O Brasil está se posicionando para assumir a dianteira global na segurança alimentar frente ao crescimento populacional previsto até 2050.
A estimativa é de um aumento de 2,4 bilhões de pessoas no planeta nas próximas décadas, segundo dados apresentados nesta sexta-feira (6) no GAFFFF 2025 — evento sobre cultura agro realizado em São Paulo.
Durante um painel sobre segurança alimentar e sustentabilidade, a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, defendeu que o país reúna esforços diplomáticos, científicos e comerciais para assumir um papel de liderança mundial.
“Há demanda global para que o Brasil transfira as tecnologias que temos aqui para outros lugares do mundo em prol da segurança alimentar”, afirmou.
Ela destacou ainda a importância do modelo brasileiro de produção. “Pensando na sua própria segurança alimentar, o Brasil desenvolveu tão bem seu papel que conseguiu garantir uma posição de destaque como fornecedor global de alimentos — especialmente com a integração lavoura-pecuária-floresta.”
Agricultura sustentável como trunfo estratégico
Silvia descreveu a trajetória da agricultura brasileira como uma evolução baseada em ciência — da correção de solos nos anos 1970 à atualidade, marcada por sustentabilidade, multifuncionalidade e adaptação às mudanças climáticas.
O futuro da agricultura, segundo ela, exige um modelo baseado em cinco pilares já adotados pela Embrapa: métricas de sustentabilidade, transição nutricional, transição energética, inclusão socioprodutiva e adoção de novas tecnologias como biotecnologia e agricultura digital.
“Temos o desafio de aumentar nossa produção e manter a preservação do meio ambiente, tanto na agricultura quanto na pecuária”, disse a presidente da estatal, que também enxerga a COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas) — marcada para novembro, em Belém (PA) — como ponto de inflexão.
“Temos que aproveitá-la como o começo de uma nova era para a agricultura sustentável do nosso país”.
Inovações e métricas para a nova era
Entre as tecnologias já em uso no Brasil, Silvia Massruhá destacou a edição genética com CRISPR, utilizada pela Embrapa para desativar fatores antinutricionais na soja, além do desenvolvimento de variedades tolerantes à seca e ao calor.
No campo das métricas, a estatal firmou parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV) para mensurar impactos de sustentabilidade nas cadeias produtivas.
Dados da apresentação mostram avanços no Plano ABC de agricultura de baixo carbono, com destaque para a recuperação de pastagens degradadas, fixação biológica de nitrogênio e o sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), que sequestra até 30 kg de carbono por árvore ao ano — mais que a monocultura.
A transição para a chamada “Agricultura 6.0” prevê soluções integradas e baseadas na natureza, como práticas regenerativas, bioeconomia, biogás e engenharia genética.
A expectativa da Embrapa é que o Brasil não apenas sustente sua própria população com alimentos nutritivos e saudáveis, mas também lidere globalmente esse movimento.
“Estamos em momento de transição da agricultura. Isso faz parte de um sistema complexo”, disse Silvia. “E é justamente por sermos sede da COP30 e por sermos um país do agro, que temos que liderar esse novo modelo sustentável.”
Especialistas: Brasil pode liderar transição para mercado de baixo carbono