Em entrevista ao g1, CEO da Mobly conta por que a empresa decidiu comprar sua concorrente, a Tok&Stok


Victor Noda afirma que a união vai melhorar eficiência e tende a aumentar linha de produtos exclusivos das marcas. O executivo diz ainda que a família Drubule, fundadora da Tok&Stok, é ‘100% bem-vinda a aderir’ à nova empresa. Victor Noda, presidente da Mobly.
Divulgação/ Mobly
Depois de mais de um ano de negociações, a Mobly anunciou no dia 9 um acordo para comprar o controle de uma de suas concorrentes, a Tok&Stok.
A Mobly comprou a parte que era de propriedade dos fundos geridos pela SPX, e transferem a totalidade da participação de 60,1% na antiga concorrente.
Com o objetivo de melhorar sua presença no mercado, aumentar a base de clientes de classes mais altas e ter um avanço na eficiência das operações de ambas as companhias, a estimativa da Mobly é que a nova gigante do segmento de casa e móveis alcance a marca de R$ 1,6 bilhão em receitas anuais.
Em entrevista ao g1, o presidente da Mobly, Victor Noda, falou sobre o andamento e as expectativas da companhia com o acordo, o foco de crescimento da companhia e quais os impactos esperados para o consumidor com essa nova fase da companhia.
Ele também comentou sobre a contestação do negócio por parte da família Drubule, fundadora da Tok&Stok. O executivo afirma que a família é “100% bem-vinda a aderir” à nova empresa, e que trariam experiência “do que é a Tok&Stok”.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista.
g1 – Qual o objetivo da empresa com a compra do controle da Tok&Stok?
A gente já vinha conversando entre as companhias há muito tempo, e sempre vimos com muito bons olhos essa integração. Entendemos que tem uma complementariedade muito relevante de fortalezas de cada uma das empresas.
A Tok&Stok tem uma marca muito forte e consegue traduzir isso através dos seus produtos exclusivos. E isso também se reflete na margem, que é muito acima do mercado.
Do outro lado, a Mobly traz uma grade forte de tecnologia e mundo digital, que hoje é a grande força de crescimento do mercado, além de uma expertise muito forte em logística.
Essa combinação cria uma companhia muito mais forte. As duas empresas têm estratégias muito similares e entendem que o caminho pra se diferenciar no mercado é pelo desenvolvimento de uma marca relevante, embora cada companhia esteja focada em um público diferente.
É uma complementariedade de forças, com a Tok&Stok atuando na classe mais alta e a Mobly com o público de média e baixa renda. Foi isso o que fez com que ambas as companhias tivessem interesse em se juntar nesse momento.
g1 – Surgiram no mercado algumas notícias de que a família Drubule, fundadora da Tok&Stok, entrou na Justiça para tentar evitar o andamento do acordo. Como a Mobly enxerga essas movimentações?
Temos tentado nos manter distantes dessa discussão porque, na nossa visão e na visão dos nossos advogados, tudo o que fizemos na transação foi de forma 100% clara e objetiva, sem nenhuma argumentação contrária. A discussão é entre a SPX e a família.
Entendo que a família tinha um movimento para tentar recuperar o controle da Tok&Stok, mas, como comentei, nossa transação foi com a SPX e não impacta a família. Do nosso lado, temos buscado nos mantermos afastados. Não temos relação com isso e seguimos a transação.
De qualquer forma, é importante dizer que a família é 100% bem-vinda a aderir a nossa transação. E, na verdade, a gente gostaria muito que aderissem, porque entendemos que eles têm experiência da indústria e conhecimento do que é a Tok&Stok.
Para nós, seria muito benéfico tê-los do nosso lado nessa jornada, ajudando a gente a construir a companhia conjunta.
g1 – Existe algum risco ou parte desse processo que ainda requer atenção?
Nosso acordo com a SPX é bem transparente. Acho que as questões que podem impedir que a gente avance são as condições precedentes do negócio, que é a aprovação do CADE [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] e a aprovação da recuperação extrajudicial que nós formulamos junto aos bancos credores da Tok&Stok.
A aprovação do CADE é super relevante e é um processo que se inicia agora e nós precisamos esperar a aprovação deles. [Já sobre a recuperação extrajudicial], os principais bancos credores aprovaram e aderiram, nós já protocolamos isso dentro do Juidiciário, o juiz já aceitou e, agora, entra no processo burocrático normal de uma recuperação extrajudicial, que tem todos os seus processos de aprovação.
g1 – Acredita que as medidas trazidas pela recuperação extrajudicial já são suficientes para abarcar os problemas financeiros que a Tok&Stok vinha passando nos últimos meses?
A Tok&Stok é, na sua essência, uma companhia muito boa e muito rentável. Mas ela perdeu parte da sua rentabilidade nos últimos anos. Primeiro, por um nível de endividamento que se tornou inviável por conta dos juros. E, segundo, por decisões estratégicas que acabaram tirando eficiência e margem de lucro da empresa.
Nós entendemos que essa transação resolve essas duas dores.
A primeira é resolvida justamente pelo acordo de recuperação extrajudicial que fizemos com todos os principais credores pra alongar a dívida.
