

“A conferir ainda o que será decidido. Mas, com [Selic] 14,25% ao ano, a expectativa do Banco Central é justamente diminuir a atividade econômica e aumentar o desemprego, o que representa uma tragédia, porque esse é um modelo totalmente excludente. A alternativa para combater a inflação é fazer com que menos pessoas consigam comer. Basicamente”.

A especialista destaca na Pnad do prmeiro trimestre a queda na ocupação na construção de 5% e a movimentação de grandes construtoras contra a manutenção da Selic no patamar atual. Em paralelo, os grupos de alojamento e alimentação registraram redução de 3,3%, e a administração pública, retração de 1,6%.

Na mesma linha, o economista da casa de análise Top Gain, Bruno Cotrim, detalha que os contratos de trabalho serão reajustados ao longo do ano por conta da inflação atual de 5,48% em abril, na soma dos doze meses anteriores.

“São contratos feitos com taxas pós-fixadas e, consequentemente, a taxa de juros mais alta cria um cenário clássico de política monetária restritiva. Com a taxa de juros a 15%, quem precisa tomar dinheiro agora vai passar sufoco. Será necessário enxugar a escala de trabalho das empresas e, consequentemente, isso poderá gerar um índice de desemprego mais alto”, avalia.

Na avaliação da XP, pode haver uma aceleração da taxa de desemprego para 7,2% no fim de 2025, diante da perda de tração do ritmo de crescimento na segunda metade do ano. Porém, o nível de desocupação ainda configura um patamar historicamente baixo e coloca um viés de alta na projeção do banco para o PIB brasileiro deste ano.

O economista da XP, Rodolfo Margato, afirma que o mercado brasileiro segue com o emprego em alta, puxado principalmente por ocupações formais e salários reais subindo consistentemente. Essa configuração mantém os custos do trabalho pressionados para a maioria dos setores.

“A Pnad reforça nosso cenário base de desaceleração gradual da atividade doméstica ao longo de 2025 e inflação de serviços ainda elevada no curto prazo. Projetamos crescimento de 2,3% para o PIB em 2025, um pouco acima do consenso de mercado, com a taxa de desemprego atingindo 7% ao final do ano, já considerando o ajuste sazonal – um aumento sutil em relação aos 6,5% registrados em 2024″, finaliza.

Apesar do aumento no número da população desocupada em 13,1% – mais 891 mil pessoas – no trimestre, especialistas avaliam que o mercado de trabalho permanece sólido, contribui para o aumento da renda e do consumo das famílias, e pode refletir em um aumento do Produto Interno Bruto (PIB).

Sazonalidade, Selic e desemprego

O aumento da desocupação é um movimento previsto, afirma a professora da Fundação Getulio Vargas. “O objetivo do Banco Central, ao subir as taxas de juros desde o ano passado, saindo de 12,25 % para 14,25 %, é provocar exatamente isso: redução da atividade econômica, redução da projeção do PIB, redução, inclusive, da liquidez”, afirma.

A sazonalidade dos empregos temporários também impacta a Pnad. O economista da Suno Research, Rafael Perez, afirma, que o mercado de trabalho continua resiliente, mesmo diante de uma atividade econômica dando sinais de desaceleração.“A sazonalidade do emprego, que no início do ano costuma mostrar um aumento na desocupação devido ao encerramento de contratos temporários firmados no final do ano anterior, ajuda a explicar esse movimento de aumento da taxa de desemprego nos três primeiros meses do ano”, diz.

Por outro lado o rendimento real habitual atingiu R$ 3.410, representando um avanço de 1,2% desde o início do ano e de 4,0% na comparação anual, segundo o IBGE. Além disso, a massa salarial, alcançou R$ 345 bilhões e apresentou uma alta de 6,6% na variação anual.

“Ambos estão nas máximas históricas e representam um desafio para o Banco Central, pois tendem a pressionar a inflação, especialmente no setor de serviços. Os dados revelam que o mercado de trabalho continua bastante resiliente e será um vetor importante para sustentar o consumo e a renda das famílias”, finaliza.

 

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