Justiça arquiva por falta de provas investigação contra ‘Rei do Camarote’ por suspeita de lavagem de dinheiro


Empresário Alexander Augusto ficou conhecido há quase 11 anos pelos ’10 mandamentos’ da noitada, quando dizia gastar até R$ 50 mil por balada. Alexander ficou conhecido na internet como ‘Rei do Camarote’
Reprodução
A Justiça arquivou por falta de provas o inquérito policial que investigava o empresário Alexander Augusto de Almeida por suposta lavagem de dinheiro e ocultação de bens pelo Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Paulo. Ele ficou conhecido na internet como o “rei do camarote” há quase 11 anos.
Na época, ele ganhou fama depois de aparecer em reportagem da revista “Veja São Paulo” em que falava sobre os “10 mandamentos” da noitada, dizendo que gastava até R$ 50 mil por balada. No vídeo, ele aparecia com garrafas ao som da trilha sonora “traz a bebida que pisca”.
Procurado pelo g1 sobre o fim do inquérito, um dos advogados de Alexander escreveu que não o defendeu no caso, mas comentou sobre ele. Anteriormente, a defesa havia informado que os recursos de Alexander têm origem lícita.
“Posso adiantar que a homologação judicial do arquivamento do inquérito, que foi requerido pelo próprio Ministério Público, demonstra de maneira inequívoca, a probidade das atividades empresariais exercidas.”
A polícia chegou a Alexander Augusto em 2022 depois de ter cumprido mandados de busca e apreensão por suspeita de lavagem de dinheiro contra outro empresário, o Antônio Vinicius Gritzbach, que foi acusado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) como mandante de dois homicídios, os quais o processo ainda corre pela Justiça e ele pode ir a júri popular.
A defesa de Gritzbach entrou com recurso para tentar evitar o julgamento e aguarda decisão do tribunal. Ele nega ter relação com os homicídios desde o início das investigações (veja mais abaixo).
Segundo apurado pelo g1, durante o cumprimento de um dos mandados de busca e apreensão contra Antônio Vinicius, que é empresário do ramo imobiliário, foram encontrados documentos relacionados a imóveis e a um condomínio de galpões em Atibaia, no interior de São Paulo, que foi adquirido por Alexander durante a pandemia de Covid.
No relatório final da investigação sobre lavagem de dinheiro, a polícia descreveu que “embora tenham constatado o relativo baixo valor do metro quadrado construído no empreendimento, não se obteve êxito em comprovar a origem ilícita dos atos, negociações ou fluxos dos capitais investigados”.
“Do mesmo modo, esgotadas as diligências pertinentes, também não foi possível vincular o referido empreendimento e a referida obra à eventual prática de crime antecedente, condição esta necessária à caracterização de delito de lavagem ou ocultação de capitais.”
O Ministério Público analisou a apuração da polícia e entendeu que era o caso de arquivamento. Na quinta-feira (25), a juíza do caso, que correu pela 1ª Vara Criminal de Atibaia, concordou com o MP.
Como era a obra
A área em Atibaia tinha um projeto para construção de dezenas galpões. A proprietária era uma empresa de empreendimentos a qual Antônio Vinicius fez parte do quadro de vendedores e até foi gerente.
A antiga dona do condomínio industrial chegou a negociar 25 galpões, mas ergueu 17 e vendeu todo o condomínio para o “rei do camarote”. Ele assumiu a construção do restante e toda a área que não estava ocupada.
À polícia, quando foi ouvido, Alexander negou que Antônio Vinicius tenha participado direta e indiretamente da negociação. Sobre a relação dele com Antônio Vinicius, Alexander alegou que o conhecia desde a juventude, no Tatuapé, na Zona Leste da capital paulista, onde moravam, e que estreitaram os laços quando Antônio Vinicius trabalhou na incorporadora imobiliária.
Alexander negou que manteve negócios em Atibaia com Antônio Vinicius, mas disse que eles foram sócios de uma farmácia no Tatuapé fechada em 2022, depois da primeira prisão de Antônio Vinicius suspeito de homicídios.
Anteriormente, a defesa de Alexander encaminhou uma nota ao g1 dizendo que o empreendimento de Atibaia foi adquirido com recursos próprios do empresário, portanto “os recursos são de origem lícita”.
“Alexander Augusto é um empresário de renome na cidade de São Paulo. Conheceu Antônio Vinicius no bairro do Tatuapé, onde ambos foram criados. No entanto, o empreendimento de Atibaia não tem nenhum vínculo com Vinicius. No tocante à investigação de lavagem de dinheiro, Alexander Augusto acredita ter sido chamado para depor, pois a imobiliária de Vinicius vendia esse empreendimento, mas não adquiriu dele.”
“Foi ouvido em declarações e esclareceu todos os fatos à autoridade policial. Alexander teve uma breve sociedade com Antônio Vinicius, em uma farmácia, na qual não houve investimento por parte dele e antes mesmo da inauguração da drogaria, saiu do quadro societário. Finalizando, não tem conhecimento dos outros fatos investigados”, informou.
Execução em 2021
Antônio Vinicius, ex-sócio na farmácia do “rei do camarote”, chegou a ser preso em 2023 em um hotel na Bahia suspeito da morte de Anselmo Santa Fausta (conhecido como Cara Preta) e do motorista dele, Antônio Corona Neto, em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé. O caso dos homicídios, que correu pelo DHPP, não tem relação com Alexander.
A polícia levantou durante a investigação que Anselmo era ligado ao crime organizado, esteve no tráfico internacional de drogas e foi indiciado no ano de 2007. Segundo a investigação, Antônio Vinicius Gritzbach conheceu Anselmo durante a negociação de um apartamento na planta.
Antônio Vinicius trabalhava com imóveis e fazia investimentos em criptomoedas. Parte de um valor aplicado em transações seria de Anselmo (Cara Preta), que teria exigido a devolução de cerca de US$ 20 milhões e feito ameaças por suspeitar de desvios.
Antônio Vinicius teria planejado a morte de Anselmo com outro suspeito, um agente penitenciário. Recursos teriam sido dados a um outro homem, Noé, para a execução de Anselmo, detalhou a polícia. Quase um mês depois da morte de Anselmo e do motorista, o suposto contratado Noé teve a cabeça decepada e deixada em uma praça do Tatuapé.
Dois bilhetes manuscritos foram encontrados, sendo um junto às partes do cadáver em Suzano e outro dentro da boca da cabeça no bairro do Tatuapé. Ambos continham a mesma mensagem: “Esse pilantra foi cobrado em cima da covardia que ele fez em cima dos nossos irmãos Anselmo e Sem Sague”.
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