Filho de mulher morta por sargento no litoral de SP revela última conversa com a mãe e faz apelo para vítimas de violência


Davi, de 17 anos, pediu para mulheres terem coragem de denunciar agressores à polícia. Mãe dele foi morta pelo padrasto dentro de uma clínica médica em Santos (SP). Empresária morta pelo companheiro PM é enterrada em Santos
O filho primogênito de Amanda Fernandes Carvalho, empresária morta pelo marido sargento da PM Samir Carvalho dentro de uma clínica médica em Santos, no litoral de São Paulo, revelou a última conversa que teve com a mãe e fez um apelo para vítimas de violência doméstica. Davi, de 17 anos, pediu para mulheres terem coragem de denunciar agressores à polícia (assista acima).
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O crime aconteceu na quarta-feira (7), na clínica localizada na Avenida Pinheiro Machado, no bairro Marapé. O sargento Samir Carvalho efetuou disparos, atingindo a esposa, Amanda Fernandes Carvalho, e a filha, de 10 anos, que se jogou na frente da mãe para tentar salvá-la. Em seguida, Samir pegou uma faca e deu cerca de dez facadas na mulher. A menina foi socorrida para a Santa Casa de Santos.
Primogênito de Amanda, o Davi é o único entre os três filhos da vítima que não é fruto do relacionamento dela com Samir. Ele descreveu a mãe como uma pessoa carinhosa, feliz e alegre.
“Quero deixar para todas as mulheres que sofrem isso em casa e tem medo de falar: gente, fala. Minha mãe não quis falar, só comentava com poucas pessoas e deu no que deu”, afirmou Davi, em entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo.
“Foi incrível o tempo que eu passei com ela, vou sempre guardar na memória”, disse o adolescente, que relembrou do último contato que teve com a mãe. “Última mensagem que eu falei com ela foi eu te amo”.
Davi, de 17 anos, é o filho primogênito de Amanda Fernandes Carvalho
Reprodução/TV Tribuna e Redes sociais
O jovem ainda usou as redes sociais para falar sobre a mãe. Ele relatou que Amanda comentava sobre a própria morte, dizendo para ele colocar uma música e lembrar dos momentos felizes com ela quando ela partisse.
“Só de saber que você não vai mais estar aqui para puxar minha orelha, ouvir minhas piadas, ser a mulher divertida que você é, já me aperta o coração”, escreveu o adolescente.
Ainda no relato, Davi disse que a mãe sempre prezou pela alegria dele e dos irmãos e nunca deixou faltar nada para as crianças.
“Quando você estava triste, nunca nos deixou perceber para não estragar nossos dias. Você foi e é incrível, meu primeiro amor, maior e eterno amor, minha rainha”, desabafou.
Na homenagem, ele afirmou que jamais esquecerá os momentos com a mãe e fez uma promessa para Amanda. “Vai ser difícil, mas eu te prometo, vou cuidar dos pequenos pra você, do jeito que você sempre me pediu, fazer de tudo para te deixar orgulhosa. Eu sei que aí de cima, vai nos abençoar e rezar pelo nosso bem”.
Mulher é morta por sargento durante consulta médica em Santos, SP
Depoimento do médico
Em depoimento à Polícia Civil, o médico proprietário da clínica disse ter sido surpreendido por Amanda e pela filha enquanto estava na própria sala aguardando o horário de chamá-las para uma consulta que estava agendada.
O profissional contou às autoridades que Amanda entrou no cômodo muito nervosa, dizendo que estava sendo ameaçada pelo companheiro.
“Meu marido está comigo, está armado, é policial e ele quer me matar, pois estamos nos separando”, teria dito Amanda ao médico.
O médico disse para a Polícia Civil que trancou a porta do consultório, colocou duas cadeiras atrás da porta e ficou segurando com medo de que fosse arrombada. O homem relatou que ouviu uma batida na porta e questionou quem era, mas não teve retorno.
Momentos depois, ele escutou a voz da secretária pedindo para a porta ser aberta porque a PM havia chegado. Segundo o relato, também foi possível escutar uma voz masculina dizendo: “pode abrir, é a polícia, está tudo sob controle”.
Após questionar se os agentes estavam uniformizados, o médico abriu parcialmente a porta e, em seguida, foi para atrás da mesa. Ele disse que viu, no fim do corredor, um policial fardado e depois ouviu uma sequência de mais de dez tiros.
O profissional disse para polícia que se abrigou debaixo da mesa para se proteger e acredita que o atirador tenha começado os disparos do fora da sala. De acordo com o médico, ele só se levantou depois que o agressor foi contido pelas equipes policiais.
O homem contou que socorreu a filha de Amanda e, logo depois, viu o corpo da mulher com uma faca “cravada no pescoço e banhada em sangue”. Ele garantiu que nunca havia visto as vítimas antes e não chegou a ver o atirador porque se escondeu ao ouvir o primeiro tiro.
Samir Carvalho matou a esposa Amanda Fernandes em Santos, SP
Reprodução/Instagram
Investigação
Em nota, a SSP-SP informou que a PM instaurou um Inquérito Policial Militar para “apurar rigorosamente a conduta dos agentes acionados para atender uma ocorrência que evoluiu para feminicídio e tentativa de homicídio em uma clínica de saúde”.
Anteriormente, a SSP-SP havia informado que os agentes tinham encontrado a mulher já morta e a filha do casal ferida ao chegarem no local da ocorrência, contrariando à versão obtida pelo g1 com a Polícia Civil de que os policiais estavam na clínica na hora dos disparos.
Ao g1, a secretaria justificou que esta informação anterior era preliminar, pois o posicionamento foi enviado antes do término do boletim de ocorrência. Segundo a nova nota, divulgada nesta quinta-feira (8), policiais foram acionados via Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) para atender um caso de desinteligência na clínica.
No local, eles encontraram Amanda e a filha trancadas em um consultório e um policial militar de folga [Samir] do lado de fora. “Após o policial mostrar que não estava armado, a porta foi aberta. O autor entrou e atirou na mulher e na filha, sendo preso na sequência e encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes”, disse a SSP-SP, em nota.
De acordo com o boletim de ocorrência, obtido pelo g1, quatro policiais militares integravam as equipes que atenderam o caso, registrado como violência doméstica, feminicídio e tentativa de homicídio na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar as circunstâncias do crime.
A SSP-SP não informou onde estavam os policiais no momento em que Samir efetuou os disparos e depois esfaqueou a esposa.
A delegada do 2º DP Débora Lázaro informou que Samir esfaqueou Amanda com aproximadamente dez golpes após os disparos. Ao g1, a SSP-SP se limitou a dizer que a informação consta na segunda edição do boletim de ocorrência. “Consta que havia um punhal cravado no corpo da vítima”.
Defesa de Samir
Por meio de nota, o advogado Paulo de Jesus, que representa Samir, afirmou que na tarde de quinta-feira (8) foi realizada audiência de custódia e a prisão em flagrante do policial foi convertida em preventiva. Samir foi encaminhado ao presídio Romão Gomes. Paulo de Jesus disse que a defesa se manifestará apenas quando as investigações forem concluídas.
Amanda Fernandes, de 42 anos, foi morta por Samir Carvalho em Santos (SP)
Redes sociais e Daniela Rucio/TV Tribuna
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