Dom Aloísio Lorscheider, um cardeal brasileiro que quase alcançou o papado, vivenciou um episódio dramático em 1994, quando foi feito refém durante uma rebelião em um presídio no Ceará.
O religioso, conhecido por sua atuação em defesa dos direitos humanos e por se posicionar a favor da democratização do Brasil e contra as torturas praticadas na Ditadura Militar, foi citado no filme “O Poderoso Chefão: Parte 3”.
Quase 50 anos atrás, no conclave de 1978, Dom Aloísio teria sido o primeiro a obter a maioria dos votos para se tornar papa, mas precisou recusar o cargo por problemas de saúde, facilitando a eleição de João Paulo II, que ficou no posto até 2005.
Em 15 de março de 1994, dom Aloísio Lorscheider, então arcebispo de Fortaleza, estava no Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), localizado em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, que foi desativado em 2013. A visitação da Pastoral Carcerária, guiada pela passagem bíblica “Estive preso e fostes me visitar” (Mt 25,36), era comum.
No entanto, esta visita específica, marcada pelo próprio cardeal para vistoriar as condições da unidade, incluía um grupo de políticos e jornalistas, além de um cardeal, dois bispos auxiliares e um vigário episcopal, motivados por denúncias de maus-tratos, péssimas condições de higiene e falta de assistência médica. Os presos, por sua vez, estavam insatisfeitos com as instalações e a superlotação.
Mantido refém
Após percorrer as celas, o grupo seguiu para o auditório. Pouco depois das 10h, uma movimentação estranha chamou a atenção dos presentes. O detento Carlos de Souza Barbosa, conhecido como Carioca, imobilizou dom Aloísio com uma faca no pescoço, dando início a uma negociação entre os detentos e as forças de segurança do Estado.
No total, 13 pessoas foram feitas reféns. Uma policial reagiu e houve troca de tiros, resultando na morte de dois detentos e um soldado ferido. Após 13 horas de negociações, perto da meia-noite, os detentos tiveram alguns pedidos atendidos e fugiram com os reféns em um carro-forte.
O percurso durou 12 horas de estrada. Alguns reféns foram liberados no caminho, mas dom Aloísio fez questão de ser o último a ser liberado, o que ocorreu após passar 20 horas em poder dos criminosos.
Mudança para São Paulo
Após o sequestro, dom Aloísio Lorscheider, com problemas cardíacos, solicitou ao papa João Paulo II sua transferência para uma diocese menor. Foi transferido de Fortaleza para a Arquidiocese de Aparecida no ano seguinte ao sequestro, em agosto de 1995.
Ele anunciou sua renúncia em 2000 e faleceu em dezembro de 2007, aos 83 anos, em Porto Alegre, vítima de falência múltipla de órgãos.
O detento Carioca foi liberado do sistema prisional do Estado no fim de 2018, após cumprir o tempo máximo de 30 anos de cadeia conforme a legislação penal brasileira, apesar de suas sentenças por assaltos, homicídios e sequestros em comarcas do Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro somarem mais de 100 anos de pena.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Brasileiro quase virou papa e foi refém em presídio no Ceará; relembre caso no site CNN Brasil.