‘Justifiquei que o Dia dos Pais é muito sensível e falaram: somos uma escola tradicional’, diz uma das duas mães de criança obrigada a participar de evento escolar


Caso é investigado pela Polícia Civil. Menina também foi obrigada a participar de fotografia com colegas de turma e seus familiares, mesmo desacompanhada. Palco de comemoração do Dia dos Pais do Colégio Elo
Reprodução/Instagram
Mesmo sendo filha de duas mães, uma criança de 9 anos foi obrigada a subir em um palco para uma apresentação em homenagem ao Dia dos Pais na escola onde estuda, em Pernambuco. “Justifiquei que o Dia dos Pais é muito sensível e falaram: ‘somos uma escola tradicional'”, disse a fonoaudióloga Nathalia Lins em entrevista ao g1 sobre o posicionamento da instituição de ensino.
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O caso aconteceu na sexta-feira (9), no Colégio Elo Kids, localizado no bairro de Candeias, no município de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Procurada pelo g1, a escola não enviou resposta até a última atualização desta reportagem. A Polícia Civil investiga o caso (saiba mais abaixo).
Mãe de duas alunas que estudam nesse colégio, a farmacêutica Anna Cristina Ático presenciou a situação e acolheu a criança quando ela se recusou a se apresentar no palco. Anna disse que:
Foi ao evento escolar para acompanhar o marido e garantir que nenhuma de suas duas filhas se apresentasse sozinha, já que a escola marcou duas apresentações para o mesmo horário;
Sentada ao fundo da sala, percebeu quando a menina pediu à professora para não participar da apresentação e permanecer em sala de aula até o fim da comemoração;
Vendo o desconforto da criança, que é uma amiga próxima de sua filha, se ofereceu para ficar com ela no colo;
Ao fim da apresentação, a professora responsável levou a criança de volta ao palco para que a menina participasse de uma foto em conjunto com os demais colegas e seus familiares.
A jornalista Maira Moraes, uma das mães da menina, buscou a filha na escola no dia da apresentação e estranhou que a criança não quis comentar sobre o dia no colégio. Ela contou ao g1 que:
Só soube da situação quando a mãe de um outro colega entrou em contato perguntando como a garota estava, pois tinha visto quando Anna Cristina acolheu a criança;
A escola foi avisada desde a matrícula que a menina tinha duas mães e que, em comemorações de Dia dos Pais, deveria deixar a aluna em sala realizando outras atividades;
Em anos anteriores, a recomendação foi seguida sem problemas;
A mãe que a procurou para saber como a menina estava disse que o filho também viu a criança chorando e pedindo para não participar da apresentação;
O garoto tentou consolar a menina e depois ficou preocupado com seu bem-estar, já que também sabia que ela é filha de duas mulheres e não tem pai;
Procurou a outra mãe da filha, Nathalia Lins, e contou o ocorrido;
Conversou com a filha e, acompanhadas de Anna Cristina Ático, procuraram a Polícia Civil para denunciar o caso na sexta-feira (9).
Nathália Lins, a outra mãe da menina, procurou o Colégio Elo para questionar o porquê de a orientação de deixar a filha em sala de aula na comemoração do Dia dos Pais não foi seguida. Ela afirmou que:
Conversou com duas coordenadoras da escola ainda na sexta (9);
As mulheres informaram que não sabiam do ocorrido, já que a comemoração aconteceu durante a manhã e Maira procurou a escola no fim da tarde;
As profissionais se desculparam e disseram também que esse não era um direcionamento da instituição;
Ao questionar o formato da comemoração e a decisão de colocar a menina para tirar a fotografia com os demais colegas e parentes, as coordenadoras justificaram que a escola era “tradicional”.
O que dizem a escola e a polícia?
O g1 procurou o Colégio Elo e questionou o motivo de a recomendação das mães da aluna não ter sido seguida e por que a menina foi forçada a subir ao palco, mesmo pedindo para não participar, mas a instituição não respondeu até a última atualização desta reportagem.
Em contato telefônico, a gestora pedagógica Eduarda Tavares disse apenas que a escola estava ciente do ocorrido e que o caso estava sendo tratado pelo corpo jurídico da instituição.
Também procurada, a Polícia Civil informou que registrou a ocorrência na sexta (9), através da Delegacia de Crimes contra a Criança e o Adolescente. Também disse que “as investigações foram iniciadas e seguem em andamento até a completa elucidação dos fatos”.
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