Rachadura na África pode dar origem a um novo oceano no planeta

Uma rachadura gigantesca pode ser observada na porção oriental do continente africano, quase de ponta a ponta, passando por países como Etiópia, Tanzânia, Quênia e Uganda, chegando até a República Democrática do Congo, Moçambique, Ruanda, Burundi e parte do Oriente Médio.

Batizado Vale do Rift, mas também chamado de Grande Vale da Fenda, o local é considerado uma das estruturas geológicas mais impressionantes da Terra.

Em contínua expansão, a fenda se estende por milhares de quilômetros e pesquisadores identificaram sinais concretos de que a crosta terrestre está se rompendo e se afastando.

O que está acontecendo no subsolo africano?

O Vale do Rift não é apenas uma depressão no solo: trata-se do resultado de um processo geológico profundo que acontece no interior da Terra há muito tempo.

Para entender sua origem, é preciso lembrar que a crosta terrestre é formada por placas tectônicas que flutuam sobre uma camada mais quente e maleável chamada manto.

No caso do continente africano, uma grande movimentação empurra a placa na qual se encontra a África Oriental para longe da África Central. Isso provoca o estiramento da crosta terrestre, que, por estar sendo puxada para lados opostos, começa a rachar.

Um estudo publicado na revista Nature Scientific Reports, em 2023, mostrou, justamente, que as fissuras observadas no Quênia (uma das regiões mais afetadas) não são superficiais ou causadas apenas por erosão da chuva.

Tratam-se de rachaduras profundas que se formam dentro de falhas geológicas, que se formam devido à separação das placas tectônicas e à intensa atividade vulcânica da região.

Fissuras são consideradas preocupantes?

Essas fissuras já causaram danos reais: estradas foram destruídas, trilhos de trem deformados e até casas afetadas.

Em algumas comunidades, há relatos de animais caindo em buracos e famílias vivendo ao lado de rachaduras que atravessam suas propriedades.

Além disso, as fissuras estudadas no Quênia estão conectas diretamente ao manto terrestre, liberando metano (CH₄) e dióxido de enxofre (SO₂) para o ar da região.

O Vale do Rift também é cercado por vulcões ativos, como os montes Suswa, Longonot e Olkaria, que fazem parte de um sistema geológico complexo.

Essas formações não apenas mostram que a região é instável, como também indicam que o processo de separação continental está em curso.

O que pode acontecer se o Vale do Rift abrir completamente?

Caso a separação se concretize, as mudanças seriam enormes. O estudo revela que a movimentação das placas tectônicas está causando fraturas que vão se alargando com o tempo, abrindo caminho para a entrada de água e gases do subsolo.

Se esse processo continuar por milhões de anos, é possível que a porção leste da África se desprenda completamente, criando um novo oceano em uma região que, hoje, abriga cidades, estradas e rios.

Esse tipo de transformação já aconteceu no passado da Terra. Foi assim, por exemplo, que se formou o Oceano Atlântico, quando América do Sul e África se separaram.

Além das rachaduras que surgem após chuvas fortes, há também o risco de contaminação da água subterrânea, já que gases e sedimentos podem infiltrar-se no lençol freático por meio dessas fissuras.

Como a ciência está lidando com isso?

Os pesquisadores usam diversas ferramentas para entender o que está acontecendo no Vale do Rift: desde escavações e análises de solo até sensores sísmicos e coleta de amostras de gases.

O estudo de 2023 foi o primeiro a identificar 22 pontos diferentes de fissuras profundas no centro do Quênia e mostrou que a maioria delas está conectada a falhas geológicas que vêm se formando há milhares de anos.

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