Coletivo Duo: Salvador traz para Curitiba um conto sobre memória

Coletivo Duo: Salvador traz para Curitiba um conto sobre memória

Diretamente de Salvador e comemorando 15 anos de trajetória, o Coletivo Duo estreou nesta sexta-feira (04) a peça “O Avô e o Rio“, no teatro Novelas Curitibanas, como parte da mostra Fringe do Festival de Curitiba 2025. A estreia também marca a primeira apresentação do coletivo na capital e o primeiro solo do ator Israel Barreto, sob a direção de Roquildes Junior.

A peça relata a relação de um neto e seu avô, sua única figura familiar, que o acompanha em sua missão de aterrar um rio. “O neto, sempre muito saudoso, sente a dor de não ter conhecido seus pais, mas sempre idolatrando o avô” , conta o Israel. O neto o recorda com muito
carinho – “Eu amava, eu amava esse avô meu” – mesmo sendo distantes no âmbito do afeto, nunca faltou a cumplicidade, sempre demonstrando orgulho para com o neto.

A narrativa acompanha o fluxo das marés. Nada muito linear, nada muito fixo. Assim como a memória: voltando, sumindo, reaparecendo. A peça convida o público a imaginar, utilizando todos os seus sentidos, mais do que apenas ver com os olhos. O espetáculo marcado por lembranças, emoções e metáforas, inspirada no conto de Aleilton Fonseca de mesmo nome, emocionou a plateia que ao final foi aplaudida de pé.

Os desafios estão sempre presentes na trama, hora com as enchentes que sempre atingem o trabalho árduo dos dois para aterrar o rio, hora com as perdas e questionamentos que o menino tem durante toda sua vida, de quem são seus pais, de como o avô é fechado e não responde, mas ao mesmo tempo ele ensina com gestos, rotina, o cuidado que não precisa de palavras.

Israel conta que foi por sugestão de um amigo que acabou se envolvendo no projeto. Ele leu o texto e se aventurou na missão mesmo sendo sua primeira vez como solista. Relatou ainda que a experiência foi profundamente sentimental, pois Israel também não conviveu com seu pai e seus dois avôs, e que esta falta muitas vezes o fragilizava. Mas, com o passar do tempo, foi superando essas barreiras, aprendendo muito com esta produção. 

O cenário e o figurino contribuem muito para a identificação de onde a história de passa, o ambiente ribeirinho, com paletes de madeira que servem hora a outra como casa, a terra onde eles aterram o rio e onde o artista conta a história pela visão do neto, juntamente há elementos que fazem parte da narrativa, o chapéu cata-ovo do avô, a moringa de barro, uma laranja, sacos de areia que compõe todo o enredo e que são sempre utilizados em situações diferentes. 

A iluminação, juntamente a trilha sonora, molda a apresentação trazendo emoção e imersão ao público que assiste, com luzes quentes que lembram o interior, alternando com luzes verdes e azuis para remeter a água, elemento essencial da encenação. “O rio é uma passagem”, descreve Israel.” Ele leva e transforma, tantos as coisas boas quantos as não tão boas assim.”

“O Avô e o Rio” aborda as lembranças mais íntimas, sobre aqueles que já se foram, sobre os percalços da infância, sobre sentimentos profundos e, sobretudo, sobre a arte que cumpre seu papel quando toca na memória de quem a assiste.

Colaboração: aluna Universidade Positivo Isabelle Borges, com supervisão dos professores

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