Nesse acordo, nós ganhamos prazo exatamente para que a gente tenha tempo de trabalhar e capturar as sinergias propostas, de forma que as companhias combinadas consigam aumentar a sua rentabilidade e gerar caixa. Quando começarem a pagar as dívidas, as companhias já estarão em uma situação excelente.
E o segundo ponto é justamente o ganho de eficiência que a combinação das companhias traz. Entendemos que rapidamente a companhia já deve começar a dar resultado.
Mobly faz acordo para comprar controle da Tok&Stok.
Reprodução/ Mobly / Tok&Stok
g1 – As marcas devem continuar independentes, certo? Como essa sinergia deve se traduzir para o consumidor?
As marcas seguem completamente independentes, e as lojas também. Ao mesmo tempo, tem muita sinergia que vai impactar positivamente o consumidor, mas que fortalece mais o que acontece por trás das companhias.
Para os nossos clientes, temos iniciativas focadas em disponibilizar produtos da Tok&Stok em mais canais on-line e marketplaces, por exemplo.
Além disso, vemos oportunidades de ter alguns produtos da Tok&Stok dentro das lojas da Mobly e vice-versa também, com produtos Mobly de mais alto padrão podendo ser disponibilizados nas lojas Tok&Stok.
A ideia é que o cliente tenha acesso a um catálogo, feito com curadoria e montado de acordo com o que faz sentido para ele, principalmente em questões relacionadas à logística e frete, trazendo mais opções para o cliente.
Ele terá opções que sejam mais baratas, mais rápidas e um portfólio maior de produtos.
Então, quando falamos em sinergia, o foco está no ganho de eficiência, em consolidarmos as operações logísticas de forma que ambas as companhias trabalhem de forma única, em capturarmos oportunidades com fornecedores, melhorando negociações e alavancando as expertises das duas empresas.
g1 – Há alguma previsão de quando o processo pode ser concluído?
É difícil controlar isso, mas temos uma expectativa do nosso lado. O que eu posso dizer é que, uma vez que tudo corra de forma normal e como a gente espera, o CADE deveria aprovar a transação em 45 dias e a recuperação extrajudicial deveria estar homologada entre 60 e 90 dias.
Então, a expectativa é que entre outubro e novembro já estejamos com o acordo selado e possamos começar a trabalhar para capturar resultados.
g1 – Como esses resultados devem vir?
Tem coisas que já são imediatas e outras que levam um pouco mais de tempo. Mas certamente já começaremos a ver resultado no D-0 [desde o primeiro dia].
O que não depende muito de tecnologia ou de grandes reestruturações, como conversar com fornecedores e já fazer ajustes de investimento em marketing, revisão de contratos e esse tipo de coisa, já teremos um ganho imediato.
Agora, situações que dependam da integração dos sistemas ou de mudanças na operação logística, leva um pouco mais de tempo. Tudo começa no primeiro dia, mas o resultado é escalonado.
g1 – Vocês já têm alguma projeção de crescimento?
Não podemos divulgar projeções, mas o que eu posso falar é que enxergamos uma retomada de crescimento neste ano.
Depois de um crescimento exponencial visto até o final da pandemia, em 2021, tivemos uma ressaca muito grande do mercado entre 2022 e 2023, tanto pelo aumento de juros como pela antecipação da demanda que vimos na pandemia. Mas temos trabalhado bastante para conseguir retomar em 2024.
g1 – Como acreditam que vão retomar esse crescimento?
O crescimento vem principalmente do nosso canal digital. Temos visto dentro do nosso portfólio algumas linhas de produtos próprios que estão se destacando e enxergamos que tem um grande espaço por aí.
Sem dúvida, fortalecer cada vez mais os produtos exclusivos e com diferenciais que fazem justamente o cliente procurar pela Mobly é uma tendência e um foco estratégico nosso.
g1 – Como você enxerga o mercado atualmente e o que podemos esperar da Mobly à frente? A empresa deve expandir para outras regiões?
Vemos que esse é um mercado cada vez mais competitivo, principalmente com o crescimento dos marketplaces. Tem muita gente, muito forte, que hoje em dia vende móveis pela internet.
Por outro lado, vemos diferencial muito grande das duas companhias. E especialmente agora, com a combinação em relação à qualidade e diferenciação dos produtos.
O digital é a estratégica “core” do nosso negócio e temos um posicionamento forte na indústria. E, combinados, conseguiremos trazer essa diferenciação em massa para o consumidor.
Agora, quando você fala em expansão, obviamente temos o intuito de cada vez mais expandir nossa presença nacionalmente. Já estamos no on-line, mas considerando as lojas físicas ainda somos muito concentrados em São Paulo.
Esse ano, nós fizemos o primeiro movimento para fora e abrimos uma loja em Belo Horizonte. Então, temos vontade de expandir e já olhamos Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba como locais com bom potencial.
Mas o momento de isso acontecer vai depender muito de como vai estar o mercado e de qual será a estratégia da empresa naquele momento.
Com a combinação dos negócios com a Tok&Stok, por exemplo, nosso foco passa mais a ser a captura das sinergias do que abrir lojas em outras regiões. Mas existem oportunidades e elas sempre serão analisadas.
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