Pesquisadores tailandeses tentam desvendar a ciência das compressas de ervas

O aroma do capim-limão fragrante se mistura com gengibre terroso e tamarindo ácido, pontuado pelo aroma forte e mentolado da cânfora. É um cheiro familiar para frequentadores de spa: uma compressa de ervas tailandesa tradicional. O tratamento combina ervas em um pano de algodão, que é enrolado em uma bola compacta e vaporizado por cerca de 10 minutos antes que o profissional o aplique no corpo, geralmente após uma massagem.

As compressas de ervas têm sido usadas há séculos para dores musculares, dores nas articulações e para reduzir inflamações. No entanto, não está claro quanto benefício vem das ervas: um artigo revisado de 2015 destacou que os efeitos estavam principalmente associados ao calor, que aumenta o fluxo sanguíneo e reduz a dor.

Embora a medicina à base de ervas seja uma indústria multibilionária prevalente em todo o mundo, práticas culturais, crenças e conhecimentos variados dificultaram sua padronização e regulamentação. De acordo com um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2018, quase metade dos estados-membros não tinha uma política nacional sobre medicina tradicional, e apenas 64% tinha regulamentações sobre medicamentos à base de ervas.

A OMS afirma que a falta de dados de pesquisa é uma das maiores barreiras para uma regulamentação eficaz.

Na Tailândia, o Centro de Excelência em Pesquisa de Medicina Tradicional Tailandesa Aplicada (CEATMR) da Universidade Thammasat em Pathum Thani visa fornecer pesquisas sobre as propriedades únicas das ervas usadas em compressas e tornar esse remédio ancestral mais acessível, diz Arunporn Itharat, diretora do centro.

Como em outros países do Sudeste Asiático, as terapias alternativas são populares na Tailândia, com pesquisas indicando que o uso de medicina herbal é comum entre a população, particularmente em áreas rurais. No entanto, há muito conhecimento tradicional que precisa ser cientificamente comprovado, diz Itharat.

“As ervas variam significativamente em suas propriedades, e essa variabilidade é um dos principais desafios que enfrentamos”, diz ela. “Precisamos validar o processo de extração para garantir consistência em todos os lotes.”

Outro problema é que “uma única erva pode ter muitas variedades diferentes”, diz Itharat, acrescentando que “a identificação incorreta é um grande problema na medicina herbal.”

Em 2020, sua pesquisa, publicada na revista revisada por pares Science & Technology Asia, descobriu que algumas ervas podem contribuir para a eficácia de uma compressa herbal. “Ao isolar e testar cada ingrediente, o estudo identifica componentes específicos que contribuem para o efeito anti-inflamatório geral”, diz Itharat.

O centro de pesquisa está aplicando conhecimentos tradicionais, como o momento da colheita das ervas, para tornar os extratos mais eficazes. Por exemplo, com o zingiber montanum, um tipo de gengibre conhecido como “plai” na Tailândia, “os anciãos sempre enfatizaram que as raízes devem ser coletadas no inverno, quando a planta murchou e seus compostos ativos se concentraram nas raízes”, diz Itharat.

Este tipo de conhecimento tradicional é frequentemente anedótico e não foi cientificamente testado — então o CEATMR está trabalhando para validá-lo e padronizá-lo. “Podemos desenvolver o extrato em um medicamento acabado, tornando-o mais conveniente de usar, e podemos controlar a qualidade”, diz Itharat.

Aplicações modernas

Estes extratos foram incorporados em produtos modernos como géis-emulsão e cremes, que são vendidos na farmácia de ervas do CEATMR na Universidade Thammasat.

Itharat também está explorando outros métodos inovadores de aplicação em sua pesquisa, como um adesivo de hidrogel refrescante, que as pesquisas indicam oferecer uma liberação mais controlada do extrato herbal em comparação com óleos e cremes, e uma compressa herbal elétrica, em colaboração com a Agência Nacional de Desenvolvimento de Ciência e Tecnologia da Tailândia e o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica e Computacional.

Uma compressa condutora de calor em forma de bola é fixada a um cabo longo com uma bateria dentro. Em vez de ter ervas envoltas na compressa, um gel contendo extratos herbais concentrados é aplicado na pele e massageado pela compressa elétrica. “Normalmente, as compressas precisam ser vaporizadas e substituídas repetidamente, mas nossa compressa elétrica pode permanecer por até oito horas”, diz Itharat.

Aplicar o gel herbal diretamente na pele oferece maior eficácia do que através de um pano de algodão, além de uma dosagem padronizada e controlada do ingrediente ativo, diz Itharat. A compressa elétrica ainda está em desenvolvimento, enquanto a equipe tenta reduzir o tamanho do cabo em seu protótipo para torná-lo menor e mais fácil de carregar.

Indústria em crescimento

A Tailândia é um dos poucos países que investiu fortemente em pesquisa e legislação de medicina tradicional. Em 2021, a Universidade Thammasat começou a oferecer o Programa de Mestrado em Clínica de Medicina Tradicional Tailandesa, o primeiro currículo do país que integra medicina tradicional e moderna.

O interesse científico em terapias tradicionais e os efeitos da medicina fitoterápica estão crescendo em outros lugares também: uma revisão literária de 2020 notou um aumento acentuado nas publicações sobre plantas medicinais globalmente desde 2001, com cerca de 5.000 publicações por ano na última década.

China e Índia, cada uma com seus próprios sistemas distintivos de medicina tradicional, têm liderado pesquisas na área, incluindo trabalhos para padronizar o conhecimento fitoterápico. Por exemplo, pesquisadores na China e Taiwan construíram várias bases de dados para a Medicina Tradicional Chinesa (MTC), reunindo informações sobre milhares de ervas e suas doenças associadas, similaridade com medicamentos e interações.

No entanto, ainda existe uma enorme lacuna nas informações disponíveis: ,ais de 50.000 espécies de plantas são usadas para fins medicinais em todo o mundo, e há uma limitada sobreposição entre bases de dados de diferentes países. Os nomes das plantas também frequentemente não são padronizados, o que pode levar a ambiguidades sobre qual erva está sendo discutida, arriscando tratamentos ineficazes ou até envenenamento.

Itharat espera ver mais conhecimentos tradicionais validados e introduzidos como terapias complementares para ajudar pacientes a se curarem e se recuperarem mais rapidamente.

“A humanidade tem contado com a natureza para medicamentos há milhares de anos, então a conexão entre natureza e saúde humana é inegável”, diz Itharat. “O desafio é tornar esse conhecimento tradicional mais acessível, preservando-o para futuras gerações e compartilhando-o globalmente”, acrescenta.

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Este conteúdo foi originalmente publicado em Pesquisadores tailandeses tentam desvendar a ciência das compressas de ervas no site CNN Brasil.

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